Por: Marcello Locatelli, de Curitiba, PR*
Estamos diante de um dos momentos mais dramáticos já vividos pela classe trabalhadora brasileira, os ataques do governo Michel Temer aos direitos e conquistas dos trabalhadores é muito duro. As organizações e direções que estão à frente das maiores centrais sindicais e da maioria dos sindicatos e movimentos sociais tem enorme responsabilidade sobre os rumos da luta e da construção da Greve Geral neste momento.
É preocupante e equivocada a postura política de alguns setores do PT que estão à frente de sindicatos importantes da CUT no Paraná. Em especial é equivocada a postura da direção majoritária da APP-Sindicato (Democracia Socialista-PT) de não jogar peso na paralisação nacional neste 22 de setembro, uma vez que esta foi uma iniciativa importante das centras sindicais no sentido de acumular forças e fortalecer o clima de unidade em torno à construção de uma Greve Geral no Brasil.
A APP-Sindicato é o mais importante sindicato da CUT no Paraná, que representa a categoria que protagonizou o maior ascenso de massas contra o governador tucano Beto Richa. O poderoso movimento de massas dos educadores foi o principal componente da greve geral dos servidores estaduais em 2015, tão poderoso que ganhou o apoio de cerca de 90% da população do estado. Se a direção deste sindicato não jogar peso em mobilizar a sua base teremos enormes dificuldades em incorporar a classe trabalhadora paranaense na construção da greve.
Sabemos que a realização de uma greve geral não é tarefa fácil e exige enorme responsabilidade. Na última Assembleia estadual (17/09), a direção majoritária da APP não defendeu a paralisação para o dia de hoje. Deixar a base da educação estadual fora da paralisação nacional não contribuiu para dar visibilidade à construção da greve geral. Se esta for a postura das direções dos principais sindicatos filiados a CUT e a CTB não avançaremos rumo à greve geral.
Na Assembleia ouvimos diversos argumentos dos dirigentes da DS-PT: “a categoria não está preparada para mais uma paralisação”; “não tivemos tempo de preparar”; “o dia 22 trata-se de um esquenta para uma futura greve geral”; etc. Todos estes argumentos estão na contra mão de responder a difícil conjuntura que estamos atravessando e em contradição com a sinalização unitária pela paralisação nacional da qual são parte a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e a CUT. Vale lembrar que a APP é filiada a ambas entidades nacionais.
Muitos direitos e conquistas estão em jogo e corremos contra o tempo
O PL 257/2016 apresentado por Dilma e a PEC 241/2016 de responsabilidade de Temer são a expressão mais nítida de um plano de ajuste fiscal e (contra) reformas estruturais que implicam em duros ataques a classe trabalhadora. Entre as iniciativas drásticas do governo estão à reforma da Previdência e Trabalhista.
Entre as nefastas consequências destes projetos estão: o congelamento dos gastos com os serviços públicos nas áreas sociais por 20 anos, em especial saúde e educação; o congelamento dos concursos públicos; a desvalorização dos servidores públicos; o desmonte das carreiras dos servidores; o fim da aposentadoria especial para os educadores e trabalhadores rurais; o aumento da idade mínima para aposentadoria de homens e mulheres para 65 anos; o aumento da contribuição dos trabalhadores com a aposentadoria; ampliação das privatizações; a flexibilização de direitos trabalhistas como 13° salário, pagamento de 1/3 de férias, seguro desemprego, etc. Os objetivos com essas políticas são aumentar a exploração sobre os trabalhadores e garantir as metas de superávit primário para o pagamento dos juros da dívida pública ao capital rentista.
Neste contexto, é notório que a educação e a saúde públicas serão duramente afetadas. Em um cenário político e econômico que aumentam o custo de vida e o desemprego, o impacto dessas medidas submeterá a classe trabalhadora a mais sacrifícios.
Sabemos que Dilma e a direção do PT vinham se esforçando em aplicar o ajuste fiscal exigido pela burguesia, porém, faziam isso com enormes questionamentos de uma parcela importante de sua base nos movimentos sociais. Ao não poder aplicar esses planos no ritmo esperado, Dilma perdeu o apoio da sua base parlamentar, isso combinado à perda de apoio em amplas parcelas da população, em especial na classe média, abriu caminho para a burguesia se unificar em torno a um novo projeto de governo. O impeachment foi um golpe parlamentar, que impôs um governo sem colaboração de classes.
O governo Temer mostra a que veio, está disposto a utilizar o apoio parlamentar que organizou para aplicar em um só golpe e de maneira acelerada todos esses ataques que mencionamos acima, outubro e novembro serão meses decisivos. Muitos direitos e conquistas estão em jogo e corremos contra o tempo.
Mudar a postura e unir forças em torno a Greve Geral
O governo quer aprovar essas medidas a todo custo e rapidamente. Temer já manifestou suas intenções e disse que não está preocupado com sua popularidade. Na verdade, está sendo coerente com o projeto político com o qual se comprometeu em meio à crise política que afastou Dilma através do golpe parlamentar.
As direções que estão à frente da maioria dos sindicatos e movimentos sociais, em especial as direções das centrais sindicais que possuem maior implantação no movimento de massas, têm a obrigação de levar a cabo a organização da Greve Geral. A CUT, a CTB e seus sindicatos filiados devem colocar em prática o discurso contra o ajuste fiscal e o governo Temer.
A realização da Greve Geral é urgente, corremos contra o tempo. É hora de ir para as bases, organizar os trabalhadores nos sindicatos e movimentos sociais. A decisão de organizar a Greve Geral deve ser colocada em prática já. O dia de hoje (22) foi um passo importante, mas ainda não é o suficiente para derrotar os ataques em curso. Por hora, as direções majoritárias do movimento de massas não jogaram o peso necessário e precisam fazer mais pelos trabalhadores.
*Marcello é professor e militante do MAIS Paraná
Comentários