Nesta quarta feira (28), é dia pela descriminalização do aborto. O Esquerda Online recebeu este relato, que segundo o remetente, foi escrito por uma médica há cerca de um ano. Passado todo esse período, muito pouco mudou sobre o tema no Brasil.
Relato
“Hoje atendi uma garota de 13 anos, sequestrada durante um mês e violentada ao longo dele. Bem, além de todo o trauma, ela engravidou.
Pergunto a vocês: o que fazer?! Consolá-la e dizer que vai passar e que é uma vida que está ali pulsando? Lindo, não?! Queria ver se fosse com vocês, ou com a filha de vocês. ou com a mãe de vocês. Ou com qualquer mulher que tal como está criança se encontra numa situação de vulnerabilidade social. E mesmo se não se encontrasse.
Existe uma guerra diante da legalização do aborto, uma guerra, que como toda guerra tem muita gente que lucra com ela. Digo isso porque o que move a criminalização não é um sentimento religioso, não há religião que se sustente diante da concretude dos fatos, ainda mais de fatos bárbaros como esse. Ou você acha que a mãe dessa menina não chegou ao hospital dizendo “pelo amor de Deus, me ajude!”?
Bem, eu sou ateia. Mas, a esmagadora maioria das mulheres que abortam não são. Pelo contrário, em geral são bem religiosas e isso não as impede, porque é uma condição objetiva de desespero.
Outra coisa é o Estado. Que é por lei laico e que fecha os olhos para as mais de 100 mil brasileiras que morrem todos os anos por complicações de um aborto ilegal, numa completa situação de vulnerabilidade. E outra coisa, mais grave ainda é que existe um negócio milionário por trás da ilegalidade. Como existe por trás de toda ilegalidade. As clínicas de aborto ilegal se aproveitam da situação de desespero para cobrar milhares de reais das mulheres, ou fazem procedimentos completamente inseguros naqueles que podem pagar menos. Sem contar o que a imensa maioria das mulheres pobres fazem. Enfiam qualquer coisa no seu útero para causar um abortamento, e chegam no hospital com hemorragia, infecções graves, ou muitas vezes já cumpriram a estatística das 100 mil mortas por ano.
Bem, e a garota de 13 anos? Felizmente, no Brasil o aborto por causa de gravidez por estupro é legalizado e em menos de dez minutos a situação dessa menina será resolvida, em um serviço que faz aborto legal em São Paulo. Mas, existem poucos desses serviços no Brasil e é muito pouca informação. Não é preciso ir na Justiça antes para ter autorização, nem nada do tipo, pode-se ir direto num serviço como esse e terá seu direito garantido. O abortamento não custa mais que R$ 200, diferente do que as clínicas extorquem das mulheres e custa o alívio e o poder de decisão daquela que tem o direito de dizer não. Que esse direito seja estendido a todas.
Por um aborto legal,seguro e gratuito!”
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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