Por: Lucas Souza, de Macaé, RJ
A manobra parlamentar orquestrada pelo que há de mais reacionário no Congresso brasileiro foi um verdadeiro ataque aos trabalhadores e movimentos sociais. O ajuste fiscal, a reforma trabalhista em curso, a proposta de reforma da educação, entre outras medidas, dizem bem a que veio Michel Temer (PMDB). No mês de setembro, manifestações em repúdio ao governo ilegítimo tomaram as ruas de várias cidades do país. No dia 7 de setembro, o tradicional grito dos excluídos ganhou dimensões bem maiores em Macaé, no Norte Fluminense. Foi bem mais colorido, de raça e feminino. Para além da unidade de ação com todos dispostos à lutar unificados pelo Fora Temer naquele momento, uma outra necessidade se demonstrou, a de unificar a esquerda, aqueles que acreditam ser necessário construir uma alternativa de superação do petismo e seu projeto de conciliação de classe.
Em Macaé e Rio das Ostras, como no resto do país, as consequências do projeto de governar com a burguesia se demonstram com tons dramáticos a cada dia. Nos períodos de crescimento, enquanto era alimentado o sentimento do aumento do consumo dos trabalhadores, a estrutura desigual e a miséria do petróleo já eram nítidas. Os maiores bairros de Macaé, por exemplo, até hoje não possuem sequer saneamento básico. Com a crise, há um aumento do desemprego e da violência.
A submissão do PT a um projeto de conciliação com os patrões não é diferente, nem menor em Macaé do que no resto do Brasil. Mais uma vez se aliou com um partido da direita, o PRB. Partido este que votou a favor do golpe institucional. A frente eleitoral que poderia ter se dado entre PSTU e PSOL, que poderia ter apresentado um projeto à esquerda do lulismo, infelizmente não aconteceu. Essa frente, se ocorresse, poderia ter patrocinado esse projeto de frente única para além das próprias eleições. Há que se reconhecer, porém, que os setores da esquerda radical são ainda pequenos. É necessário termos a humildade na avaliação de nossas debilidades, se queremos avançar. Nenhuma organização da esquerda socialista em Macaé e Rio das Ostras são capazes hoje, de ofertar sozinhas, um projeto capaz de atrair a classe trabalhadora e a juventude para um campo de independência de classe.
Sabemos que existem as mais diferentes posições políticas, muitas sobre o impeachment, é verdade, porém a unidade da esquerda socialista é urgente, e deve se dar a partir do que as unem. Hierarquizar nossa palavra de ordem pelo Fora Temer e a luta contra os ataques para a classe trabalhadora e a juventude está na ordem do dia. Nesse sentido, achamos equivocada a posição do PSTU em condicionar a unidade a partir do eixo de “Fora todos eles”. Acreditamos que os companheiros cometem um grave erro ao se recusar em participar e promover qualquer unidade com essas organizações à esquerda do petismo. O próprio chamado que o PSTU fez para que os companheiros do PSOL apoiassem suas candidaturas, após a perseguição às candidaturas do PSOL Macaé, demonstra que os companheiros por instinto sabem que o nosso lugar é comumente construindo essa Frente de Esquerda nas lutas.
Do mesmo modo, discordamos da posição que é quase unânime no PSOL Macaé de ofertar unicamente como saída política unitária no movimento a “Frente do Povo Sem Medo”. A Frente Povo sem Medo é uma frente entre setores que estavam na base de sustentação do petismo e até o próprio PT a partir das organizações que dirige. Por sua própria composição, é incapaz de apresentar uma saída política que vá além dos muros da colaboração de classes. Uma coisa é a mais ampla unidade no movimento e nos atos, a qual nós somos a favor. A outra é um projeto político comum com o petismo.
Nos dias seguintes ao surgimento dessa Frente, não faltaram momentos em que suas principais lideranças se furtaram a fazer qualquer crítica ao governo deposto antes mesmo de se consumar o impedimento de Dilma. Enquanto era ela própria quem atacava os trabalhadores para destinar mais dinheiro para os banqueiros e latifundiários. CTB e CUT se negam a construir uma proposta de paralisação nacional unificada e que envolva pela base a maior parte das centrais sindicais. UNE e UBES cumprem um papel lamentável dentro do movimento estudantil organizado.
Junto a isso, a não confiança em suas próprias forças, a desmoralização e a paralisia, frutos do projeto petista, são as consequências mais nefastas para os trabalhadores. O aumento das dificuldades de mobilização que encontramos na militância cotidiana em nossas cidades, com exceções nos picos nacionais de lutas como em 2013 contra as tarifas de transporte e 2016, com as ocupações de escolas e o Fora Temer, nos faz acreditar que um polo permanente de luta, que possa dar dinâmica aos ativistas, se faz ainda mais necessário.
Em Macaé e Rio das Ostras é necessária uma frente de esquerda e com independência política. Exemplos nós já temos, a Frente de Esquerda Socialista no Rio de Janeiro e o Bloco de lutas em São Paulo nos mostram o caminho. Devemos construir a mais ampla unidade das organizações e movimentos sociais de esquerda, bem como as entidades e coletivos estudantis e sindicais. E mais que isso, uma frente de esquerda que aponte para um horizonte de transformação social é uma necessidade não só das organizações, mas primeiramente e acima de tudo, dos trabalhadores e trabalhadoras e de toda a juventude, em especial os negros e negras, as LGBTTs e as Mulheres.
PSOL, PSTU e nós, que militamos pelo MAIS em Macaé, temos a tarefa de construir um polo de lutadores e lutadoras, que busque superar os erros cometidos durante os últimos 13 anos pelos governos petistas de Lula e Dilma, que não se furte a fazer o balanço do projeto do PT de comprometimento com o calendário eleitoral e com a governabilidade, que não aposte suas fichas na conciliação de classes e ao mesmo tempo possa resgatar a independência de classe: essa é a tarefa.
Foto: Pontos Turísticos Macaé
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