Pular para o conteúdo

Resultado eleitoral em Itanhaém reafirma um velho estigma: a cidade do coronelismo

Por: Leandro Olimpio, de Santos, SP

Seguindo o cenário nacional de fortalecimento da direita nas urnas, a eleição em Itanhaém reafirma um antigo estigma da segunda cidade mais antiga do país, localizada no litoral sul de São Paulo: o de berço do coronelismo.

O atual prefeito, Marco Aurélio Gomes (PSDB), foi reeleito com larga vantagem sobre o segundo colocado, o candidato do PSB Marcelo Strama. No total, o tucano recebeu 35.515 votos (76,02%) contra 9.628 votos (20,61%) de Strama.

O resultado não é uma surpresa para a população. A larga vantagem obtida sim, afinal em 2012 a eleição foi uma das mais apertadas da história. Quatro anos atrás, Marco Aurélio teve 22.013 votos e Marcelo Strama 21.040.

Nesses quatro anos de mandato, Marco Aurélio soube usar com habilidade a máquina pública. Nem tanto para melhorias ao conjunto da população (é conhecido mais por obras na orla da praia do que nos bairros pobres), mas muito pela articulação política com os demais partidos e lideranças da cidade.

Lideranças políticas de oposição na cidade relatam que muitos dos antigos aliados de Strama passaram para o bloco tucano, sobretudo através de distribuição de cargos comissionados e outras vantagens.

De fato, o prefeito reeleito conseguiu aglutinar muitos partidos. A coligação encabeçada pelo PSDB teve sob seu controle mais 16 partidos. Na eleição passada, a coligação encabeçada por ele tinha apenas 8 partidos, incluindo o PSDB. Ou seja, o crescimento foi de 100%. Já Strama, que teve 11 partidos em sua coligação quatro anos atrás, se apresentou neste ano com apenas quatro partidos aliados ao PSB, cabeça de chapa.

No entanto, é na Câmara de Vereadores que o resultado demonstra de maneira mais contundente o fortalecimento do atual prefeito. Os únicos dois vereadores de oposição na atual legislatura não conseguiram, diante do coeficiente eleitoral, se reeleger. Conrado Carrasco (Rede), que era do PT, e Cesinha, do PP, formavam a dupla responsável por votar contra boa parte das propostas do Executivo que eram aprovadas em bloco pelos demais vereadores. Eram também os únicos a apontar medidas do prefeito que afetavam negativamente a população. Os demais, sem constrangimento, cumpriram o papel de correias de transmissão dos interesses do Executivo.

Isolados, encontraram muitas dificuldades para aprovar projetos de lei e outras medidas de suas autorias. Dentro dos limites de uma Câmara controlada pelos aliados de Marco Aurélio, conseguiam causar incômodo, seja na fiscalização, seja na denúncia de medidas antidemocráticas como a votação secreta de temas de interesse dos munícipes.

Agora, os 10 vereadores eleitos são da base de apoio do prefeito. Não é preciso muita imaginação para vislumbrar quatro anos de mandato sem nenhum empecilho para aprovar os projetos de seu interesse – sejam eles favoráveis à população, sejam eles contrários ao interesse público e da maior parte da população. Um governo sem oposição é um dos cenários mais temerários em qualquer instância de poder.

Nos últimos anos, de fato, nunca fez tanto sentido a alcunha de cidade de coronéis, onde o poder é compartilhado pelas famílias de sangue azul, com “sobrenome bom”.