Por Juliana Donato, de São Paulo, SP
Em meio à greve nacional bancária, uma fotografia surpreende: tirada em Belo Horizonte, nela ativistas e dirigentes sindicais exibem seus cartazes. Até aí, tudo normal. No entanto, na versão para ser publicada no jornal do sindicato, quatro pessoas simplesmente desaparecem: Carine Martins, bancária da CEF, militante da Oposição Bancária de BH e candidata a vereadora pelo MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista), além de Fernando Neiva, Conselheiro de Administração da CEF, eleito pelos empregados, Leonardo de Souza e Warley Costa, todos diretores do sindicato, mas que romperam com a sua direção majoritária, a Articulação Sindical Bancária, e hoje fazem oposição a ela.
A comparação com Stalin é inevitável. Para assegurar seu poder e sua estrategia, que levou a revolução socialista de outubro de 1917 à derrota, o ditador soviético utilizou inúmeros métodos, dentre eles a falsificação de material fotográfico. Não bastava eliminar fisicamente seus opositores, como fez com Trotsky. Era preciso apagá-los da história. Stalin e seu regime destruíram a revolução. Não há continuidade política entre Lenin e Stalin e foi preciso manipular a realidade para fazer parecer que havia, engrandecendo Stalin, mostrando-o junto a Lenin e eliminando Trotsky. Essa foi uma das funções da adulteração de fotografias.
Mas, para quê a burocracia sindical falsifica fotografias?
Guardadas as devidas proporções, assim como Stalin, a burocracia sindical, quando falsifica fotografias, tem o objetivo de engrandecer o seu papel na história, ao mesmo tempo em que elimina o de seus opositores. Isso não é prática incomum. Muitas vezes, esta falsificação é feita de maneira mais discreta, mas não menos grave. Por exemplo, ao fotografarem somente os dirigentes sindicais quando estão presentes também ativistas de oposição. Mas, desta vez, a falsificação é tão evidente e grosseira que não foi possível disfarçar.
O objetivo da falsificação é mostrar aos trabalhadores que, por trás dos sindicatos, estão eles, e que qualquer vitória vem do esforço deles, os heróis, os dirigentes sindicais. Querem, com isso, mostrar resultado, ganhar prestígio, mas, acima de tudo, querem garantir a reeleição, ou seja, querem continuar no poder da máquina sindical, que traz para eles privilégios materiais e políticos. Por isso, assim como Stalin e os homens que o rodeavam, chamamo-lhes burocratas. São homens e mulheres do aparato. E pelo poder dos aparatos é que guiam suas ações.
Infelizmente, este tipo de atitude tem afastado os trabalhadores dos sindicatos e enfraquecido a luta coletiva. Muitos não se sentem mais representados por estas entidades, não as vêem como suas. Isso é muito ruim, não para os dirigentes sindicais, mas para nós mesmos, os trabalhadores. Os sindicatos devem ser instrumentos de luta da classe trabalhadora. Mas, para que o sejam, devemos ocupar seus espaços e fazer ouvir a nossa voz. Na greve bancária e em todas as lutas, precisamos mostrar que quem manda somos nós, os trabalhadores, e não os burocratas sindicais.
Sobre a fotografia, exigimos explicação e retratação pública dos dirigentes do Sindicato dos Bancários de BH, que utilizaram o jornal da categoria para falsificar de forma grosseira a realidade. E avisamos: fingir que os opositores não existem não nos fará desaparecer.
Comentários