O teatro sombrio e farsesco chegou ao fim hoje. Desfilando zombarias, mentiras e hipocrisia, o Senado votou nesta quarta-feira (31) a deposição definitiva de Dilma Rousseff (PT).
O resultado já era esperado, mas não deixa de causar asco. As sórdidas elites brasileiras patrocinaram a derrubada de uma presidente eleita para impor um governo usurpador da direita. O impeachment disparado por Eduardo Cunha é a arma com que a classe dominante tenta solucionar a crise política e, assim, adquirir condições para aplicar um agressivo ajuste econômico contra o povo.
O governo Dilma foi alvo do impeachment não porque contrariava os interesses das elites, como dizem os petistas. Em realidade, foi justo o oposto: Dilma perdeu o apoio popular precisamente por adotar uma política que jogou nas costas dos trabalhadores o peso da crise.
O partido de Lula pagou caro por sua submissão à burguesia. Enquanto foi útil à dominação dos grandes capitalistas, o PT foi agraciado pelas elites: se lambuzou em negociatas repugnantes. Mas quando perdeu a capacidade de aplicar as medidas exigidas, foi jogado pra fora, pelos aliados do dia de ontem, como uma tralha imprestável.
Ajuste estrutural na ordem do dia
O governo Temer tem uma missão declarada: impor um ajuste estrutural. O presidente ilegítimo declarou hoje que enviará a reforma da Previdência antes mesmo das eleições de outubro. E que, logo depois, anunciará a reforma trabalhista. Estão na mira os direitos históricos adquiridos pela classe trabalhadora brasileira.
Mas não para por aí. O governo Temer já anunciou a intenção de aprovar, ainda esse ano, a PEC 241. Trata-se de uma mudança constitucional que congelará por 20 anos os gastos públicos em saúde, educação, saneamento básico, moradia popular, programas sociais, etc.
Em outro front, o presidente usurpador quer avançar na privatização da Petrobras e na entrega do pré-sal às multinacionais estrangeiras. Temer promete anunciar em setembro um amplo pacote de privatizações.
É preciso derrotar Temer nas ruas!
A sorte desse governo ilegítimo será decidida na luta de classes. A burguesia quer estabelecer com o ajuste um novo padrão de exploração: rebaixar o salário médio, destruir direitos e acabar com conquistas sociais.
Chegou a hora, portanto, de colocar o time dos trabalhadores em campo. Acordar esse gigante social, em aliança com a juventude e os oprimidos, é a tarefa do próximo período.
A esquerda não pode ficar parada, vendo a caravana passar. É hora de estimular as lutas em cada setor, unificar as campanhas salariais e construir uma jornada de mobilização unificada, rumo à greve geral.
As principais direções e lideranças do movimento de massas tem uma responsabilidade maior. O PT, a CUT, a UNE e o MST, se querem passar do discurso à ação real, devem construir, com o conjunto da esquerda, um plano efetivo de mobilização para enfrentar o novo governo.
Desafio estratégico: reconstruir a esquerda, com um novo programa
As ilusões não morrem sozinhas. Para não repetir os mesmo erros, é necessário tirar as conclusões corretas da experiência com os governos do PT. A estratégia da colaboração de classes demonstrou toda sua impotência nesse segundo governo Dilma.
É impossível mudar de verdade o Brasil sem enfrentar de frente a classe dominante. Não se pode agradar, ao mesmo tempo, banqueiros e trabalhadores, ricos e pobres, opressores e oprimidos. A cada crise econômica, a burguesia aparece com sua face real. Os capitalistas ordenam: corte direitos, demita trabalhadores, congele gastos sociais, privatize; garanta meus lucros e minhas fortunas! Foi isso que o PT fez. E, por isso, no momento de sua queda, não houve povo nas ruas para defendê-lo.
A reconstrução da esquerda pressupõe a superação do petismo, em outras palavras: o resgate da estratégia da revolução brasileira; a prioridade da luta direta e não das eleições viciadas; a ruptura das alianças com os partidos da direita; o fim dos pactos com a burguesia. Numa frase, a aposta na força da classe trabalhadora e do povo oprimido para transformar o país.
Comentários