Faltam quinze dias para as eleições municipais. Depois da segunda rodada de pesquisas, podemos chegar a alguns cenários mais gerais sobre a dinâmica política das eleições municipais deste ano.
Em primeiro lugar, trata-se de eleições atípicas por dois motivos.
Primeiro porque, desde 1988, é a eleição municipal mais influenciada pela conjuntura nacional. Naquela eleição o ascenso de greves e lutas culminou com a vitória do PT na Prefeitura de São Paulo e o fortalecimento nacional deste partido. Representou um momento preparatório para o PT se apresentar com peso para as eleições de 1989 com Lula Presidente. Nesse ano, temos uma eleição fortemente marcada pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela crise do PT, que pode gerar seu pior resultado eleitoral desde 1985.
O segundo motivo, que confere um caráter inédito a esta eleição, são as novas regras eleitorais. Este é o primeiro pleito depois da reforma eleitoral de Cunha que reduziu o tempo de TV, diminui o tempo de campanha e buscou atingir principalmente as candidaturas da oposição de esquerda ao PT.
A ofensiva burguesa desde março de 2015, que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff e ascensão de Temer, foi possível pelo giro à direita das classes médias e a unificação das distintas frações da burguesia, que passaram a defender a manobra parlamentar reacionária que significou o impedimento de Dilma.
Esse bloco social que sustenta o governo Temer, com distintas alternativas políticas regionais, vai capitalizando politicamente as eleições municipais. Isso significa que a base aliada do governo (PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, DEM, PRB, PTB, SD, PSC, PP) vai liderando as pesquisas em 18 das 26 capitais, incluindo as cidades mais importantes do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
Os números mostram que, apesar do profundo repúdio ao presidente Temer, o governo deve dirigir a maior parte das capitais do país. As eleições apontam uma vitória significativa do governo, que se somará ao fato de que Temer já possui uma sólida maioria no Congresso e no Senado para aplicar suas reformas.
O PT vai liderando as pesquisas apenas em Rio Branco (AC). O PC do B está liderando em Aracaju (SE). Nas capitais mais importantes tem chances de chegar ao segundo turno em Recife e Porto Alegre, com poucas possibilidade eleitorais de vitória. Na maior parte das capitais o PT tem índices inferiores a 10%. É provável a derrota do PT na Prefeitura de São Paulo (Haddad não chega aos 10% das intenções de voto).
A decadência eleitoral do PT nestas eleições se deve ao profundo desgaste que esse partido vem sofrendo desde a aplicação do ajuste fiscal por Dilma no início de 2015.
O indiciamento de Lula na Lava Jato às vésperas das eleições aumenta ainda mais o desgaste do PT. Tem reflexos imediatos em seus antigos bastiões eleitorais, como no Nordeste e em São Bernardo do Campo. O PT não deve ganhar as eleições em nenhuma capital do Nordeste e, apesar de dirigir a prefeitura de SBC, está hoje em quarto lugar nas pesquisas (6,3%) na cidade.
Somando todos esses fatores, o cenário mais provável hoje é que o PT e Lula serão os grandes derrotados dessa eleição.
O PSOL ocupa um espaço importante em algumas capitais
A crise do PT gerou um crescimento eleitoral do PSOL mesmo com a reforma eleitoral de Cunha.
Mesmo nadando contra a corrente, com pouco tempo de TV e boicote da imprensa, as campanhas do PSOL tem destaque nas pesquisas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém e Cuiabá. Tem uma boa votação ainda em Florianópolis e São Paulo.
Em Sergipe, as pesquisas indicam um peso importante de Vera, mulher, negra e operária, candidata pelo PSTU.
Não restam dúvidas que a melhor forma de ocupar esse espaço a esquerda do PT seria a construção de uma Frente de Esquerda, em nível nacional, entre PSOL, PSTU, PCB e os movimentos sociais independentes.
A apresentação de uma saída unitária nos permitiria aproveitar ao máximo as oportunidades. Nessa conjuntura tão difícil, de construir uma esquerda independente do PT. Superar o petismo é uma tarefa urgente.
Comentários