Só Freixo pode expulsar Pedro Paulo do Rio

Por: Carol Burgos*, do Rio de Janeiro, RJ

É amanhã. Milhares de cariocas irão às urnas para escolher o próximo prefeito do Rio de Janeiro. Queremos discutir com todos a importância de mudar a cidade, que nos últimos anos vem sendo governada distante dos verdadeiros interesses da população, mas para uma minoria de ricos e poderosos. E, por isso, em uma série de artigos já falamos sobre o que significa, para nós, derrotar Bolsonaros, Crivelas, Índios da Costa e até por que não basta apenas ser mulher para defender os interesses das mulheres. Agora, precisamos discutir o que significa derrotar Pedro Paulo e o “mundo fantástico dos contos de fada” do PMDB. E o que isso influencia, para além dos cariocas, na política nacional de retrocessos e ataques à juventude e aos trabalhadores e no projeto que os poderosos do mundo possuem para o Rio, de cidade mercadoria voltada para o lucro.

Olhando para o Rio e a gestão Eduardo Paes, os motivos não são poucos. Quem vê a capital fluminense pode até pensar: “poxa, mas temos o Porto Maravilha, mas sediamos as Olimpíadas e uma Copa do Mundo, estivemos nos holofotes da mídia internacional”. É verdade. No entanto, os milhões investidos nos últimos anos na cidade escondem uma lógica de governo voltada exclusivamente para o favorecimento a empreiteiras, para a exclusão da favela do grande centro, a tentativa de higienização social, a corrupção, o descaso com o que é público. O carioca de verdade sabe, porque sente na pele o que é o favorecimento às Organizações Sociais na saúde, aos Baratas e outros poucos no transporte, às OAS, Odebrecht e tantas outras envolvidas nos esquemas da Lava Jato, às demolidoras que destruíram a Vila Autódromo e o sonho de tantas famílias de ter um lar digno.

Saúde, educação e transporte não importam: projeto do PMDB privilegia ricos


O carioca sabe o que significa não ter médico nas clínicas da família, a falta de equipe de saúde multiprofissional, a demora para marcar uma consulta, enquanto o governo gastou R$150 milhões em propaganda com famílias Marinho e afins.

Sabe o que é não poder pagar pela passagem mais cara do país, ter que pegar ônibus, metrô, ou trem sem integração. Sabe o que é ver os jovens da favela impedidos de ir à Zona Sul, pois são tratados como criminosos na primeira barreira policial. Ver as Linhas dos ônibus modificadas para tirar o preto favelado da Zona Sul, do Centro e da Barra, por ser tratado pela gestão Eduardo Paes como “um problema e ameaça”. Sabe o que foi ver inaugurada a Linha 4 do metrô antes mesmo de ser inaugurada a Linha 3 que já tem itinerário para favorecer empreiteiras, pois o interesse era com os turistas que aqui vinham no circuito Olimpíada. Sabe o que é morar na Zona Norte, ou Zona Oeste e ter que se deslocar até o Centro. Sabe que as tarifas foram aumentadas com justificativa de colocar ar-condicionado, o que nunca foi cumprido, enquanto os empresários de ônibus garantiram lucro de mais R$ 1 bilhão e 560 milhões e fazem o que querem.

Lembra que destruíram sonhos como da Dona Penha da Vila Autódromo, ou tentaram apagar nossa história com a remoção da Aldeia Maracanã. Sabe que os megaeventos enriqueceram alguns poucos. Que geraram empregos temporários, mas que houve uma grande massa de demissões em seguida, pelo menos 60 mil e sem nenhum compromisso por parte das empresas que tanto lucraram nesse período em cima desse suor. Sabe a situação do plano de previdência do servidor.

