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BRASIL

A saída é pela esquerda: com PPPs e terceirização não se chega ao segundo turno!

Por Matheus Gomes, de Porto Alegre

A campanha eleitoral em Porto Alegre entrou num momento decisivo. As pesquisas eleitorais divulgadas indicam uma disputa acirrada entre Luciana Genro (PSOL), Sebastião Melo (PMDB) e Raul Pont (PT) pela ida ao segundo turno.

O discurso que alavanca Melo é conhecido: “gente da gente”, “homem trabalhador”, “experiente na gestão do município”. Lembra muito a construção da figura de José Ivo Sartori em 2014. Somente uma narrativa mentirosa pode desvincular Melo de seus “correligionários ilustres” (Michel Temer, Eduardo Cunha e Sartori), para tentar garantir o continuísmo em Porto Alegre, depois da farsa do “melhorou vai melhorar” de José Fortunati, que resultou em mais desigualdade, violência, corrupção e privatização.

Por outro lado, Raul Pont tenta recompor a influência política petista entre a juventude e os trabalhadores porto-alegrenses após o impeachment de Dilma, vinculando-se às mobilizações de rua. Entretanto, sua estratégia, desgastar Temer em busca da reedição de um ciclo eleitoral petista a partir de 2018, não amplia a mobilização e organização dos movimentos sociais sob uma perspectiva anticapitalista. Não há diferença entre o PT porto-alegrense e o partido que, em 1406 cidades do Brasil, está ao lado do PMDB, PSDB, DEM, dentre outros partidos que apoiaram o impeachment. Nos últimos anos, o PT foi inimigo da luta pelo direito à cidade, apoiando-se nos mega-eventos esportivos, para impulsionar reformas urbanas e criminalizando os movimentos sociais.

Luciana Genro (PSOL) é a única candidata da esquerda socialista em Porto Alegre que pode derrotar o projeto do PMDB e ser uma alternativa ao desastre que significou os governos do PT na política brasileira e gaúcha. Essa posição alcançada traz grandes responsabilidades à Luciana. Acreditamos que sua candidatura deve impulsionar as lutas do movimento social pelos direitos da classe trabalhadora e da juventude. Por isso, estamos abrindo um debate em relação às orientações equivocadas da sua campanha.

A candidatura de Luciana Genro deve impulsionar o Fora Temer

O fato de Luciana estar na disputa para ir ao segundo turno é reflexo da conjuntura nacional. O desgaste gigantesco dos partidos da ordem abriu espaço para sua candidatura. Sendo assim, ela precisa estar diretamente conectada com as mobilizações de rua e a corrente de opinião que exige Fora Temer em todo o país.

Nós, do MAIS, participamos de cinco manifestações em menos de uma semana na capital, articuladas por frentes em que participam PT e o PCdoB, mas compostas por diversos movimentos que estiveram na oposição de esquerda nos últimos anos e compõem a candidatura de Luciana (PCB, Alicerce, UJR, CEDS, Fortalecer o PSOL), jovens secundaristas e manifestantes identificados com o Bloco de Lutas de 2013. Esses atos não foram pelo “Volta Dilma”, mas sim unificados contra Temer e o impeachment, que visa a retirar os direitos da classe trabalhadora.

A ausência de Luciana nesses protestos foi um erro que acabou sendo aproveitado pelo PT, que disseminou uma campanha de calúnias chamando-a de golpista, numa nítida manobra eleitoral. Ao contrário disso, Luciana foi contra o impeachment e rejeita o programa de Michel Temer. Pensamos que, unidos nas ruas, poderíamos ter organizado um bloco com condições superiores para disputar o rumo das manifestações contra aqueles que apostam na estratégia de Lula 2018.

Terceirizações e PPPs não podem fazer parte do programa da esquerda socialista

Luciana apresentou pontos que não concordamos no debate da Bandeirantes. Terceirizações não são úteis, nem tem como fraqueza a falta de fiscalização. Na verdade, elas são uma expressão do neoliberalismo e da precarização das relações de trabalho; uma necessidade do modelo de acumulação capitalista a nível internacional.

O exemplo do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) é sintomático: trabalhadores negros são condenados à condições análogas a escravidão nas ruas da cidade; as empresas terceirizadas envolvem-se em escândalos de corrupção e favorecem a “máfia do lixo”. A esses trabalhadores, Luciana deve garantir direitos, lutar para transformá-los em servidores públicos, incentivar sua mobilização e organização.

Da mesma forma, nos posicionamos contrários à sua declaração sobre as parcerias público-privadas. Entendemos que devemos lutar para fortalecer o setor público e o controle dos trabalhadores sobre sua gestão. Precisamos superar a ideia de que é necessário abrir mão do programa para governar, pois essa escolha se demonstrou uma forma inócua de transformação social com a experiência do PT.

Tais declarações de Luciana no debate apenas serviram para jogar dúvidas sobre a importância de sua candidatura num setor do ativismo que poderia cumprir um papel muito importante, somando-se à campanha nessa reta final. Não achamos que esse é o caminho para irmos para o segundo turno. Agora é hora de nos aproximarmos mais ainda do movimento social, a fim de transformar essa campanha numa grande confluência de lutas por um programa anticapitalista para a cidade de Porto Alegre.