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BRASIL

No Tatame e no Octógono, as mulheres dão show nas artes marciais

Por: Miguel Frunzen, do Rio de Janeiro, RJ e Karen Capelesso, de Curitiba, PR

Não foi somente nas Olimpíadas que a mulherada teve destaque nos esportes e, em especial, nas lutas. As meninas estão simplesmente ‘voando’ no octógono do UFC e de outros eventos de MMA. E em se tratando de MMA, é claro, as brazucas dão show com a atual campeã do peso galo, Amanda Nunes, na linha de frente. Negra, LGBT e atual dona do cinturão que era de Ronda Rousey.

O UFC foi uma criação brasileira a partir da lendária família Grace. O evento foi vendido baratinho para os americanos e hoje é o evento esportivo que mais cresce no mundo. Pode-se dizer que o UFC já teve várias eras. A era do Jiu-Jitsu, a era do Muay Thay, a era do Wrestling. Todas elas fazem parte da essência do evento. Porém, é inevitável o destaque que passaram a ter as lutas femininas. É impressionante ver como a presença das mulheres oxigenaram o MMA, que já estava um tempo abatido por um certo conservadorismo das lutas consideradas amarradas de uma boa parte dos lutadores homens.

Ronda Rousey tem parte no mérito disso tudo. Até que em 2013, no UFC 157, Ronda enfrenta Liz Carmouch no card principal batendo o maior recorde de pay-per-view da história com R$ 18 milhões de lucro. Até alguns lutadores reclamaram com “esse negócio de mulher no card principal”. Mas, seria injusto atribuir isso apenas à Ronda e ela mesma sabe que existe uma brasileira pra dividir isso: a avassaladora Cris Cyborg.

Considerada como a maior lutadora de todos os tempos, Cris possui um cartel de 17 lutas com 16 vitórias, sendo 13 nocautes. Isso é mais nocautes que Ronda e Miesha Tate juntas. Dona de um perfil agressivo e um Muay Thay traumático para as oponentes, Cris Cyborg fez sua estréia no UFC 198 neste ano abatendo Leslie Smith em 81 segundos.

Infelizmente, além de enfrentar uma série de injúrias e insultos por parte dos patrões do UFC, Cris enfrenta uma dificuldade das lutadoras no MMA que é a falta de categorias. Pra fazer sua luta no UFC, ela teve que bater o peso de 63,5 kg que é abaixo de sua categoria até 65,7 kg. Isso faz muita diferença e é extremamente perigoso à saúde dela.

Cris tentou levar o cinturão de campeã no Invicta, evento feminino de MMA, para a entrada na arena, o que é comum nas lutas. A ideia era mostrar que é campeã e precisa ser tratada como tal. Mas, o UFC não permitiu que o levasse e ainda a desafiou para uma próxima luta nos 63,5 kg. Ela recusou e disse que só o fará se for contra Ronda.

Nesta divisão, vale lembrar quem é a dona do cinturão. Amanda Nunes sagrou-se campeã do UFC no dia 9 de julho, simplesmente caçando o crânio da sua oponente, a detentora do cinturão até aquele momento Miesha Tate, que não suportou a ferocidade do boxe fulminante de Amanda e desabou no octógono, se tornando uma presa fácil para um mata leão aplicado contra seu queixo. Na comemoração da vitória, como não podia faltar, Amanda correu para sua namorada, a lutadora do UFC Nina Ansaroff e comemorou com um beijo em frente às câmeras.

Sabemos que essa virada do UFC em dar destaque para as lutas femininas passa pelo mérito das lutadoras, mas principalmente, pela alta lucratividade. Além de outros problemas expressos no evento, como a mercantilização do corpo da mulher desde as Ring Girl, até as próprias lutadoras, salta-se aos olhos a desigualdade salarial de gênero. O maior exemplo disso é a própria Ronda Rousey, mesmo quando ainda era invicta, fazendo sempre as lutas principais por ser uma das maiores ‘estrelas’ do UFC, recebia menos que um lutador homem que não vencia há dois anos.

Para quem é apaixonado por luta, é emocionante ver essa maior participação e destaque para as mulheres. A vibração que contagiou o país com a vitória de Rafaela Silva nas Olímpiadas, com a medalha de ouro, uma mulher negra, lésbica e periférica demonstrou que representatividade é importante. Sabemos que não é fácil ser uma mulher em esportes que são predominantemente masculinos, ainda mais quando esse esporte é conhecido como agressivo pela combatividade, característica atribuída aos homens e não às mulheres. Mas, as mulheres já deram o recado. Mesmo com todas as contradições e condições adversas, estão tomando lugares, dos tatames aos octógonos.

Foto: William Lucas/ Inovafoto

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