Petroleiros respondem à altura carta da diretoria da Petrobras

Por Daniel Tomazine, de Duque de Caxias, RJ

Após receberem uma carta assinada pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, e por toda a diretoria da estatal, dezenas de petroleiros responderam às ameaças de redução do salário real e corte de direitos históricos. A carta da diretoria da Petrobras, enviada poucos dias antes do início da campanha salarial da categoria, não foi divulgada à imprensa, apenas aos funcionários da estatal.

Os petroleiros, por sua vez, responderam de forma contundente as ameaças da presidência e escancaram, em carta aberta à população, os reais problemas da petroleira e a situação daqueles que fazem, de fato, a estatal funcionar e produzir riquezas para o país. A carta assinada pelos trabalhadores da Petrobras se espalhou nas redes sociais, nos celulares via whatsapp e nos e-mails. A carta é assinada apenas com o primeiro nome dos petroleiros para não sofrerem represália da direção da estatal. Veja abaixo a carta dos petroleiros na íntegra.

Caros Presidente e Diretoria da Petrobras,

Muito nos comoveu o vosso apelo por compreensão apresentado na última Mensagem do Presidente. Nela, os senhores comentam sobre algumas exigências que o momento da empresa supostamente nos apresentaria. Vimos, então, apresentar-lhes os enormes sacrifícios já exigidos dessa categoria nos últimos anos.

Foram os petroleiros quem localizaram, perfuraram, extraíram, transportaram e refinaram cada gota de petróleo dessa companhia. Estivemos expostos aos ruídos, explosões, ondas gigantes, incêndios, ao benzeno e outros venenos, noites sem dormir, e uma longa lista de condições adversas de trabalho.

Com muito esforço, os petroleiros conseguiram atingir a produção de 1200 mil barris por dia no pré sal e reduzir a construção de poços de um ano para 3 meses. Esse é somente um pequeno exemplo do resultado dos nossos esforços.

Desde 2006, 120 petroleiros perderam suas vidas enquanto trabalhavam, o que equivale a pouco mais de uma morte por mês.

Antes dos últimos 12 anos anteriores a 2015, nos quais tivemos aumentos reais, passamos 8 anos sem reajustes e sem concurso público, incluindo o período em que o senhor foi ministro do governo FHC.

Nesses últimos 3 anos, 170 mil petroleiros perderam os seus empregos, sendo mais de 90% destes de forma involuntária. Especialmente, os nossos companheiros terceirizados foram descartados, enquanto diversas obras estratégicas foram paralisadas.

Vos perguntamos, de quanto mesmo foram os reajustes a gerentes, diretores e conselheiros nos últimos anos? Somente em 2015, os diretores receberam aumento de 23%, atingindo salário fixo anual de 1,6 milhão. Fora outro milhão recebido como benefício. Ultrapassaram em muito a nossa modesta reposição da inflação, arrancada após 23 dias de greve por aqueles que de fato construíram toda a riqueza dessa companhia.

A dívida da empresa aumentou? Não fomos nós que a contraímos de forma irresponsável. Como se não bastasse, trabalhamos tanto que a geração de caixa não diminuiu mesmo com toda a incompetência e roubalheira cometida contra a Petrobras pela alta gestão, governos e seus aliados.

Os senhores devem saber que nós realizamos a maior descoberta de petróleo dos últimos tempos e trabalhamos duro para que ela fosse viável tecnologicamente. Agora estamos vendo os campos de petróleo sendo vendidos sem sermos consultados, em negociatas que vendem um barril de petróleo pelo preço de um refrigerante. De quem é o interesse? Não é da Petrobras, nem petroleiros, tampouco do povo, com certeza.

Os juros da dívida da Petrobras quase dobraram para 6℅ ao ano. Os senhores por acaso têm noção de que os juros do cheque especial são os maiores desde 1999 e os do cartão de crédito são os maiores desde 1995? Ou então que a inflação dos aluguéis está 3% acima da já exorbitante inflação geral?

A nossa renda já foi drasticamente afetada pelas perdas de abono e PLR. Nossos níveis do plano de cargos e salários ainda não chegaram, mesmo tendo cumprido e superado as metas.

Os senhores estão dispostos a reduzir em quanto vossos rendimentos? Os acionistas estão dispostos a colocar quanto de seu capital na empresa? Qualquer microempreendedor, em momentos de crise, coloca seu patrimônio pessoal em favor de sua empresa, seu sustento. Os senhores estão dispostos a esses sacrifícios? Estão dispostos a cortarem seus muitos privilégios? Obviamente que não. Inclusive, justamente quando a empresa apresenta um suspeitíssimo prejuízo contábil, vocês incorporaram vossa participação nos lucros ao salário fixo.

Nós produzimos toda a riqueza dessa companhia para que ela gere benefícios e renda aos trabalhadores e a juventude pobre e negra desse país.

Se é verdade que existe outra alternativa à greve, também é verdade que existe outra alternativa à privatização e ao rebaixamento salarial: uma Petrobrás 100% estatal, gerida pelos seus competentes funcionários, controladas pelo interesse público, que volte as riquezas do pré-sal para o desenvolvimento da nação.

Não pagaremos o Pato de seus amigos da FIESP. Não joguem em nossas costas a responsabilidade que é dos senhores.

Com votos de que passem bem,

Brasil, 30 de Agosto de 2016,

Aleksei, Antônio, Dalton, Daniel, Edson, Eduardo, Evandro, Everton, Fábio, Fabíola, Fernando, Jean, João Gabriel, João Pedro, Rafael, Marcelo, Marcello, Mateus, Michele, Natália, Pedro, Raíra, Stoessel, Tales, Tiago, Wagner, Áurea, Thiago, Rodrigo, Ricardo, Bianca, Ivan, Marcos, D’artagnan, Rafael, Marcelo, Rafael, Leonardo, André, Thalles, Gustavo, Claudio, Carla, Ivane, Mariano, Charles, Nivaldo, Jorge, Alexandre, David, Carlos, Cunha, Loureiro, Joana, Michelle,  Sérgio, Nascimento, Rone, Sandro, Eusebio, Victor, Alessandra, Rodrigo, Luiz Alberto, Eliane, Siron, Ronaldo, Felipe, Junior, Rafael, Marcos, Wallace, Luiz,  Wagner,  Marcelo, Nelson, Carlos, Sérgio, Sérgio, Antônio, Fábio, Carlos, Daniel, Deize, Rosi, Luiz, Eliezer , Gustavo, Luiz, Joel, Barroso,  Igor, Marcos, Leonardo, Tereza, Genobre, Adelino, Alberto, Rodrigo, Marcio, Gunther, Vinicius, Débora, Harlan, Vinícius, Wesley, Aureo, Rafael, Rui, Igor.