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Rosto desconhecido, professor Moacyr (PSOL) disputa Prefeitura de Itanhaém, SP, pela segunda vez

Por: Leandro Olímpio, de Santos, SP

Após a missa, o padre da Igreja Nossa Senhora do Sion informa aos fiéis a presença de mais um candidato a prefeito da cidade. ”Não é obrigatório, mas pedimos que fiquem. É importante”.

Moacyr Américo, candidato a prefeito de Itanhaém pelo PSOL, último candidato convidado pela igreja a apresentar suas propostas, inicia sua fala. O pedido do padre não comove a maior parte dos presentes, que logo após o encerramento da missa decidem deixar a igreja. Ao longo dos 180 segundos reservados a ele, os assentos antes cheios esvaziam progressivamente.

Para muitos candidatos, um cenário desolador. Para Moacyr não. Foi o maior público que já teve diante de si na campanha, mesmo com as deserções. Fora isso, seu programa na rádio tem apenas 17 segundos. “É o tempo de se apresentar e dizer oi”, fala com bom humor sua esposa, Poliana, também professora, também candidata pelo PSOL, mas ao cargo de vereadora. Ao lado dela, outros dois candidatos, também professores, completam o time de postulantes à Câmara de Vereadores.

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O exército de professores formados pelo PSOL na cidade não é coincidência. Moacyr e Poliana dirigem a sub-sede da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de SP) na região do Litoral Sul e Vale do Ribeira. Portanto, é nas escolas da cidade e no trabalho sindical com a categoria que atuam politicamente.

Professor de sociologia e história há mais de uma década na cidade, Moacyr já foi metalúrgico em Osasco e participou ativamente do movimento operário na década de 1980. Foi parte do processo de construção do PT, mas após a escolha da conciliação de classes como estratégia de poder decidiu deixar o partido, construindo alguns anos depois o PSOL. “Rompi muito antes do Lula virar presidente”, esclarece.

Segunda cidade mais antiga do país, Itanhaém tem uma biografia política aristocrática. Não há em sua história registro de um prefeito de esquerda. Aquela que toca em temas como descriminalização das drogas, machismo e legalização do aborto, considerada radical, nem se fala.

Existe enraizado na cidade o que se convencionou chamar de coronelismo: a alternância de poder segue, eleição após eleição, restrita às tradicionais famílias ricas da cidade. Foi apenas a partir de 2012, quando Moacyr se candidatou pela primeira vez a prefeito, que a esquerda radical passou a disputar a eleição municipal. Na ocasião, conquistou 361 votos (0,75%), ficando em último lugar em uma campanha que teve quatro candidatos a prefeito.

Sem recursos, o desafio de Moacyr em 2016 é semelhante ao de 2012: sair da invisibilidade. Boa parte da população não reconhece o seu nome e aqueles que reconhecem sofrem a pressão de votar nas candidaturas com viabilidade eleitoral, não por acaso com maior poder econômico. Um punhado de panfletos, adesivos, um carro particular com uma caixa de som, meia dúzia de jovens que ajudam na panfletagem por R$ 20,00 o dia, este é o seu arsenal para fazer a disputa da consciência de mais de 70 mil eleitores.

Diante de um governo conhecido por ter deixado a orla da praia mais bonita, cujo prefeito (Marco Aurélio-PSDB) dispara como favorito a conquistar a reeleição, Moacyr faz uma campanha baseada no lema “Por uma Itanhaém para todos”. A frase remete a uma crítica muito forte na própria população de que o atual governo não prioriza a periferia. Passe livre para estudantes, unidades de pronto-socorro nas regiões mais populosas, escola em tempo integral são algumas das principais propostas do candidato do PSOL.

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