Diogo Xavier, de Recife, PE
A cidade de Recife viveu nesse domingo (11), mais uma vez, cenas de violência protagonizadas por torcidas organizadas em um dia de clássico. Algo também frequente em todo o país.
O Futebol é o maior esporte de massas no Brasil. Multidões se dirigem aos estádios nos dias de jogos, e quando existe a rivalidade entre os times essa violência aflora. No entanto, essas cenas são utilizadas pela mídia sensacionalista para jogar todo o peso da violência no futebol em prol da elitização e exclusão da população mais pobre dos estádios. Em Pernambuco, as torcidas organizadas estão proibidas há alguns anos. De acordo com a lei, as torcidas não podem frequentar os estádios. Isso deveria servir para amenizar os casos de agressões, mas na verdade só serve para proibir a festa e dar uma resposta para aqueles que não pensam o problema a fundo.
Essas proibições também atingem a maior parte do país. Em abril, em um confronto entre torcidas do Palmeiras e Corinthians, uma pessoa morreu na estação de metrô a 30 km do local do jogo. A decisão do Ministério Público foi acabar com a torcida visitante no clássico, medida que mostra nitidamente que não existe uma preocupação em se resolver o problema de verdade. Essas ações provam que o único intuito é dirigir o futebol para que aqueles que lucram com o esporte possam ganhar ainda mais.
A proibição de baterias, faixas, bandeiras e outros materiais só servem para restringir o modo de torcer do povão, substituindo esse torcedor pelo torcedor consumidor, um torcedor padrão FIFA. Essa elitização faz com que as medidas necessárias para acabar com a violência no futebol não sejam tomadas. Ao invés dessa preocupação, se eliminam as organizadas e não se preocupam com o espetáculo como um todo.
O escritor Eduardo Galeano no seu livro Futebol ao Sol e a Sombra escreveu que “A violência não vem do futebol como as lágrimas não caem dos lenços”, e é exatamente nesse erro que incorrem aqueles que acreditam que a violência é um problema do futebol. O Brasil é um país violento, fundado em bases de escravização dos negros e exclusão dos povos indígenas. Esse foi o método das elites manterem a sua dominação, entretanto quando essa violência é praticada pelos debaixo, ela choca. Por isso, o assalto de uma bolsa no cento da cidade é mais chocante que o assassinato de jovens na favela.
Os jovens pobres e negros de periferia sobrevivem num sistema de violência, seja por parte da polícia ou dos seus pares para sobreviver. Quando essa violência se mantém no espaço do futebol, nada mais é do que a extensão desse círculo vicioso de violência, que não vai acabar enquanto as autoridades estiverem mais preocupadas em manter os lucros bilionários dos donos do futebol. Enquanto esse sistema continuar, muitas outras brigas, mortes e espancamentos vão acontecer.
É necessário que os jovens entendam quem são seus verdadeiros inimigos. Nunca foi tão precisa a frase “Paz entre nós! Guerra aos senhores!”. Num contexto de alto desemprego, perda de direitos e extermínio da juventude negra, precisamos nos unir para derrubar aqueles que tramam os ataques contra a nossa classe e querem nos ver matando os nossos irmãos.
Foto: Anderson Freire/Divulgação
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