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ENTREVISTA | Carine Martins responde 10 perguntas e apresenta o programa do MAIS para BH

Por Izabella Lourença, de Belo Horizonte

Carine mantém uma campanha ideológica em defesa dos trabalhadores e do povo oprimido, mas não deixa de ter propostas concretas para a cidade, como a criação de casas abrigo e delegacias de mulheres, combinadas com a desmilitarização das polícias. Ela também avaliou como empresarial a gestão do atual prefeito Marcio Lacerda e, claro, não deixou de falar sobre o contexto político no Brasil e os desafios das organizações de esquerda.

1)Por que você é candidata a vereadora em Belo horizonte?

Eu participo há mais de 10 anos dos movimentos sociais em BH. Sempre acreditei e continuo acreditando que a atuação política das pessoas através das mobilizações é o que pode transformar a sociedade. Mas também vi vários políticos fazerem carreira, utilizando as eleições para se promoverem pessoalmente. Eu acredito que política não é para se dar bem e quero dar voz as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras na campanha eleitoral e na câmara de vereadores.

2) Belo horizonte é a cidade onde mais acontece casos de violência doméstica contra a mulher no estado e sua campanha é cheia de propostas para as mulheres trabalhadoras. O que pretende fazer em relação a isso?

De fato, BH chega a registrar mais de mil casos de violência contra a mulher por mês – e sabemos que 60% dos casos são contra mulheres negras. Em contrapartida, o governo federal investe 26 centavos por mulher no combate a violência de gênero. Isso, somado ao descaso da prefeitura, significa que em BH tenha uma delegacia de mulher e uma casa abrigo com apenas 10 vagas.

O município precisa destinar recursos próprios e combater efetivamente a violência, oferecendo suporte para que as mulheres possam sair da situação de violência e punindo os agressores que ainda hoje passam impunemente.

3)A violência contra LGBTs também é gritante em BH. Quais são suas propostas para combate-la?

Nosso estado é o terceiro que mais mata LGBT no Brasil. Um recorte importante é que a maioria das vítimas são jovens transexuais. Na câmara, quero apresentar projetos junto com os movimentos sociais de reconhecimento da identidade de gênero e, assim como fizeram os deputados estaduais no Rio de Janeiro, criminalizar a LGBTfobia mesmo que seja em nível municipal. Também proponho um projeto que discuta a LGBTfobia nas escolas. Os políticos que propõem o projeto escola sem partido querem, na verdade, que a nossa educação continue sendo discriminatória. Nós do MAIS e dos movimento sociais queremos o contrário: que a educação seja emancipadora.

4)Em 2015 o IBGE constatou que mais de 1 milhão de brasileiras provavelmente já fizeram aborto no Brasil. Mesmo com essa quantidade, esse tema continua polêmico no Brasil. O que você pensa sobre isso?

É lamentável que a gente continue tratando esse tema como um tabu e não como uma questão de saúde e escolha da mulher. Isso faz com que esses 1 milhão de abortos na maioria das vezes sejam realizados em condições de risco, pois não há acompanhamento médico.

Cerca de 60% dos abortos são realizado por mulheres negras e mais de 400 mil são feitos na região sudeste. Então sabemos que esse é um fato constante na vida das mulheres trabalhadoras belorizontinas. Mas o município, o estado e a união continuam ignorando o fato de que a cada 2 dias uma mulher morre no Brasil vítima de aborto clandestino e até a ONU já recomendou sua descriminalização. Em BH uma médica chegou a ser presa acusada de realizar aborto em outras mulheres.

Eu sei que como vereadora não posso legalizar o aborto no município, essa é uma discussão nacional. Mas eleger mulheres que defendem essa ideia e priorizem a vida e a saúde da mulher é uma boa maneira de começar a quebrar o tabu em torno desse tema e ganhar a sociedade para a luta em defesa da legalização.

5)O mapa da violência 2016 mostrou, mais uma vez, que a maioria das vítimas de homicídio no Brasil são jovens entre 15 e 19 anos e negras. Como isso acontece em BH?

É verdade. Quase 60% das vítimas de homicídio no Brasil são jovens nessa idade. Também é verdade que enquanto o número de assassinatos da população branca vem caindo desde 2003, o número de assassinatos contra negros, vêm aumentando. Chegando ao absurdo de 158,9% mais de negros por arma de fogo. Apesar do número de homicídios ter caído em Belo horizonte e em Minas Gerais, das 3266 mortes por armas de fogo em 2014 no estado, 2471 foram de pessoas negras.

Nós sabemos que essas mortes acontecem por culpa dos governos. Por um lado, relegam a população negra a sua própria sorte, não garante as condições mínimas de vida como saneamento, saúde, educação e emprego. Assim, muitos se alistam no tráfico que é responsável por boa parte dessas mortes. De outro lado, muitos jovens negros morrem pela mão do próprio estado, através da Polícia Militar, chamada de esquadrão da morte pela ONU. Isso é o que chamamos de genocídio da juventude negra.

