Por: João Gabriel, de Santo André, SP
Foi anunciado ontem o primeiro plano estratégico (PE) e o plano de negócios e gestão (PNG 2017-2021) da gestão Pedro Parente e Michel Temer (PMDB). Os principais pilares do plano são a mudança na gestão de pessoas, desinvestimentos e privatizações. O mercado financeiro reagiu positivamente. A variação das ações preferenciais da empresa na bolsa de valores foi de mais 3,45%. A recepção por parte das organizações de categoria da empresa como a AEPET (Associação de Engenheiros da Petrobras), a FNP (Federação Nacional dos Petroleiros) e a FUP (Federação Única dos Petroleiros) foram fortemente negativas.
Desinvestimentos, privatizações e demissões
O plano de negócios mira a completa retirada da Petrobras na distribuição de GLP, produção de fertilizantes, produção de biocombustíveis e participação na indústria petroquímica. Para além disso, também foi proposto o fatiamento e busca de parcerias em outros negócios estratégicos como a construção do segundo trem de refino da RNEST, a refinaria do COMPERJ, a abertura de controle acionário sobre a BR distribuidora, entre outras medidas de redução de despesas com bens de capital, o chamado CAPEX.
A mudança nos direitos e condições de trabalho também foram exploradas na apresentação. Faz parte da política de redução de despesas operacionais, o OPEX, a não recomposição de efetivo demitido pelo PIDV (Plano de Incentivo de Demissão Voluntária) e os petroleiros terceirizados demitidos pela última gestão Aldemir Bendine e Dilma Rousseff (PT). Entram em consonância com essa política as propostas rebaixadas da Petrobras no Acordo Coletivo de trabalho que pretendem rebaixar salários e benefícios dos funcionários diretos. A proposta de remuneração variável por medição de desempenho também faz parte de uma das estratégias do PNG.
Gestão de pessoal
Entre as supostas estratégias para o alcance das metas está a nova política de punições da empresa, o sistema de consequências. Inspirado no modelo de gestão da AMBEV, o sistema de consequências estimula um ambiente de competição com bônus variáveis e punições. Esses modelos tendem a criar ambientes de trabalho hostis e, inclusive, no caso da AMBEV, transformam o assédio moral em uma prática corriqueira dentro da companhia, fragilizando o compromisso de responsabilidade social com seus funcionários e permitindo arbitrariedades nas avaliações.
Incoerências e riscos do plano estratégico
Um dos pilares no que se refere a melhor gestão e a uma questão estratégica nas empresas de petróleo é a integração entre as etapas de exploração, refino, transporte e distribuição. Como fica claro na apresentação do novo PE, as demandas sociais que a Petrobras atende estarão limpe limitadas e subordinadas pelas condições e exigência do mercado. Ou seja, a Petrobras não tomará decisões tendo em vista os melhores resultados para a população brasileira, mas sim tendo em vista o mercado, o que implica em políticas de curto e médio prazo.
Entre as mudanças nesse sentido, com o devido patrocínio do congresso e do governo federal, destacam-se o fim da política de conteúdo local, o fim da obrigatoriedade da Petrobras participar dos leilões do pré-sal e políticas mercadológicas de preço de combustíveis. Isso configura uma irresponsabilidade do atual governo Temer e da gestão do Pedro Parente na manutenção de uma riqueza estratégica para o futuro do Brasil e para a sua estabilidade financeira nas crises cíclicas da indústria do Petróleo e do mercado de capitais como um todo.
O pré-sal, que é uma das maiores reservas recém descobertas de petróleo do mundo, essencial para melhorar a qualidade do blend de petróleo que entra nas refinarias e diminuir a dependência de importações é um dos patrimônios que é colocado em xeque pelo plano novo de gestão da empresa.
Herança política e encaminhamentos
A gestão do governo Temer sobre a Petrobras e as reservas brasileiras de petróleo são uma continuidade da política de desinvestimentos e privatizações do Governo Dilma, o leilão de LIBRA, a venda da Gaspetro e o primeiro plano de desinvestimento são exemplos irrefutáveis dessa política. Mas, a falta de legitimidade somada a um paradoxal maior apoio parlamentar trazem a gestão Temer um maior poder político para a imposição de sua agenda inequivocamente neoliberal e favorável aos interesses das grandes empresas de petróleo e o capital estrangeiro.
Não há referência alguma no documento apresentado ontem quanto a influência dos trabalhadores da empresa e da sociedade civil quanto aos objetivos e rumos da Petrobras. Então é necessário que as principais centrais e federações que representam os petroleiros, como FUP e FNP, junto com as demais organizações dos trabalhadores – CUT, CTB, CSP-CONLUTAS, entre outras – se mobilizem para organizar e engajar os trabalhadores e a população a barrar em uma greve geral e nas ruas os ataques e a política entreguista do governo Temer.
Comentários