O carioca tem memória e lembra de como foram tratados os educadores, que além de serem massacrados dia a dia, recebem spray de pimenta e balas de borracha apenas por reivindicar direitos e ainda têm salário descontado indevidamente. Sabe o que é ter escolas sem banheiro, sem estrutura. Que a promessa de Escola do Amanhã parece piada diante do que a gestão do PMDB deixou a escola de hoje. Sabe que pelo menos 42 mil crianças se encontram sem vaga em creches e muitas mulheres deixam de trabalhar porque não têm onde deixar os filhos.

Lembra dos garis, que em uma linda greve fizeram do lixo acumulado nas ruas símbolo de resistência, quando Pedro Paulo era chefe da Casa Civil. A categoria, uma das profissões mais desvalorizadas, mas, ao mesmo tempo, mais essenciais à vida cotidiana da cidade, foi chamada por Eduardo Paes de “marginais e delinquentes”.

Sabe como são tratados os camelôs e os moradores em situação de rua. Sabe qual a principal função endereçada hoje à Guarda Municipal: reprimir trabalhador. Sabe que pretendem privatizar a Cedae.

Sabe que Pedro Paulo é um agressor de mulheres. Que, apesar de tentar hoje negar, já admitiu ter espancado a ex-companheira. Isso por si só já seria suficiente para dizer: “O Rio não quer quem bate em mulher”.

Tudo isso foi escutado nos debates de TV, nos programas eleitorais. O carioca ouviu bastante da boca dos candidatos que já estiveram juntos ao PMDB que o Projeto Pedro Paulo é o mundo fantástico irreal e falido. Tudo isso é verdade, mas o problema é que estes buscam alternativas que representam continuidade. Porque o que não dizem é que toda essa realidade só existe mediante uma lógica, do lucro e da ganância. Isso nenhum desses são capazes de enfrentar.

Cidade voltada para interesses internacionais

A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como uma das cidades modelo a nível mundial. A Copa e a Olimpíada não são a toa. Fazem parte da lógica do que foi o plano de estruturação no modelo Barcelona, com todo o plano urbanístico voltado para atender aos ricos do mundo, com uma paisagem espetacular, grandes hotéis, locais turísticos e uma infraestrutura voltada para os pólos de luxo. Imaginemos um grande burguês alemão que pode estar de passagem a negócio, de um país a outro, e passa pelo Rio para dar uma descansada. Para isso, aeroportos, rede hoteleira, restaurantes, prédios de luxo precisam estar adequados. Enquanto isso, os verdadeiros moradores são excluídos dos centros e todo o investimento público se confunde com o interesse privado. São as cidades-mercadoria.

Para eles, não interessa se os servidores estão sem receber, se não há saúde e educação dignas. Não interessa se nossos jovens negros estão morrendo todos os dias com a guerra aos pobres. Não interessa se uma linha de ônibus, ou itinerário do metrô, não atende à população. O que interessa é a farra com dinheiro público, é o enriquecimento de alguns.

Esse projeto precisa ser imediatamente interrompido, ou vai significar ainda mais exclusão, ainda mais mortes, ainda mais retirada do direito à cidade aos pobres. 

PMDB no Rio fortalece projeto golpista de ataques no país

Além disso, o projeto do PMDB é ser um protagonista e serviçal dos interesses internacionais no país. É o PMDB que na história sempre correu de um lado a outro para se manter no poder. Em nível nacional, hoje se presta ao papel de protagonizar um golpe parlamentar em nome de aplicar ajustes duríssimos aos trabalhadores. Tudo o que o PT não conseguiu mais levar à frente, o PMDB através de Michel Temer e dos aliados do Congresso e da Câmara pretendem acelerar. Reforma da Previdência, Trabalhista, Escola Sem Partido são apenas alguns exemplos. Direitos sociais são encarados como gastos e estão sofrendo cortes desde o início da gestão peemedebista. A Petrobrás, com grande peso no estado do Rio de Janeiro, pretende ser privatizada. Na lógica deles, é preciso aliados e conter qualquer possibilidade de resistência. Estão dispostos a qualquer coisa para isso.

