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BRASIL

Superinstitucionalização do cristianismo e da esquerda

Por Jonathan Zotti da Silva, do Rio Grande do Sul.

Há um tempo atrás falei das semelhanças entre esquerda e cristianismo, de valores e de paradoxos, e que só quem fazia parte de ambos conseguia verificar isso. Quero falar novamente aos cristãos de esquerda. No cristianismo, principalmente entre os protestantes, podemos verificar que as grandes instituições tendem a dominar a narrativa da Igreja. Por causa disso parece que quem discorda das posições de uma denominação específica estaria discordando da Igreja, corpo de Cristo. E daí parece que não há outras narrativas fora dos templos.

Na esquerda, podemos verificar que o Partido dos Trabalhadores tende a dominar a narrativa da esquerda brasileira. Então parece que quem discorda das posições do PT estaria discordando de todo o movimento dos trabalhadores. E daí parece que não há outras narrativa fora do PT ou de outros grandes partidos de esquerda.

Quem prega o Evangelho, discordando das doutrinas denominacionais, parece ser herege, desviado, liberal, subversivo. Quem se movimenta à esquerda do PT, não concordando com todas as posições deste partido, parece ser coxinha, segunda via da direita, extremista, golpista.

Creio que, em ambos casos, os segmentos sofrem com a superinstitucionalização por parte de uma instituição (ou umas instituições) que tenta capilarizar todo o segmento da qual almeja ser o grande porta-voz. Essas instituições têm dificuldade de reconhecer como esquerda ou cristianismo os movimentos que se constroem na sua periferia. Nesse sentido, pensar em uma desinstitucionalização ou pensar em uma outra institucionalização parece pecado ou traição de classe.

Também é verdade que os dois segmentos historicamente sofrem com um sectarismo exacerbado e que têm de aprender a se unificar e a se centralizar em pautas. E nisso os dissidentes dessas instituições precisam crescer. Por outro lado, essas grandes instituições têm de desenvolver um discurso menos dominador em relação aos seus segmentos. Se ambos setores não se comprometerem com essas falhas, quem perderá será a expansão do Evangelho e a luta dos trabalhadores.