O Ensino Médio precisa de uma Reforma?
Publicado em: 30 de setembro de 2016
Por: Victoria Ferraro e Jéssica Boscolo*, de Campinas, SP
No dia 22 de setembro foi anunciada pelo governo ilegítimo de Temer a Medida Provisória n° 746/2016, que rege sobre a da Reforma do Ensino Médio. A medida altera diversas questões da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), entre elas, a retirada da obrigatoriedade de disciplinas como Artes, Educação Física, Sociologia e Filosofia do currículo do Ensino Médio. Esse ataque à Educação causou enorme indignação e trouxe a necessidade de discutirmos a situação da educação pública no país.
Quando olhamos para a situação do Ensino Médio encontramos diversos problemas e o governo de Temer (PMDB) tenta justificar sua reforma e ganhar a opinião pública se apoiando no discurso da necessidade de promover mudanças no ensino. Porém, sabemos que as propostas da MP significam completamente o oposto às reais demandas da educação. Se ela fosse de fato significar melhorias, estaria propondo, por exemplo, a redução de alunos por sala e aumento salarial dos professores.
Desse modo, é importante que façamos uma dura luta contra essa reforma, mas também precisamos iniciar uma discussão sobre qual tipo de educação no ensino médio queremos. A partir disso pensamos em algumas contrapropostas perante a MP.
Ao invés da contratação de profissionais com notório saber, precisamos discutir sobre a formação e a qualidade dos cursos de licenciatura e as condições de trabalho dos professores
Grande parte dos cursos de licenciatura no Brasil são tecnicistas, ou seja, compreendem o papel do professor como um mero reprodutor de técnicas, quando o fundo da questão é que para ser professor é necessário uma formação integrada entre a teoria e a prática, uma formação que discuta qual o papel da escola na sociedade, o papel dos alunos e professores dentro da escola. É importante que esses profissionais tenham conhecimento e reflexão das diversas linhas teóricas dentro da pedagogia e as diferentes metodologias de ensino de que podem lançar mão, para que possa na prática ter autonomia para escolhê-las intencionalmente de acordo com todas as teorias e concepções que carrega e que acredita que melhor respondem àquilo que precisa desenvolver em seus alunos. Na contramão desse ideal, os cursos de licenciatura, ao invés de darem capacitação e possibilidade de autonomia aos profissionais de educação, acabam reproduzindo a ideologia dominante nas escolas: alunos sentados em fileira, métodos de avaliação meritocráticos, o professor é o único detentor de todo o conhecimento.
Mesmo assim, não devemos ter nenhuma ilusão de que apenas a formação é o problema. O problema está em como são reconhecidos os profissionais de educação. Isso passa desde à formação na graduação, onde os cursos de licenciaturas são renegados nas universidades e recebem menos investimentos, até as condições de trabalho péssimas em que vivem, com baixos salários, escolas sem infraestrutura para as aulas, entre outras coisas. A Reforma que o Ensino Médio precisa deve, primeiramente, se propor a transformar essas questões e a não precarizar ainda mais o trabalho docente contratando profissionais com notório saber.
Queremos um ensino médio que forme sujeitos críticos e os desenvolvam em todas as áreas de conhecimentos
A escola está em disputa. Por um lado existem aqueles, como Temer, que querem uma escola cada vez mais voltada ao mercado de trabalho e que não forme jovens que possam significar qualquer perigo aos governantes. Do outro lado, há aqueles que defendem que a escola deve apropriar os estudantes com todo o conhecimento básico produzido pela humanidade. Nos enquadramos nesse segundo grupo. A retirada da obrigatoriedade de Artes, Educação Física, Sociologia, Filosofia e os itinerários formativos significa retirar o direito da juventude de acesso a esses conhecimentos.
Por escolas que não sejam prisões e opressoras
Mais importante do que discutir se o ensino deveria ocorrer em tempo integral, ou em meio período é refletir sobre um problema anterior, a falta de interesse dos alunos na escola e a falta de identificação com o ambiente escolar que, muitas vezes, é opressor.
A escola precisa ser um espaço de vivência, onde os alunos se sintam parte dela e importantes nesse espaço enquanto pessoas que também o constrói, tanto quanto professores e gestão. Deixemos os alunos terem liberdade de opinião, poderem se expressar, ocupar o espaço que é de direito e construir escolas vivas.
*estudantes de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da juventude do MAIS
Top 5 da semana

brasil
Prisão de Bolsonaro expõe feridas abertas: choramos os nossos, não os deles
colunistas
O assassinato de Charlie Kirk foi um crime político
brasil
Injustamente demitido pelo Governo Bolsonaro, pude comemorar minha reintegração na semana do julgamento do Golpe
psol
Sonia Meire assume procuradoria da mulher da Câmara Municipal de Aracaju
mundo