Em BH, ao invés da prefeitura ter políticas para acabar com o esquadrão da morte, ela avança para militarizar até a guarda municipal. Por saber que as armas do estado apontam para os jovens negros da periferia, sou a favor da desmilitarização das polícias. O combate a violência deve ser feito dando condições iguais de vida para a população, começando com emprego para todos e possibilitando que todos e todas possam estudar.

6)Como vocês avaliam a prefeitura de Marcio Lacerda?

Bom, desde o seu primeiro mandato Lacerda tem uma gestão voltada ao empresariado. Principalmente para a máfia do transporte que continua aumentando as passagens com um transporte péssimo e para os empresários da construção civil. Ele contratou obras intermináveis e ineficientes, chegando ao cúmulo de conceder licitação para a COWAN mesmo depois dessa empresa ter construído um viaduto que caiu e matou duas pessoas.

Lacerda ainda debochou da cara da população em vários momentos, deu declaração dizendo: “não sou baba de cidadão”, após uma morte decorrente das enchentes na cidade. Ele disse também que “os ônibus andam cheio porque cidadão não tem paciência de esperar o próximo”.

Por isso sua popularidade está muito em baixa: 56,3% da população desaprovam seu governo. Entre a população que recebe até cinco salários mínimos, esse percentual chega a 61%. Entre as mulheres, também quase 60% desaprova Lacerda. Seu candidato a continuidade, Délio Malheiros, não deslancha. É hora de acabar com essa lógica empresarial na prefeitura e governar para os trabalhadores.

7)Qual candidato/a a prefeitura o MAIS apoia em BH?

Apoiamos a Vanessa Portugal. Ela é professora do barreiro e uma lutadora muito conhecida em BH. Nós temos muita proximidade com ela, principalmente por ter uma campanha voltada para os trabalhadores e trabalhadoras, que são quem faz a cidade funcionar e também quem realmente necessita da melhoria dos serviços públicos e garantia de empregos. Nós confiamos muito em Vanessa e boa parte da população também.

8)Sobre essa questão dos empregos, como pretende garantir isso em BH?

O desemprego é fruto da crise econômica e da política do governo federal nos últimos anos, mas podemos ter iniciativas locais que minimizem isso. Primeiro, acabando com as isenções fiscais das empresas que demitem em massa, depois podemos melhorar os serviços públicos de forma a minimizar os efeitos do desemprego, por exemplo garantindo que os desempregados tenham passe livre nos ônibus e metrô. Também temos que nos preocupar com a situação da maior fábrica de BH, a Vallourec (antiga Mannesmann), que já apagou um forno e está, devagarinho, transferindo a produção para Jeceaba. O município tem que intervir. Se a empresa fechar, teremos milhares demitidos na região do Barreiro. Uma catástrofe social.

9)O país vive uma crise não só econômica, mas também política. Como isso afeta as eleições em Belo horizonte?

No Brasil eu vejo que a crise econômica que afeta a vida de inúmeras famílias aprofundou a crise política, levando o PT a ter grande rejeição da população e sofrer uma manobra parlamentar. No governo de Michel Temer estamos vendo acelerar as retiradas dos direitos trabalhistas, principalmente no serviço público, que tem impacto sobre a vida de toda a população. Mesmo diante disso, o que vemos foi o PT tentar negociar com os partidos burgueses a sua manutenção no poder e mesmo quando já havia saído da presidência, não lutou de verdade contra o golpe parlamentar. Prova disso é que fizeram alianças em várias cidades com os próprios partidos da direita, como PMDB e PSDB. O que o PT quer é tentar ganhar as eleições novamente em 2018.

Nas eleições aqui em BH, a chapa do PT e PCdoB tenta confundir a população, como se não fossem eles que há mais de 10 anos enganam o povo, prometendo defender os trabalhadores e atacando seus direitos quando chegam no poder.

Mas as pesquisas em BH já apontam que pelo menos 8% do eleitorado belorizontino está buscando uma candidatura à esquerda do PT, como Vanessa Portugal do PSTU e Maria da Consolação do PSOL. Ao mesmo tempo, vemos também candidaturas da direita ganhar força. A esquerda socialista tem o grande desafio de se mostrar como uma real alternativa nessas eleições.

10)Essa alternativa a esquerda não se apresenta de maneira unificada nessas eleições. Por que?

Isso é uma pena. A esquerda poderia ocupar um espaço muito maior nessas eleições se tivesse unida em uma candidatura única. Nós do MAIS batalhamos pela unidade da esquerda. Mas isso não aconteceu nem em BH nem na maioria das capitais do país, ora pela postura da maioria do PSOL de repetir os erros do PT, fazendo alianças com partidos descomprometidos com a classe trabalhadora, como PPL, PV e REDE, ora pela postura do PSTU de querer apresentar sozinhos seus candidatos. O principal motivo para não ter frente em BH foi a recusa do PSTU. Na minha opinião isso foi um erro. Nós do MAIS continuamos buscando a unidade da esquerda no dia-a-dia.

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