Por que a fusão entre Bayer e Monsanto prejudica os brasileiros

Por: Fabíola Calefi, de Santos, SP

A recente notícia de que a alemã Bayer efetuou a compra da norte-americana Monsanto assustou tantos os grandes produtores agropecuários, como os defensores do meio ambiente e da saúde. Uma explicação usada para essa junção monstruosa é a de que a nova empresa vai “lucrar com a doença e vender a cura”, em referência à produção de sementes transgênicas pela Monsanto e defensivos agrícolas e de remédios pela Bayer. Outros afirmam que a competitividade estará comprometida e que ela monopolizará o setor. Mas, a reflexão deve ir muito além.

O negócio criará a maior fabricante de defensivo agrícola e sementes transgênicas do mundo. O valor total da compra foi de US$ 66 bilhões. Juntas, Bayer e Monsanto têm um volume de negócios anual de US$ 25,8 bilhões, o equivalente a R$ 86,17 bilhões.

O faturamento da Monsanto no Brasil, com a venda de sementes, foi de US$ 1,7 bilhão, equivalente a R$ 5,67 bilhões, em 2015. A Bayer faturou R$ 7,46 bilhões em 2015. Somos o segundo maior produtor mundial de transgênicos, atrás apenas dos Estados Unidos.

O Brasil é o maior exportador de soja – usa amplamente variedades transgênicas – e o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, com cerca de 20% da demanda global. São mais de 42 milhões de hectares de áreas plantadas com esse tipo de semente, principalmente na produção de soja e milho.

O financiamento da safra 2014-2015 foi de R$ 150 bilhões para as grandes empresas do agronegócio e de apenas R$ 20 bilhões para a agricultura familiar, responsável por 70% do que é consumido em casa. Não é possível falar da alta no preço dos alimentos no Brasil sem associá-la à política de favorecimento ao agronegócio, que tem foco nas exportações.

Nos governos petistas, algumas medidas já haviam sido tomadas para beneficiar a expansão do agronegócio em detrimento da agricultura familiar. Além dos investimentos pesados no setor, ocorreu alteração no código florestal. O novo código beneficia os grandes produtores rurais com a diminuição de áreas de proteção dentro das propriedades, além de anistia para os desmatadores. Agora no governo Temer já foi extinto o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com a transferência das secretarias ligadas à reforma agrária e do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para a Casa Civil. Também já foram feitos cortes em investimentos e recursos no orçamento .

Os ataques à política agrária e à agricultura familiar, adicionados ao surgimento da nova gigante do agronegócio, devem encarecer ainda mais os alimentos. Além disso, a aquisição de insumos agrícolas, comercialização e escoamento dos produtos para população beneficiará a monocultura, que está restrita à exportação e possui alto impacto socioambiental. Além de danos ambientais, o uso de agrotóxicos traz riscos de doenças como o câncer. Dos 50 produtos mais utilizados na agricultura brasileira, 22 são proibidos na União Europeia.

Todos esses fatores, somados à crescente criminalização dos movimentos campesinos e ao aumento da influência da bancada ruralista no governo, impõem à vida e ao trabalho no campo ainda mais ataques.