A revolução não será televisionada

Por: Pedro lhullier

No início desta semana, na última segunda-feira (5), foi celebrado o Dia do Trabalho nos Estados Unidos e no Canadá. A divergência aparentemente acidental entre essa data e o 1º de Maio, quando é comemorado o Dia Mundial do Trabalhador, na verdade tem uma causa deliberada: o presidente estadunidense Grover Cleveland procurava coibir a solidariedade internacional entre organizações operárias que resultaria de ter a celebração em um dia em comum. Com efeito, muitos norte-americanos, hoje em dia, crescem sem saber da história de lutas trabalhistas ao redor do mundo que é lembrada nessa data. É revelada nisso uma das armas utilizadas pela burguesia na luta de classes – o seu controle sobre o fluxo de informações.

Na sexta-feira, dia 2 de setembro, 180 milhões de trabalhadores pararam a Índia na maior greve da história. Para uma perspectiva mais ampla, esse número representa 2,5% da população mundial em um protesto contra o neoliberalismo. Uma mobilização nessa escala é de tremenda significância para o proletariado indiano e internacional. É um marco importante no ressurgimento do movimento operário no Leste Asiático, região que concentra mais de metade da humanidade.

Talvez exatamente por isso a mídia burguesa tenha permanecido quase completamente omissa. Tanto Globo, Folha e Estadão, quanto os veículos estrangeiros CNN, NBC e Sky News não publicaram sequer uma matéria sobre a greve, a despeito de sua importância. O mesmo se vê durante qualquer onda de protestos de natureza anticapitalista. Quando eles não são omitidos pela mídia externa e tratados, no máximo, como uma inconveniência ao trânsito pela mídia local. O foco da matéria é dado ao lado criminal, prisões, vandalismo e conflitos com a polícia.

O mesmo que se vê no jornalismo, o veículo da informação presente, também é visto na historiografia, o veículo da informação passada. As revoluções de 1848, marcantes da tomada de poder político pela burguesia e do fim da sua atuação como classe revolucionária, tendem a receber pouquíssima atenção da própria historiografia burguesa. Semelhante acontece com a Revolução Gloriosa, da Inglaterra, e a Revolução Francesa. Na primeira, há foco no seu caráter religioso, que, embora presente, é largamente irrelevante de um ponto de vista material. Na segunda, o foco está no ‘O Terror’ de Robespierre, ou no Império de Napoleão, e não na desintegração do antigo regime feudal e construção de uma ordem social capitalista.

A importância desses eventos para a vitória da ordem social burguesa contra a feudal é ignorada pela própria burguesia, que, contente com o mundo como está, esqueceu de sua própria história como classe revolucionária. Agora, parece esquecer da própria possibilidade de revolução, resignando-se ao ‘fim da história’ de Fukuyama. A vitória temporária no combate ideológico-informacional deixou a classe burguesa alienada da própria luta de classes. Ela passa a ver as vitórias sobre o proletariado em âmbito infraestrutural, como o corte de direitos trabalhistas, como necessárias para a sobrevivência da sociedade.

É tarefa dos socialistas, no momento presente, reviver no proletariado a memória da ruptura radical do modo social. É transformar essa visão proletária, mas transposta da burguesa, que dá origem à socialdemocracia, ao reformismo, e ao apoliticismo. E, no contexto de crise mundial, novamente oferecer uma alternativa revolucionária.