No Chile, quase 2 milhões vão às ruas contra as Administradoras de Fundos de Pensão

Luma Feboli, de Campinas, SP

A Coordenação Nacional ‘No Mas AFP’ (Não mais Administradoras de Fundos de Pensão) se reuniu nesta quarta-feira, 31 de agosto, para definir um plano de como seguir a luta contra o sistema de aposentadoria administrado pelos fundos de pensão. Na reunião, foi aprovada a proposta de uma grande paralisação nacional em 4 de novembro.

Este movimento surgiu há 4 anos com duas alas: uma Sindical a partir das bases mobilizadas nas quais se destacam a Confederação Bancária, representada pelo dirigente nacional Luis Mesina Marín, a Confederação dos Trabalhadores da Saúde Municipal (Confusam), a Federação dos Profissionais de Saúde do Chile (Fenpruss), a Federação dos Sindicatos Walmart, Los cabreiros (corrente de oposição sindical) da Agrupação Nacional dos Empregados Fiscais (ANEF) e outros sindicatos privados e do setor público; a outra ala é das Coordenações territoriais nas comunas, unidades administrativas municipais, que se organizaram desde Arica (ao Norte do Chile) até Punta Arenas (ao Sul), e que reúnem os ativistas das comunas nesta luta.

Este processo de mobilização social enfrenta o principal pilar econômico do capitalismo selvagem deixado pela ditadura de Pinochet: a contribuição obrigatória para a AFP. Todo dia 10 de cada mês, 10% dos salários são transferidos para as AFPs que administram os fundos em contas individuais, investindo em ações e em renda fixa

Depois de 30 anos ou mais trabalhados, as AFPs pagam aposentadorias miseráveis. Seu valor médio é de 125 mil pesos chilenos, aproximadamente 170 dólares (600 reais), metade do salário mínimo chileno.

A enorme desigualdade, injustiça e humilhação a que estão submetidos os trabalhadores chilenos, levou a que no dia 24 de julho se realizasse uma Marcha Familiar contra as AFPs. Cerca de 1 milhão de pessoas manifestaram nas ruas seu repúdio a esse sistema de aposentadoria privado colocando na agenda nacional o debate sobre esta dura e triste realidade.

O Governo, os empresários e os donos do país começaram uma guerra ideológica profunda contra as pretensões dos trabalhadores de colocarem um fim a este modelo. A proposta deles na verdade é fazer apenas uma reforma: aumentar as cotizações patronais (5% adicional), criar uma AFP estatal e, ao mesmo tempo, aumentar a idade da aposentadoria.

Os trabalhadores, entretanto, não aceitaram essas propostas. Acham que nada disso é suficiente. Assim, no último dia 24 de agosto, voltaram às ruas. Uma nova marcha foi realizada dobrando o número de manifestantes: quase dois milhões de pessoas exigiram novamente o fim das AFPs.

Ainda assim, o governo não escutou os trabalhadores. Pressionando para um grande acordo nacional, nesta semana, convidou os representantes do movimento para uma reunião. Porém, suas intenções logo foram reveladas. Tratava-se de uma tentativa de frear o avanço das mobilizações e ganhar as lideranças para suas propostas.

Por isso, nesta quarta-feira, 31, reunidos em Santiago do Chile, representantes das coordenações territoriais e dos sindicatos nacionais determinaram um plano de luta visando uma grande paralisação nacional de atividades produtivas no dia 4 de novembro de 2016.

Como parte da preparação dessa paralisação nacional, será realizada a 3ª Marcha Familiar, em 16 de outubro, além de várias outras manifestações. Assim, a decisão da reunião da Coordenação ‘No Mas AFP’ foi explícita: o grande objetivo do movimento é colocar um fim ao modelo de capitalização individual e pela implementação imediata de um Sistema de Contribuição Tripartite, Solidário Único e Estatal.

Foto: Agencia Uno