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EDITORIAL

Manifestações contra a reforma trabalhista agitam a França

Por Renato Fernandes

Neste 15 de setembro cerca de 170 mil pessoas, segundo a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), principal central sindical do país, saíram às ruas para protestar pela revogação da contrarreforma trabalhista francesa (Loi Travail). Algumas categorias de trabalhadores fizeram um dia de paralisação contra a lei, principalmente aquelas que estão lutando contra as demissões, como no caso da Alstom na cidade de Belfort. A contrarreforma francesa é um ataque aos direitos dos trabalhadores, reduzindo direitos trabalhistas, aumentando a exploração da classe trabalhadora, como analisamos já em outro artigo.

Em Paris, a manifestação contou com cerca de 40 mil pessoas de acordo com a CGT. O secretário geral da central, Philippe Martinez, afirmou que essa foi somente a “primeira” manifestação após o retorno das férias de verão (entre julho e agosto no hemisfério norte). Desde a manhã, coletivos estudantis e sindicatos fizeram piquetes nos locais de trabalho e estudos. Na Universidade Paris 1, por exemplo, os manifestantes bloquearam totalmente a entrada na parte da manhã. Os controladores de voo também fizeram parte das paralisações e com isso ocorreram atrasos nos aeroportos. Também ocorreram piquetes em armazéns da Amazon, em Paris, entre outros locais de estudo e trabalho.

Em Paris a manifestação foi bastante reprimida. Em diversos pontos, os policiais armaram verdadeiros dispositivos de guerra para evitar os piquetes e também a própria manifestação, impedindo, por exemplo, a própria concentração dos manifestantes. Diversos confrontos foram registrados, com policiais e manifestantes feridos de acordo com as agências de notícias.

Perspectivas de luta
Apesar de importante, essa foi uma das menores manifestações nacionais desde que começou a luta contra a Loi Travail. As duas manifestações realizadas este ano – 31 de março e 14 de julho, respectivamente – tiveram mais de 1 milhão de pessoas. Um dos fatores que possivelmente tenha contribuído para que isso acontecesse, foi que a Força Operária (FO) anunciou, um dia antes da mobilização, que essa seria a última manifestação de rua que eles iam convocar. Ela vai tentar anular a contrarreforma por meios jurídicos. A FO é a terceira maior central sindical da França. Soma-se a isso o fato que Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), segunda maior central sindical, já não participava das manifestações contra a Loi Travail.

A crise social na França está longe de terminar e deve aprofundar caso a contrarreforma trabalhista seja implementada. De um lado, a piora na vida dos trabalhadores, as demissões como o fechamento da Alstom de Belfort, entre outros elementos devem continuar. De outro, existe uma séria crise política no governo. Ele amarga uma baixa popularidade. Agrega-se a isso o fato de que há uma total indefinição nos candidatos para as eleições presidenciais francesas de 2017. Assim como nos EUA, os principais partidos, Partido Socialista e os Republicanos, passam por primárias que estão bem acirradas. Por fim, há que se levar em conta as tensões provocadas pelo Estado de Urgência que é uma forma de estado de exceção que dá poderes especiais para as autoridades policiais – essa situação começou em novembro de 2015, após os atentados a uma casa de shows em Paris, e foram prorrogados 4 vezes, a última foi em julho de 2016, após os atentados em Nice e tem a duração de 6 meses – e a violência policial na periferia, principalmente contra os imigrantes e contra todas as manifestações dos movimentos sociais. A possibilidade de que esse caldeirão exploda novamente, como foi no primeiro semestre, é bastante grande.