Por: Gabriel Ferreira, da Coordenação do #MAISCarioca
A instabilidade política que vivemos no país provocou nas eleições municipais um fenômeno de pulverização das chances eleitorais entre candidatos carismáticos e populistas, não diretamente apadrinhados pelas figuras nacionais ou filiados a partidos que não possuem nenhuma composição ideológica.
Um desses é o PRB – Partido Republicano Brasileiro. Fundado por Crivella e José Alencar em 2005, o partido é diretamente ligado à Igreja Universal e que possui 50% de seus parlamentares investigados pelo STF. A legenda, antes alinhada a Lula e Dilma, rompeu com a coalizão petista às vésperas do Impeachment para integrar o governo golpista de Temer – indicando o Bispo Marcos Pereira para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Nessas eleições, possuem duas grandes apostas políticas: no Rio de Janeiro, Marcelo Crivella lidera as pesquisas com folga e, em São Paulo, Celso Russomano se consolida em segundo lugar logo atrás de João Doria (PSDB). Uma possível vitória nas maiores capitais do Brasil seria a façanha necessária para localizar o partido em um novo patamar no cenário político nacional. Como resultado, significaria um avanço significativo da influência política da Igreja Universal.
Qual é o projeto de poder da Igreja Universal?
A denominação evangélica criada pelo Bispo Macedo é uma das maiores do Brasil, contando com mais de seis mil templos, 12 mil pastores e 1,8 milhão de fiéis ao redor do país, contra os quais pratica uma verdadeira extorsão financeira com o lema “Pare de sofrer”.
Edir Macedo aparece desde 2013 na lista da revista Forbes como dono de uma fortuna de US$ 1,1 bilhão e é considerado pela publicação um dos líderes religiosos mais ricos do mundo.
Hoje, a IURD é a maior controladora de concessões de rádio e TV. É dona da Rede Record de Televisão que cobre 93% do território Nacional, da Rede Aleluia que possui mais de 76 emissoras de rádio cobrindo 75% do território nacional, além da gravadora Line Records e da editora Unipro.
Com tantos meios de comunicação, propaga uma campanha que consiste basicamente na demonização das religiões de matriz africana e a promessa de prosperidade financeira. Seu fiéis, convencidos pelas pregações e cultos ritualísticos a comprar os tijolos de Israel, oferecem tudo o que tem, com a esperança de ter um alívio para os sofrimentos de um capitalismo em desencanto.
Eleger um homem de Deus ou do Dinheiro?
A influência política da IURD possui um estilo mais sutil e sorrateiro. Não vemos discursos inflamados de Malafaia e os gritos de Feliciano. Crivella possui um estilo afável, carismático e com uma fala mansa procura se separar de sua denominação e afirmar uma trajetória “ilibada”, de quem não foi citado nos principais esquemas de corrupção.
A Imagem de Crivella é construída com muito cuidado por ser a grande figura política do projeto de Macedo. A Igreja não suportaria um outro ataque à sua imagem como o que foi a prisão de um de seus líderes, o Bispo Rodrigues, condenado pelo envolvimento no esquema de corrupção do mensalão.
A imagem não anula o papel que o Senador cumpre na defesa dos interesses da Igreja. Em março, aprovou o projeto de lei que garante a isenção de IPTU a templos religiosos alugados. Além de propagar os ideais medievais do criacionismo, ser contrário à legalização do aborto e aos direitos da população LGBT.
Carro chefe de sua trajetória política, o projeto Cimento Social consistiu na reforma de cerca de 100 casas de moradores da Favela da Providência, a mais antiga do Rio de Janeiro. A lista dos beneficiários era inicialmente feita pela própria igreja Universal, o que foi anulado após protesto dos moradores. O projeto foi garantido com o apoio direto de Lula e sua autorização da presença ostensiva do Exército na favela. Na manhã do dia 14 de junho de 2008, militares abordaram os jovens amigos David Florêncio (24), Wellington Gonzaga (19) e Marcos Paulo (17), que chegavam de um baile funk desarmados, levaram ao quartel e entregaram à facção do tráfico Amigos dos Amigos, no Morro da Mineira, rival do Comando Vermelho presente na Favela da Providência. De acordo com testemunho do próprio tenente, entregou os meninos para que os traficantes lhes “dessem um susto”, já que haviam resistido à truculência dos militares. O resultado foi a morte dos três jovens, cada corpo encontrado com dezenas de perfurações de tiros e sinais de tortura. As famílias e moradores da Providência, inconsolados, realizaram diversos protestos, inclusive no enterro dos meninos onde se viam cartazes com os dizeres: “A minha infelicidade é ter votado em você, Lula e Cesar Maia” e também: “Crivella, anjo mau”.
Se a Bíblia diz que “Bem aventurado é o homem que não se assenta na roda dos escarnecedores”, Crivella não anda seguindo o livro sagrado. Entre os aliados de sua corrida à prefeitura, conta com ninguém menos que Anthony Garotinho e Rodrigo Bethleem: um condenado por formação de quadrilha e ato lesivo ao patrimônio público, outro acusado de desvio de dinheiro da prefeitura para contas na Suíça.
Qual é o Papel da esquerda na disputa eleitoral com a Igreja?
Em um vídeo no Youtube, Silas Malafaia conclama os evangélicos a não votar em Marcelo Freixo. O discurso é igual ao de muitos que incitam seus fiéis a combater a Esquerda comunista, e se aproveitam de um espaço aberto nos últimos anos fruto de um retrocesso na consciência de classe, subproduto dos governos de conciliação do PT.
Querem acabar com uma contradição de décadas atrás, onde o pobre seguia o PT e seu pastor. Infelizmente, o partido não aproveitou sua influência de massas para avançar a consciência de classe contra o discurso conservador. Pelo contrário, a Igreja Universal foi uma de suas principais aliadas durante o governo Dilma, que inaugurou o Templo Salomão ao lado de Edir Macedo, garantindo a doação de 10 milhões de reais para sua reeleição. Em 2014, quando Crivella e Pezão disputaram o segundo turno para o governo do estado, Jandira (PCdoB) limitou-se a dizer, na véspera da eleição, que “não votará em Pezão”. Lindbergh (PT) chegou mais longe, declarando apoio à Crivella contra Pezão no segundo turno.
As consequências dessa opção política de conivência do PT/PCdoB com Crivella contribuíram com seu fortalecimento para a disputa à prefeitura. Sua vitória representaria o fortalecimento ainda maior desse discurso que demoniza a umbanda e o candomblé, que defende a militarização da Guarda Municipal, que fortalece a divisão sexista e avança no controle do corpo das mulheres e na violência aos LGBTs. Por isso, vamos às ruas, até o último minuto de campanha, levar Freixo ao segundo turno, onde poderemos derrotar Crivella e seu projeto reacionário.
A esquerda precisa enfrentar o avanço do conservadorismo nessas eleições e isso se dará disputando os trabalhadores, a população da periferia, que é base social das igrejas, com um programa de combate aos ataques de Temer. Sem repetir os erros do passado e sem conciliar com conservadores, mantendo firme nas mãos a bandeira do Estado laico.
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