Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

MP do Ensino Médio: que os cientistas sociais voltem a ser perigosos

Brasília- DF 16-06-2016 Presidente interino, Michel Temer e o ministro da educação, Mendonça filho anunciando prorrogação do FIES. Foto Lula Marques/Agência PT

Por: Juliana Bimbi, de Porto Alegre, RS

Muitos jovens estudantes quando ingressam na faculdade de Ciências Sociais vêem seus sonhos e os de muitos colegas sendo rapidamente desmanchados. A vontade de acumular e produzir um conhecimento que sirva para a transformação e instrumento de luta é constantemente desestimulada dentro da universidade, seja pelos próprios docentes, ou pela bibliografia que, muitas vezes, não dialoga com a realidade material da juventude. Já nas primeiras disciplinas que cursamos na universidade, ouvimos de nossos professores que o conhecimento que adquirimos e produzimos dentro daquele espaço não se propõe e não deve ser usado para militância política e, consequentemente, para a mudança permanente da sociedade. Essa linha de pensamento dentro das Ciências Sociais tem uma reflexão direta na realidade dos estudantes e da articulação dentro e fora das estruturas do curso. Os alunos frequentemente são marcados por desilusão, desmotivação e falta de confiança na mobilização, o que dificulta fortemente a organização dos mesmos.

É normal que nos questionemos sobre para que serve a produção intelectual que não passa dos muros da universidade, espaço onde tão poucos conseguem ingressar e deixa a maioria da juventude negra e trabalhadora de fora. As ciências humanas são, cada vez mais, cortadas do cotidiano da população pobre, seja pela restrição do acesso à universidade, ou pela desvalorização cada vez mais profunda no ensino básico. O ensino de sociologia e filosofia recém havia conquistado um local obrigatório no Ensino Médio, mas não deram tempo de nos deixar sonhar. A MP do ensino médio vem junto com o novo governo e os novos ataques para barrar, entre outros, as ciências humanas na vida da juventude secundarista que, agora, após saírem fortalecidos de um processo de transformação das escolas em espaços de luta e questionamento, são os que mais precisariam do apoio e força que a sociologia e a filosofia dão.

A retirada da obrigatoriedade do ensino dessas disciplinas foi pautada por uma Medida Provisória, que supostamente só é permitida em casos de extrema relevância e urgência do assunto. A pressa do Governo Federal nessa ação nos causa, no mínimo, estranhamento. Por que é tão urgente para o governo que nossos jovens parem de pensar? Não se trata, apenas, de uma desvalorização das ciências humanas porque elas não servem ao mercado de trabalho que o sistema precisa – o que já vinha sendo implementado no sistema educacional – mas vai para além disso. O Estado não pode mais sustentar as ciências humanas, o seu potencial questionador e revolucionário faz tremer àqueles que têm medo da força da juventude, que se demonstrou forte e organizada quando ocupou suas próprias escolas por mais direitos e por mais educação. O medo que a sociologia causa à burguesia deve ser incorporado e servir para nós, futuros cientistas sociais e professores. Se causamos temor, é porque somos perigosos. E se somos perigosos, vamos à luta.

Foto: Lula Marques/ AGPT

Marcado como:
educação