Pular para o conteúdo
EDITORIAL

Lula e o PT querem derrubar Temer?

02/09/2016- São Paulo- SP, Brasil- O ex-presidente Lula partica da Reunião da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula

O desfecho do impeachment não foi como as elites gostariam. Ao invés de um final em águas serenas, o capítulo derradeiro da farsa acendeu a faísca da revolta. Temer virou sinônimo de golpista. Nas ruas, milhares e milhares ecoam o ‘Fora Temer’ e pedem ‘Eleições Diretas Já’.

Atordoado pelo canto das ruas, o novo governo começou a balançar, sem confiança em si mesmo. O fantasma da rebelião popular paira sob o presidente usurpador.

É possível derrotar Temer. As manifestações já demonstram a força que tem a mobilização social. A grande imprensa noticiou nos últimos dias que a cúpula do governo está preocupada com o crescimento dos atos. A classe dominante começa a duvidar da capacidade de Temer para aplicar o ajuste antipopular.

Por isso, não é hora de afrouxar. Ao contrário, a temperatura deve subir: a resistência tem que se fortalecer. Para tanto, é necessário pensar a estratégia da esquerda para tirar esse governo ilegítimo.

Derrotar Temer nas ruas e nas greves ou ‘feliz Lula 2018’?
Lula e o PT ainda têm um relevante peso político e social, apesar de todo desgaste acumulado. Agora na oposição, depois da rasteira que levaram dos antigos aliados, o discurso do petismo é de enfrentamento.

Mas, Lula quer mesmo derrubar Temer? Ou o objetivo é, na verdade, preparar terreno para a candidatura em 2018? Estão dispostos a jogar a influência que possuem para derrotar o governo e os ataques aos direitos dos trabalhadores?

Todos os sinais até agora dão conta de que o objetivo de Lula é eleitoral. Construir uma frente de alianças para concorrer à Presidência em 2018, reeditando o projeto de conciliação de classes com uma nova roupagem. O candidato seria, preferencialmente, o próprio Lula ou, como segunda opção, Ciro Gomes (PDT).

Portanto, não temos nenhum motivo para acreditar que Lula esteja de fato empenhado em construir a resistência dos trabalhadores e do povo.

Podemos estar enganados, por isso perguntamos: Lula e o PT estariam a favor de construir uma jornada de paralisações e manifestações rumo à greve geral esse ano, para derrubar Temer e seus ataques aos direitos?

Tirar lições da falência do projeto de conciliação de classes
O PT governou junto com a direita por 13 anos. Teve como aliados nomes como Sarney, Temer, Renan Calheiros, Collor, Maluf e uma longa lista de coronéis, corruptos, banqueiros e pecuaristas.

Dilma foi derrubada pela direita não porque feria os interesses das elites, não porque fazia um governo de esquerda contra os banqueiros. Ao contrário. Os governos do PT sempre fizeram de tudo pra agradar a burguesia. A coisa chegou a tal ponto que Dilma (PT) traiu as promessas de campanha e aplicou um duríssimo ajuste fiscal, com restrição de direitos trabalhistas e cortes brutais nas verbas sociais. No fim, sem apoio popular, Dilma foi golpeada pelos ex-aliados da direita.

A falência do projeto de conciliação de classes de Lula e do PT está na base do impeachment. A história mais uma vez se repetiu como tragédia: a esquerda que se entrega à classe dominante prepara a própria cova. Essa é uma lição decisiva.

A reconstrução da esquerda passa pela superação da estratégia e do programa do PT. É tempo de luta de classes e não mais de conciliação com os inimigos dos trabalhadores.

Foto: 02/09/2016- São Paulo- SP, Brasil- O ex-presidente Lula partica da Reunião da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo. Por: Ricardo Stuckert / Instituto Lula