Pular para o conteúdo
EDITORIAL

Trump visita o México e defende muro contra a imigração

Aline Klein, de São Paulo, SP

O presidente do México, Enrique Peña Nieto, fez um convite aos dois principais candidatos que concorrem às eleições dos Estados Unidos – Donald Trump, o multimilionário empresário republicano, e a democrata e ex-secretária de Estado, Hillary Clinton – para uma visita ao México.

Trump, na quarta, 31, foi o primeiro candidato a se encontrar com Peña. Com discursos amistosos, de respeito mútuo e cordialidade, os presidentes falaram sobre a relação bilateral entre os dois países que dividem a fronteira mais movimentada do mundo. Todos os dias 1 milhão de pessoas cruzam a fronteira entre os dois países. As trocas comerciais chegam a movimentar 500 bilhões de dólares por ano[1].

Quem assistiu os discursos e as promessas de cooperação mútua poderia pensar que se tratasse de grandes amigos que vivem em harmonia e fraternidade. Entretanto, Trump e Peña passaram os últimos meses vivendo experiências difíceis.

Durante esse verão, Peña enfrentou o mês de julho com o maior índice de mortes e assassinatos desde que assumiu [2], além de terríveis indicadores econômicos e um governo com apenas 23% de aprovação.[3]

Trump, por outro lado, vem ficando cada vez mais atrás de Hillary na disputa presidencial. A visita ao México era uma tentativa de reverter esse quadro recolocando no centro da disputa presidencial um dos pontos mais polêmicos de sua campanha que é a questão dos imigrantes.

Com o lema “América Grande outra vez’’, Trump, desde o início da campanha vem bradando aos quatro ventos que parte do problema do governo Obama está na benevolência no trato com os imigrantes. Com um discurso racista e xenófobo promete expulsar no primeiro dia de mandato milhões de imigrantes clandestinos que ele faz questão de chamar de “criminosos” e “estupradores”. A cereja do bolo do programa de 10 pontos de Trump é a construção do muro na fronteira entre México e Estados Unidos para impedir a travessia de novos imigrantes.

Assim que voltou do México, Trump discursou no Arizona repetindo sob fortes aplausos suas horrendas palavras de ódio e fúria contra o povo mexicano. Após ser perguntado se havia tratado com Peña Nieto sobre a construção do muro, respondeu que sim. Ironicamente, agregou que, no entanto, não havia esclarecido o fato de que, além de tudo, seria o próprio México que iria pagar pela construção.

O número de imigrantes que vivem nos EUA bateu todos os recordes da história. Segundo o censo de 2015, 42 milhões de pessoas – 13% da população americana – são imigrantes. Desses, 12 milhões são almas mexicanas. [4]

Trump aposta que seu discurso racista e xenófobo empalme com o sentimento conservador de uma ampla parcela da população americana para chegar à Casa Branca. Esses setores responsabilizam a mão de obra barata imigrante pelos números de americanos desempregados. Os altos índices de criminalidade e pobreza das grandes cidades são atribuídos aos “ilegais”.

Não é por acaso que no Arizona Trump encerrou o seu discurso como sempre faz, gritando aos seus eleitores: “Quem pagará pela construção do Muro?”. Em coro, responderam: “O México!”. Insistir nesse discurso, entretanto, deverá afastar ainda mais de Trump os setores mais populares, especialmente os latinos e negros.

Já do outro lado da fronteira, a iniciativa de Enrique Peña de se reunir com Trump foi alvo de fortes críticas e protestos. A manobra que procurava recuperar sua imagem passando-se por conciliador, cordial e democrático, terminou surtindo o efeito contrário. Assim, um dia após ter dito que o dialogo com Trump havia sido construtivo e fraterno, foi obrigado a voltar atrás e afirmar que o candidato republicano seria uma grande ameaça ao povo do México.

Apesar disso, a imprensa mexicana afirma que a popularidade de Peña deverá cair ainda mais após esse episódio. Foi um erro grosseiro de cálculo. Ele simplesmente ignorou o fato de que apenas 3% dos mexicanos consideram uma boa ideia Trump ser o próximo presidente dos EUA.

Com essa trapalhada, Peña Nieto conseguiu aparecer como o retrato fiel de um presidente completamente subalterno ao imperialismo norte-americano. Aos povos latinos fica uma vez mais a lição: não adianta querer fazer de conta que existem amigos na Casa Branca. Como diz o ditado popular: “Quem seu inimigo poupa, fica sem roupa”.

[1] – http://time.com/4475102/donald-trump-enrique-pena-nieto-transcript/
[2] – http://elpais.com/elpais/2016/08/23/inenglish/1471953078_308000.html
[3] – http://www.wsj.com/articles/trump-visit-a-big-gamble-for-mexicos-president-1472652442
[4] – http://www.migrationpolicy.org/article/frequently-requested-statistics-immigrants-and-immigration-united-states