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Diário de uma campanha diferente

Por: Baiano, metalúrgico de Contagem, MG

No domingo encerraram-se as eleições municipais de 2016. Esse ano tive a honra de participar da campanha da vereadora Professora Amanda Gurgel, em Natal. Participei por aproximadamente vinte e cinco dias de campanha. Alguns companheiros participaram por mais de quarenta e cinco dias de campanha, outros bem menos. Mas, creio que todos conviveram com vários acontecimentos como o que vivi.

Foram dias de muita dedicação, esforços físicos, psicológicos e financeiros, disputa política, cumplicidade e muito aprendizado.

Em vários dias tínhamos que acordar às 4h30 para se aprontar e estar nos pontos de campanha já cedo. Nas panfletagens na fábrica de Guararapes (que não participei) alguns companheiros acordavam às 3h da manhã. E tinham alguns dias que tínhamos atividades até depois das 20h. Em muitos desses dias, depois das atividades, tomamos aquela cervejinha pra relaxar um pouco o corpo e a mente antes de dormir.

Passamos horas e horas panfletando, agitando bandeira, falando em megafone e carro de som. Mas, não era só isso. Foi um momento de diálogo com mulheres, negros, juventude, LGBTs, todos os trabalhadores e povo em geral. Nós fazíamos discussões sobre quase todos os problemas sentidos pelos trabalhadores e setores oprimidos. Isso só foi possível porque o mandato de Amanda Gurgel foi a expressão de todos os setores de trabalhadores na Câmara. Seja na defesa em pronunciamentos, em projetos e emendas, ou mesmo através dotações do mandato.

Era uma disputa muito grande, porque sentimos um rechaço muito grande perante a política e os políticos, com toda a razão, já que a grande maioria realmente está na política pelos privilégios e pela corrupção. Além disso, existia uma ofensiva brutal da direita e dos conservadores que se utilizavam de mentiras e calúnias para ganhar os votos de Amanda e para impedir que ela fosse reeleita, já que ela, por defender os interesses dos trabalhadores e do povo, representava uma ameaça aos seus privilégios e interesses escusos. E para isso eles tinham as grandes mídias e muito dinheiro. Era comum ver nas ruas discursos prontos e ataques ofensivos à Amanda. A maioria deles sem fundamento.

Mas, era muito bom quando essa indignação vinha de pessoas honestas e abertas ao diálogo. Essas não resistiam a duas ou três frases e já passavam a refletir sobre o papel de Amanda na Câmara. Era só falar que ela aprovou que pelo menos 30% da arrecadação do município fosse para a educação, aprovou a instalação de ar-condicionado nas escolas municipais, o Passe Livre para os estudantes da rede municipal de Natal – e que o projeto inicial era para todos os estudantes e sem restrições de viagens, que propôs a ampliação das creches e a criação de casas para abrigar mulheres vítimas de violência. Eram muitos projetos para falar, afinal ela propôs trinta e dois projetos de lei e mais de duzentas emendas. Mas, bastava falar que ela tinha apresentado o projeto para que o vereador receba o mesmo salário que um professor que as pessoas já começavam a refletir e pensar que ela poderia ser diferente, quando não declaravam imediatamente o apoio e o voto.

Foram momentos muito intensos e difíceis por causa dos problemas que enfrentam aqueles que não se vendem, não recebem dinheiro de empresas e dos ricos e por isso têm poucos recursos para campanha. As dificuldades geravam stress, discussões, problemas de convivência, mas o objetivo comum e nossas bases programáticas puderam superar e enfrentar as adversidades para conseguirmos fazer uma bela campanha eleitoral.

Não sou hipócrita, muito menos populista. Por isso, na minha opinião, foi uma derrota e é muito triste saber que a partir de janeiro não teremos mais o mandato de Amanda Gurgel. Minhas lágrimas não vieram domingo, porque tive que dar força e demonstrar firmeza para os camaradas, mas hoje elas são impossíveis de serem evitadas. As lágrimas são por entender o quanto seria importante a reeleição de Amanda Gurgel, mas elas não significam o fim, e nem que não fizemos o que era correto, até porque, fizemos tudo que estava ao nosso alcance e tudo que era possível ser feito e sem abrir mão do que achamos mais importante, a nossa independência financeira e programática.

Durante a eleição defendemos um programa para os trabalhadores e setores oprimidos. Denunciamos o atual prefeito por obrigar a pessoa com cargos temporários a participar de atividades de campanha, mesmo com ele tendo uma popularidade enorme, que culminou na sua eleição em primeiro turno. No meio da campanha Amanda Gurgel foi a primeira vereadora a entregar o título de cidadã natalense a uma travesti, Jacqueline Brazil, algo muito importante para nós, mas ainda um tabu para a maioria da sociedade. Por termos defendido e divulgado o nosso programa, não termos nos deixado seduzir pelos privilégios e pressões de um mandato, por termos feito uma campanha independente financeiramente é que nossa dedicação não foi em vão, e nesse sentido tivemos uma campanha vitoriosa.

Foi uma experiência incrível, por ter a possibilidade de levar o que defendemos para tantas pessoas, ter conhecido novos camaradas, ter reencontrado e voltado a militar com vários outros, por ter construído novas amizades. A militância cotidiana ombro a ombro constrói e faz avançar melhores relações entre as pessoas, e isso nos torna mais humanos.

Por fim, em uma conversa com Amanda ela me disse que estava preocupada com tanta gente que estava se dedicando tanto e que poderia ser que no final ela não se elegesse. Amanda, o que não nos destrói, nos fortalece, nós do #MAIS, apoiadores e todos que te apoiaram, ou melhor, que apoiam o programa que você expressou através do mandato e da candidatura nestas eleições, não nos dedicamos simplesmente a um mandato e sim por algo muito maior, que é o fim da exploração, opressão e das mazelas da sociedade capitalista. Nesse objetivo sofremos derrotas, mas elas ainda não nos destruíram, pelo contrário, a indignação da derrota nos dá mais força para erguer a cabeça e continuarmos no sonho por um mundo melhor, um mundo sem desigualdade, um mundo socialista.