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BRASIL

Para onde querem nos levar?

Gabriela Barboza Pereira, de Palmas (TO).

“Porque empresário nunca ganhou tanto dinheiro como no nosso governo”
“Banco tem que crescer”
“Nós não fomos os (‘loucos’) que prometeram o socialismo, nós acreditamos nas instituições…”

Palavras do ex presidente Lula no discurso de 4 dias atrás.

Não, o PT não é socialista, não é revolucionário, o PT não é classista, não se enfrentou com os banqueiros, defendeu e defende claramente uma ideologia reformista, quis e foi um gerente do capitalismo, dando algumas concessões aos trabalhadores. Para chegar ao poder eles se aliaram com o agronegócio, e não fizeram a reforma agrária, aliaram-se com as grandes construtoras, acabaram por destruir ainda mais a Amazônia e fazer Belo Monte, não demarcaram as terras indígenas, aliaram-se com os banqueiros e permitiram o maior juros do mundo, e o endividamento do povo, aliaram-se com os conservadores e com setores da igreja, por isso não legalizaram o aborto, não criminalizaram a homofobia.

Porém, não podemos ignorar que o PT se construiu com um discurso diferenciado, sustentado nos trabalhadores, nos sindicatos, nos movimentos sociais. Lula significou uma ruptura, ainda que no campo da ideologia, do sentimento de poder das elites para as elites. Ainda que ele tenha trabalhado para elas, ele não era a roupagem por elas preferida. Ele foi o primeiro metalúrgico a ser presidente do Brasil, mesmo sem ensino superior, sendo nordestino, pobre, sindicalista. Isso foi consequência de um elemento classista que se colocou na consciência dos trabalhadores.

Lula e o PT traíram os trabalhadores, chegaram ao poder , mas não transformaram o país. Na prática, as mudanças foram muito aquém do esperado. Enquanto os trabalhadores conseguiam pequenos ganhos, migalhas da onda de crescimento econômico que o Brasil atravessava no momento, os banqueiros lucravam milhões.

Não imunes aos escândalos de corrupção, o governo de frente popular do PT sofreu várias crises, e foi sendo desmoralizado, pois já não garantia a estabilidade econômica à burguesia, e nem os ganhos aos trabalhadores. O PT educou e deseducou os trabalhadores, o discurso do “trabalhador vota em trabalhador”, que era a campanha do partido na década de 80, virou MST junto com Kátia Abreu, a ideologia de que temos que nos unir com os empresários. As ideias de “colaboração de classe” e do “mal menor” ganharam espaço. Assim como a fé nas eleições e na democracia como saída. Não mais a revolução (nunca foi), não mais o socialismo, não mais.

Mas o que o povo colheu disso tudo?
Para nós revolucionários a prova cabal de que o reformismo é uma mentira, um conto de fadas, que serve a desmoralização da esquerda, a desmoralização de toda uma classe. Gera desilusão, gera desesperança ver que milhares de ativistas honestos que depositaram suas vidas nesse partido, viram suas pautas engavetadas, e os escândalos de corrupção da lava-jato, a empresa que era símbolo do país sendo destruída por aqueles que antes diziam defendê-la.

Para nós, a solução é a mesma que Marx dizia no século 19. A saída não é pelas eleições, é nas ruas, no enfrentamento coletivo direto. Depositar suas esperanças num processo eleitoral, mandado pelo capital, sob as regras das instituições burguesas, é caminhar para a derrota, a única saída ou é revolucionária ou não será, e o governo do PT foi a prova irrefutável disso.

Mas, qual a consequência da desmoralização do PT? 
E somente do PT, uma vez que, ao que me parece, a mídia tem se esforçado em centrar e demonizar este partido como o único responsável pela corrupção, e pela crise.

A nós, ativistas de esquerda, gostaríamos que o povo estivesse sim revoltado com o PT, sim revoltado com o que foram esses anos de governo, mas pelos motivos corretos, pela colaboração de classe, pelo serviço ao imperialismo, pelas mulheres que morrem cometendo abortos clandestinos, pelos negros que morrem na favela pelas mãos da PM, e do tráfico de drogas, pelas mães que têm 3 jornadas de trabalho, pelo salário mínimo que não dá, pelos negros mortos pela ocupação brasileira militar no Haiti, pelos indígenas assassinados pelo latifúndio, pelas águas poluídas, pelos hospitais sem comida para seus pacientes, pelos professores que não têm sua DATABASE.

Mas o motivo, infelizmente, não tem sido esse. Há uma despolitização que beneficia sim, um campo ideológico da direita tradicional, que resume todo o problema do PT, ao que para nós, é apenas um dos problemas, que é a corrupção. A pauta e luta contra a corrupção sempre foram pautas sem conteúdo ideológico, superficial, pois para nós marxistas, o capitalismo “é” corrupto, ele não “está” corrupto, ele tem que ser destruído, e não melhorado, para nós não é possível lutar por um “sistema político ético”, pois o capitalismo nunca será ético.

Nós gostaríamos muito que o PT caísse, mas por outras mãos, pelas mãos dos trabalhadores, nas ruas, e que esse processo caminhasse para um avanço na consciência de luta da nossa classe, para lutar contra o ajuste fiscal, contra a retirada de direitos, que hoje é a política do Temer, para salvar os capitalistas da crise.

O PT hoje cai pelas mãos de quem? A serviço de quem?
Há, e posso estar muito equivocada, uma onda ideológica que atinge negativamente os trabalhadores, que quer mostrar para eles que eles foram derrotados, que eles, enquanto classe (pois os trabalhadores depositaram suas esperanças nesse partido), não servem ao poder. Essa onda é a mesma que hoje pune o PT, mas fecha os olhos para a corrupção do PMDB, PSB, PSDB, PR, etcétera.

E por que isso? Se são todos corruptos, porque só vemos alguns nos holofotes?
A onda de palavras de ordem : “Minha bandeira jamais será vermelha”, ou de desmoralização do Lula, com o discurso “um analfabeto ser presidente do Brasil”, ou mesmo de dizerem ” o MST é um bando de criminosos” e essa destilação de fascismo, ódio e perseguição ideológica não atinge somente o PT, mas toda a esquerda. Infelizmente, os bons pagaram pelos ruins, e essa desmoralização tem um objetivo muto preciso: acabar com a esquerda no Brasil.

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lula / pt