O Fantasma do Lheman Brothers ronda a Europa: séria crise do Deutsche Bank

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Por Paulo Aguena, de São Paulo, SP

Depois de uma série de quedas, no dia 30 de setembro, as ações do Deutsche Bank, o maior banco alemão, após uma séria queda terminou subindo 6,4% no fechamento da bolsa de Frankfurt. O valor de seus papeis chegou a bater pela primeira vez a marca de 10 euros voltando finalmente a subir a 11,57. A oscilação afetou várias bolsas pelo mundo – o Ibovespa fechou em queda de 1,7% e o Dow Jones 1%. Na segunda, 3 de outubro, novas oscilações ocorreram. Embora a bolsa de Frankfurt estivesse fechada devido feriado, em Wall Street houve nova queda.

As oscilações se devem a uma multa que o Departamento de Justiça dos EUA demanda contra o Deutsche por manipulação fraudulenta de derivativos hipotecários na crise do subprime no mercado americano entre os anos 2005 e 2007. O valor da multa seria em torno de 14 bilhões de dólares, enquanto a reserva do banco para pagar a multa seria de apenas 6,1 bilhão de dólares. O valor das ações voltou a subir após um possível acordo em que o valor da multa cairia para 5,4 bilhões de dólares.

De toda forma existem muitas dúvidas entre os investidores se o banco teria capacidade para honrar seus compromissos. O episodio trouxe a baila a discussão de que se não estaria colocado na ordem do dia um resgate do Deutsche por parte do governo de Merkel.

O Deutsche está acossado por prejuízos, créditos podres e, agora, por mais essa multa. Em princípio de agosto já havia recebido uma multa também nos EUA de 12,5 milhões de dólares por filtrar de maneira ilegal informação confidencial sobre os mercados. Desde o início do ano o Deutsche perdeu 51% do valor de mercado e 93% em relação a 2007. Vários dos grandes fundos estão retirando suas aplicações. Analistas avaliam que só uma intervenção substancial do governo poderia salvá-lo do colapso.

Angela Merkel que em nome das normas da zona do Euro em julho vetou a pretensão de Matteo Renzi, primeiro ministro da Itália, de resgatar os bancos italianos que também se encontram numa séria crise, agora enfrenta o mesmo dilema.

O caso da itália

O caso da Itália é sintomático e mostra a grave situação do sistema bancário europeu. O Monte dei Paschi de Siene é o banco mais antigo do mundo. Esse banco do século 15 – que é a terceira maior instituição financeira do país – em julho, viu o Banco Central Europeu lhe ordenar que reduzisse a proporção de dívidas que mantém em seus livros contábeis.

O problema, entretanto, não afeta somente esse banco símbolo. Embora a ações do Monte dei Paschi, desde o início do ano até julho tenham caído mais de 75%, a queda afeta todo o setor. O fraco desempenho da economia italiana – o PIB do país é 8% menor do que quando teve início a crise financeira internacional – aumenta a possibilidade de que empresas em dificuldades atrasem o pagamento de empréstimos. O resultado é que os bancos italianos estão tendo de lidar com dívidas difíceis de serem cobradas, em um valor equivalente a US$ 398 bilhões (R$ quase 1,3 trilhões) – cerca de um quinto de toda a atividade econômica anual do país.

O temor é que a quebra de um dos grandes bancos italianos desate uma crise financeira mais ampla. Foi isso que levou o governo italiano cogitasse um resgate financeiro às instituições com problemas.

O fantasma do Lehman Brothers ronda a EU

As regras da União Europeia, criadas durante a crise financeira, determinam que os credores de um banco, especialmente os que detêm títulos, assumam as perdas antes de os contribuintes entrarem na jogada. Entretanto, no caso da Itália, muitos dos títulos pertencem a investidores particulares. Seguir as regras da União Europeia e impor perdas a esse grupo seria uma medida impopular. Por isso Matteo Renzi está sob pressão dos opositores da União Europeia para driblar as regras do bloco e injetar fundos públicos diretamente nos bancos. Em julho, Angela Merkel se opôs firmemente a essa decisão. Ela afirmou que as regras não podem ser flexibilizadas caso a caso. Mas agora é a própria Merkel que está em apuros.

Até o momento o governo alemão tem resistido às pressões que vem sofrendo do mercado. No domingo, 02 de outubro, o ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, acusou o Deutsche Bank de jogar a culpa por sua crise em especuladores. Disse que foi próprio banco que promoveu um modelo de negócios baseado na especulação: “Eu não sei se eu deveria rir ou chorar pelo fato de um banco que fez da especulação um modelo de negócio agora dizer que é uma vítima de especuladores”, disse Gabriel a jornalistas em um voo para o Irã, que ele visitará junto a uma comitiva de negócios. Ele adicionou que está preocupado com o futuro dos empregados do banco. Vale dizer que o Deutsche emprega 100 mil funcionários e já apresentou uma lista de demissões de 9.600 funcionários. Conclusão: a situação financeira do banco é realmente grave e a possibilidade de resgate não foi somente uma especulação.

Embora oficialmente um resgate esteja fora de cogitação, o fato é que Merkel enfrenta um dilema ainda mais grave que o de Matteo Renzi. Caso decida pelo regaste pode ser o fim de seu governo. A derrota eleitoral que ela sofreu nas últimas eleições indica isso claramente. Mas permitir a falência do Deutsche trará de volta com toda força a crise de 2008 não só para a Europa, mas a nível mundial. Basta ver que o Deutsche Bank maneja o triplo dos ativos (1,8 trilhão de euros) e o dobro dos derivativos (60 trilhões, 13% do mercado mundial) do Lehman Brothers.

Fontes:

http://www.efe.com/efe/portugal/economia/deutsche-bank-cai-mais-de-6-em-bolsa-devido-a-rumores-que-n-o-vai-receber-ajuda-estatal/50000443-3050800

http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2016/09/acoes-do-deutsche-bank-caem-minima-recorde-apos-multa-bilionaria.html

http://www.efe.com/efe/portugal/economia/a-es-do-deutsche-bank-caem-8-em-frankfurt/50000443-3055194

http://www.efe.com/efe/portugal/economia/a-es-do-deutsche-bank-caem-8-em-frankfurt/50000443-3055194

http://www.clarin.com/mundo/Deutsche-Bank-resucita-colapso-financiero_0_1660633927.html

http://www.ieco.clarin.com/derrumbaron-Deutsche-Bank-Bolsas-Europa_0_1660034010.html

http://economia.estadao.com.br/noticias/mercados,eua-cobram-us-14-bi-do-deutsche-bank-para-encerrar-caso-sobre-hipotecas,10000076336

https://www.publico.pt/economia/noticia/nao-sei-se-ria-ou-se-chore-diz-vice-de-merkel-sobre-o-ceo-do-deutsche-bank-1745975

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-36780547