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EDITORIAL

O Brasil depois do impeachment: o que esperar?

Nesta terça-feira (13), o Governo Temer anunciou seu primeiro pacote de privatizações: pretende entregar as companhias de água e energia às grandes multinacionais estrangeiras. No projeto apresentado, saneamento básico não é um direito, e sim um serviço voltado ao lucro. As estradas também não são publicas, são concessões para fazer fortuna aos donos de pedágios, afinal o direito de ir e vir é pra quem pode pagar. Este é o Brasil de Temer.

Na grande imprensa, a decisão foi recebida com comemoração efusiva. O entusiasmo era incontido: “O Brasil que dá certo”. Mas os grandes empresários, ao mesmo tempo, cobram que o governo apresente as reformas sem demora.

Para tanto, é necessário “dourar a pílula” ao povo. O Ministério do Trabalho lançou na internet um vídeo afirmando que as garantias trabalhistas contidas na CLT serão respeitadas. Puro engodo: retirada de direitos, agora, eles chamam de “modernização”.

Desse modo, ficam evidentes quais foram os interesses que patrocinaram o impeachment. Apesar do PT ter demonstrado sua fidelidade à classe dominante, é mais útil aos poderosos coloca-lo na oposição nesse momento. O governo precisa estar disposto a ser odiado, aplicar o ajuste antipopular a fundo e fazer as contrarreformas em tempo recorde. Temer está aí justamente para isso.

Não será fácil para Temer

Foi mais difícil que o previsto. Logo na primeira semana, Temer teve que enfrentar um poderoso movimento social. Nas ruas a juventude mostrou força. Agora, será preciso ganhar musculatura e unificar com os trabalhadores.

Os atos de rua estão perdendo fôlego, é preciso reconhecer. Mas o recado foi dado: há muita indignação popular contra o governo ilegítimo. Além da multidão que foi às manifestações, existe bastante revolta entre os trabalhadores com as propostas que retiram direitos.

Para derrotar Temer será preciso unir todos os setores. O movimento sindical vai precisar sair da rotina. A esquerda socialista precisa se unificar e apresentar uma alternativa. É preciso unificar operários, estudantes, sem-teto, funcionários públicos e desempregados. Da unidade, vai nascer nossa força!

A resistência tem que se fortalecer. O funcionalismo público protestou ontem em Brasília. No próximo dia 22, haverá mobilização nacional. Os metalúrgicos marcaram paralisação em todo país para o dia 29. Os sindicatos terão o desafio de mudar. Levar os trabalhadores às ruas. Acabou o tempo dos balões, os atos de aparato já não tem qualquer efeito.

O PT na Oposição

A classe dominante quer ganhar duas vezes. Ganhou com o impeachment, agora quer ganhar novamente, formando uma oposição dentro da ordem. O partido que controla os sindicatos mais importantes do país e que, mesmo depois de 13 anos de governo, conservou um importante poder de mobilização pode ser útil aos capitalistas fora do governo.

A estratégia “Lula 2018” é conveniente à burguesia. Para passar as reformas não é preciso apenas um governo da direita “puro sangue”, também é necessário uma oposição disposta a ceder, que não tenha coragem de ameaçar Temer com a força da mobilização social e que aposte todas suas fichas no viciado jogo eleitoral.

No último domingo, dia 11, a mobilização em São Paulo demonstrou que o PT quer desgastar Temer, mas vacila e não joga todos os esforços para derrubá-lo. Erro grave. É preciso aprender com a história. Em 1992 a opção do PT foi: “Feliz 1994”. Negou-se a defender novas eleições, construiu uma oposição disciplinada a Itamar. Resultado: 8 anos de neoliberalismo com o PSDB.

Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, o PT esperou. Mais uma vez, foi mera oposição parlamentar, sem ameaçar o status quo. Agora a história coloca o PT novamente perante a disjuntiva: enfrentar o Governo Temer pra valer ou fazer oposição dentro da ordem? A vida pede coragem. Não é hora de pactos. Fora Temer. Eleições Gerais, já. Nenhum direitos a menos!