Começou um novo momento político no país. Temer se enganou, não foram 40 pessoas, foram milhares, 100 mil marcharam pela Av. Paulista e abriram uma oportunidade. Começou a revanche dos trabalhadores e do povo pobre. É hora de avançar sem medo.
É possível virar o jogo
O julgamento no Senado deixou nítido que o processo era uma farsa. Não houve crime de responsabilidade, mas a argumentação jurídica não é o bastante. O povo tem o direito de tirar um presidente, ainda que ele não tenha cometido um crime segundo a constituição. Entretanto, não foi pelas mãos do povo que Dilma Roussef (PT) foi impedida de seguir o mandato.
O impeachment foi protagonizado pelos políticos mais corruptos, pelos representantes do ódio contra os setores oprimidos, por mobilizações de brancos, articuladas com a FIESP e o capital financeiro. Em algumas horas na própria quarta-feira (31), com a viagem de Michel Temer para a China, o presidente do país era do DEM, Rodrigo Maia. Um verdadeiro pesadelo.
O fato novo, no entanto, não é esse. A aprovação no impeachment na Câmara Federal em abril já tinha sido um show de horrores. A grande novidade é que houve resistência. A juventude foi para a rua, resistiu à repressão, a manifestação de domingo (4) reuniu jovens e velhos e milhares de trabalhadores.
A repressão foi derrotada
A primeira estratégia para derrotar a possibilidade de resistência foi a repressão. A PM de SP utilizou uma força totalmente desproporcional contra os manifestantes. Bombas de gás, balas de borracha, 27 presos. O plano era intimidar. A estudante e ativista Deborah Fabri perdeu a visão de um olho. Muitos carregaram ferimentos da luta. A direita mais conservadora fez declarações absurdas, culpou os manifestantes, acusou-os de vandalismo.
Perderam. A indignação venceu o medo. A organização do ato de domingo, o trajeto definido, a atitude pacífica dos manifestantes mostrou quem é o verdadeiro culpado da violência. A imagem de um manifestante atropelado conscientemente pela PM, as prisões de jovens enquadrados na lei antiterrorismo, o uso do batalhão de choque e de carros de guerra mostra nitidamente o abuso da PM. Nesta terça, o editorial da Folha de São Paulo, que na semana passada havia culpado os manifestantes, mostra a mudança: Basta de Confronto.
Unir a esquerda socialista e construir uma alternativa
Entre os que foram oposição aos governos do PT e críticos ao projeto democrático popular também existe muita divisão e fragmentação. Precisamos nos unir para enfrentar o momento atual, é hora de tirar as conclusões da experiência petista sem repetir os erros do passado.
Os caminhos da mudança pela institucionalidade foram revelados como uma via morta. Confiar na força dos trabalhadores, no poder de organização dos de baixo, construir nas ruas e nas lutas diretas as mudanças. Eis o nosso desafio.
É preciso construir um programa dos trabalhadores de enfrentamento da crise econômica. Mas, não seremos vistos se cada grupo da extrema esquerda trabalhar sozinho. A unidade é urgente. A luta de classes não vai esperar.
Encarar Temer nas ruas
Dilma foi ao Senado, respondeu às perguntas dos Senadores por mais de 12 horas, fez discurso de defesa. Encarou de frente a derrota. Entretanto é nas ruas que o jogo se define. A estratégia dos movimentos sociais não pode ser eleger Lula em 2018. É o momento de encarar Temer nas ruas. Unificar a greve bancária com os trabalhadores dos Correios e os petroleiros, construir uma agenda unificada de todos os movimentos e lutadores é um desafio que pode ser alcançado. Basta uma decisão firme.
Outro passo decisivo é mobilizar as fábricas. O setor industrial foi o mais golpeado pela crise econômica. Demissões e lay off são a realidade das montadoras e das pequenas fábricas. O trabalhador sabe que não é possível vencer sozinho. É preciso uma luta unificada, um plano de mobilização que derrube o governo e o ajuste fiscal.
Temos imensas diferenças com o PT, acreditamos que a tragédia atual foi produto dos erros do PT, a manobra veio dos próprios aliados escolhidos por Lula. Só este fato já exige uma profunda reflexão. Mas, isso não pode impedir em nenhum aspecto a luta comum.
Existe um ponto que pode unificar toda a esquerda: derrubar Temer. O PT, obviamente, tem mais responsabilidade. É hora de chamar à luta, de colocar todo peso orgânico conquistado nos sindicatos e movimentos sociais. A onda conservadora e a narrativa do golpe não podem ser um discurso. É hora de ação.
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