Por: Elita Morais, de Curitiba, PR
Foram divulgados nesta quarta-feira (21), os resultados de uma pesquisa realizada pelo DATAFOLHA e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Trata da percepção dos brasileiros sobre o estupro. Apesar desses dados não serem nenhuma novidade, não deixam de ser assustadores. Trazem novamente à tona a necessidade de se discutir a cultura do estupro no Brasil.
Segundo o DATAFOLHA, um em cada três brasileiros acreditam que as mulheres são culpadas por serem estupradas. A pesquisa revelou que 30% dos brasileiros acham que “A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada” e 37% acham que “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”. Os dados mostram que entre os homens brasileiros esse tipo de discurso é ainda mais comum, chegando a 41%. A pesquisa também revelou que no Brasil 85% das mulheres têm medo de serem estupradas. No Nordeste, esse índice aumenta para 90%. Os dados mostram ainda que cerca de 51% da população não acredita na atuação da Polícia Militar, assim como 42% também não acredita na atuação da Polícia Civil na resolução desse tipo de crime.
A cultura do estupro, além de evidenciar a violência cotidiana à qual as mulheres estão submetidas, evidencia também um alto grau de controle dos seus corpos, do quanto a liberdade sexual feminina incomoda, do quanto ainda precisamos avançar na luta contra o machismo. Combater a cultura do estupro significa combater um discurso que legitima o estupro de uma mulher a cada 11 minutos, um discurso também responsável por colocar o Brasil entre os cinco países que mais matam mulheres no mundo. Segundo dados da ONU, sete em cada 10 mulheres no mundo já foram, ou serão violentadas em algum momento da vida.
Em 2014, o IPEA divulgou dados de uma pesquisa sobre Tolerância Social à violência contra as mulheres. Essa pesquisa, que gerou muitas polêmicas e controvérsias, foi modificada posteriormente pelo IPEA sob a argumentação de que os dados divulgados estariam equivocados. Com a modificação, o IPEA divulgou em 2014 que, em média, 26% dos brasileiros concordavam que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. O fato é que, dois anos depois, os dados divulgados pelo DATAFOLHA são ainda piores que os do IPEA.
Os dados divulgados pelo IPEA em 2014 revelaram como a cultura do estupro está profundamente arraigada na sociedade brasileira, a ponto de se achar que as roupas da vítima são, necessariamente, um convite ao estupro. Os resultados desta pesquisa geraram uma grande comoção das mulheres no país, que, indignadas, encamparam uma campanha nas redes sociais fazendo com que a hashtag #eunãomereçoserestuprada tomasse conta das redes sociais, trazendo o debate sobre a cultura do estupro para ordem do dia.
Mas, a luta das mulheres não parou nas redes sociais, foi além, e em 2015 uma verdadeira primavera feminista tomou conta das ruas brasileiras. As mulheres se insurgiram contra Cunha e o conservadorismo do Congresso para impedir a aprovação do projeto de lei que criava barreiras para que mulheres vítimas do estupro tivessem o direito ao aborto. Nas ruas, mostraram disposição para lutar contra o machismo. Não se pode esquecer também das campanhas com as hashtags #meuamigosecreto e #meuprimeiroassedio através das quais as mulheres demonstraram que não estão mais dispostas a tolerar em silêncio a violência.
A Primavera Feminista continua a tomar conta das ruas brasileiras no Fora Temer. São as mulheres, os LGBTs e os negros e negras os principais protagonistas das lutas contra a política do ajuste fiscal de Temer. Sabemos que Temer, vem diminuindo de maneira substancial os investimentos no combate à violência contra a mulher, assim como Dilma e o PT fizeram anteriormente. Esses cortes evidenciam o descaso do governo Temer, sem poupar esforços para demonstrar que o governo não possui nenhum compromisso com os setores mais oprimidos.
A luta das mulheres contra a cultura do estupro e contra toda a violência machista mostrou que é possível lutar e vencer. A cassação de Cunha é uma grande vitória dos setores oprimidos. É exatamente disso que precisamos, tomar as ruas e lutar pelo direito de viver, de sermos quem quisermos. Unir nossa luta também à luta dos LGBTs e dos negros e negras e dizer claramente que a culpa nunca é da vítima. Chega de Cultura do Estupro.
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