Ganhar a eleição no Rio de Janeiro significa, para o PMDB, fortalecer esse projeto que é mais do que nacional. Nas eleições em todo o país, a direita deve vencer na maioria das cidades e capitais. O PT deve amargar o pior resultado eleitoral desde 1985. Apesar de ser um reflexo distorcido dos anseios reais dos trabalhadores e jovens, pode dar a base necessária para que a burguesia nacional avance a passos largos na aplicação do ajuste fiscal. Faz parte da estabilidade que o Temer precisa para se sentir livre nos golpes. O carioca sabe que o Rio é uma das cidades mais importantes do Brasil, com os olhos do mundo voltados para ela. A pressão é grande e igual devem ser as respostas aos ataques que podem vir.

O que se orquestra sobre o Brasil nos últimos meses mascarado de “ética e combate à corrupção” é o endurecimento do regime através das instituições, com o Judiciário à frente de decisões que passam por cima até das poucas conquistas democráticas conquistadas historicamente pelos trabalhadores. Carandiru, mandados de prisão coercitiva. Tendo como marionete Lula e afins, avançam a passos largos para se constituírem enquanto chefes maiores das decisões, com o objetivo final de endurecer sobre a classe para aplicar seu projeto econômico e político.

É preciso construir uma alternativa nas urnas e nas ruas

Os cariocas têm um papel decisivo para impedir o avanço de tudo isso. O problema é que os grandes empresários têm plano A, B, C, D e tantos outros. Todos os candidatos, mesmo com aparência diferente, representam essa continuidade. Todos fizeram parte da gestão peemedebista, estiveram no governo aplicando juntos esse mesmo projeto. A única possibilidade de romper com essa lógica e garantir uma mudança de verdade seria a eleição de Marcelo Freixo e Luciana Boiteux, no Rio de Janeiro. A única candidatura que nunca esteve com esse grupo, a única que pode governar de fato com os trabalhadores e para os trabalhadores. Com um modelo de gestão onde haja de fato decisão popular sobre quais as prioridades e investimentos, que pode romper com os empresários de ônibus, empreiteiras e acabar com a farra do dinheiro público.

Infelizmente, a experiência com o PT foi interrompida pelo golpe institucional. E isso traz muita confusão aos trabalhadores. A negação ao petismo pode gerar afirmação a alternativas que não representam os seus anseios. É o que acontece em todo o país com candidaturas de direita, algumas com caras populistas. Aqui no Rio se expressa na candidatura de Crivella.

O Rio foi protagonista de importantes lutas. Educadores, garis, primavera das mulheres, junho de 2013, greve dos petroleiros, servidores, ocupa SUS, ocupa MINC. Os jovens da periferia resistem todos os dias à criminalização, à guerra instaurada nas favelas, a um verdadeiro extermínio. É uma resistência diária que precisa ser refletida nas lutas e nas urnas.

É possível. Vamos votar em Freixo e Luciana para a Prefeitura do Rio de Janeiro e, ao contrário, fortalecer o pólo de resistência, ser uma referência de que esse modelo de cidade-mercadoria não pode continuar, que os jovens da periferia têm vez e que o carioca está disposto a derrotar Temer e seu ajuste e tudo o que signifique um centímetro de retrocesso. Fazer do Rio, com a vitória de Freixo no segundo turno, uma verdadeira trincheira contra o governo golpista e seus ataques.

Que o sentimento construído nessa bela campanha sirva para dar força ao desenvolvimento de uma esquerda de verdade, de oposição ao PMDB e também de superação ao que significou o projeto do PT de conciliação de classes. Que possa fortalecer uma Frente de Esquerda Socialista no Brasil, como alternativa a esses dois pólos, para intervir de forma unificada nas eleições e nas lutas sociais. Porque, como disse o Freixo no debate na TV: “Quem diz que governa para dois lados mente para um deles”. É preciso não titubear, fazer uma escolha e essa tem que ser ao lado dos trabalhadores e jovens. Vamos de Freixo e Luciana Boiteux, 50.

*da coordenação do MAIS Carioca

Foto: Reprodução TV Globo