Por que os atos do Fora Temer diminuíram?

São Paulo – Ato “#Fora Temer! Não queremos nenhuma chibata! Queremos decidir nosso futuro!”, organizado por mulheres negras, defende direitos sociais e trabalhistas. Largo da Batata, Pinheiros, região oeste.

O Impeachment de Dilma Roussef (PT), a condução do processo por Eduardo Cunha (PMDB) e o Congresso corrupto abriram a percepção para milhares de jovens e trabalhadores de que toda a farsa do processo do impedimento tratava-se de um golpe parlamentar.

Todo um setor mais sensível às demandas democráticas foi espontaneamente às ruas indignado pelo ato final do impeachment no Senado. As primeiras declarações do presidente ilegítimo Michel Temer acenando com a necessidade do ajuste fiscal e as reformas da Previdência e Trabalhista, assim como a declaração menosprezando as mobilizações potencializou o movimento.

Vivemos uma primeira semana de setembro com atos que envolveram milhares no país. Podemos destacar a mobilização dos 100 mil em São Paulo, assim como atos de milhares em Salvador, Recife, Florianópolis, Belo Horizonte e Porto Alegre. Foi uma onda nacional de mobilizações. Uma onda de resistência contra Temer e seus planos contra a classe trabalhadora e a juventude.

As redes também foram tomadas pelo #ForaTemer, que alcançou milhões nas redes sociais e foi o grande assunto da semana, ultrapassando a bolha da esquerda e chegando a amplos setores na internet.

O governo Temer passou o primeiro susto. No entanto, ainda longe de abalar os pilares centrais do governo. No primeiro momento reagiu às mobilizações com desdém e com muita repressão. Depois, mudou o discurso e passou a reconhecer o tamanho das mobilizações e seu caráter nacional.

O resultado foi que, apesar da importância das mobilizações, as mesmas não tiveram fôlego e depois de dez dias perderam impacto e diminuíram, se tornando novamente atos de vanguarda.

Por que os atos diminuíram?

É importante buscar as respostas para essa pergunta. Vamos elencar agora algumas hipóteses:

1. As mobilizações do Fora Temer, apesar do tamanho e impacto inicial não conseguiram ganhar a simpatia e engajamento da maior parte da classe trabalhadora. Esse tem sido o grande limitador da realidade brasileira até o momento para a esquerda. Os batalhões pesados do proletariado brasileiro assistiram à crise e não se posicionaram.

2. A crise de representatividade do movimento social. A crise político e moral do PT já teve como reflexo a incapacidade desse partido atuar nas jornadas de junho de 2013. Apesar do peso das mobilizações, o PT tem se mostrado incapaz de dialogar com os movimentos sociais e construir um programa de resistência a Temer. Na medida em que crescia o giro do aparato do PT para o Fora Temer, as mobilizações diminuíram. Não se forjou durante as mobilizações nenhuma direção com peso e autoridade nacional para capitalizar o processo e dar continuidade à luta.

3. O governo Temer, apesar de odiado, mantém o apoio da burguesia e das classe médias. Uma sólida maioria no parlamento que garante a aprovação de todos os projetos.

4. A Lava jato e o indiciamento de Lula tiraram o fora Temer do centro da conjuntura, contribuindo para a dispersão das mobilizações.

O Projeto da direção do PT não é derrubar Temer

A direção do PT é pressionada neste momento por dois fatores. O primeiro são os efeitos da saída do aparato governamental através do impeachment e o projeto da burguesia de inviabilizar a candidatura de Lula em 2018 através da Lava jato. O segundo é que tudo indica que o PT vai sofrer uma derrota eleitoral histórica com o seu pior resultado eleitoral desde 1985.

A crise do PT pressiona cada vez mais sua direção para a direita. A política da cúpula do PT passa centralmente em defender Lula para garantir participação no processo eleitoral de 2018. O eixo da direção do PT não vai ser inviabilizar o governo Temer impulsionando uma luta nacional contra o ajuste e as reformas. O PT será uma oposição parlamentar com foco em 2018 com a política de cooptar os movimentos sociais com a política da frente ampla, uma reedição da frente popular.

Esse movimento conservador da cúpula petista abre uma contradição importante com a base social do PT e um setor importante da militância do partido. Muitos ativistas honestos do PT querem derrubar Temer, ou ao menos inviabilizar seu governo lutando contra ataques já em curso.

O que fazer?

A perda de força dos atos pelo fora temer fazem com que vários ativistas pensem “O que fazer agora?”

O mês de setembro terá duas mobilizações que expressam a contradição entre a base e a cúpula do PT. Os dias 22 e 29 de setembro são um primeiro movimento organizado da classe trabalhadora contra os ataques que Temer planeja.

A esquerda socialista deve impulsionar e participar com todas as forças possíveis dessas mobilizações. A unidade da classe trabalhadora é estratégica para defender a classe dos ataques e superar a velha direção petista.

A esquerda socialista deve também ter um posicionamento principista frente à continuidade do golpe parlamentar com o indiciamento de Lula pela Lava Jato, para evitar que concorra nas eleições de 2018. Expressar uma posição classista perante o tema de uma eventual prisão de Lula é decisivo assim como deixar evidente que não damos nenhum apoio político ao ex-presidente. Trata-se de enfrentar o lulismo na luta política e não criminal que é o terreno dos nossos inimigos de classe.

Segue sendo estratégico o desenvolvimento de uma alternativa ao PT pela esquerda no Brasil. Uma nova esquerda que dialogue com os movimentos sociais que romperam com o programa democrático popular petista, mas são desconfiados dos partidos políticos. Que escute os novos movimentos sociais, que dialogue com a juventude e novas formas organizativas. É tempo de reorganização na esquerda socialista. Impulsionar a luta contra Temer é o primeiro caminho.