Jogador boicota hino norte-americano em ato de rebeldia contra o racismo nos EUA

Por Cauê Campos, de Campinas, SP

Na última sexta-feira (26), acontecia a terceira rodada da pré-temporada da Liga norte-americano de futebol americano (NFL), com o jogo Green Bay Packers e San Francisco 49rs, no Levi’s Stadium, casa do time de San Francisco, na Califórnia. Como todo início de evento esportivo norte-americano , houve a execução do Hino Nacional dos Estados Unidos. Seria apenas mais um ato de demonstração patriótico, mas  o ­quaterback , a mais importante posição do futebol americano, dos 49rs, Colin Kaepernick, se recusou a ficar de pé durante a execução do hino.

Depois do ocorrido, o estranhamento se espalhou pelo estádio e pelas transmissões. Após o jogo, Kaepernick foi questionado sobre os motivos de seus atos. O jogador foi categórico e afirmou que sua atitude foi uma resistência à opressão racial nos EUA. “Eu não vou me levantar e mostrar orgulho por uma bandeira de um país que oprime negros. Para mim, isso é maior do que o futebol americano e seria egoísta de minha parte ver isso de outra forma. Há corpos nas ruas e pessoas escapando de um homicídio”, disse Kaepernick.

0827-colin-kaepernick-twitter-5

Um boicote ao hino nacional é considerado uma afronta a todos os países do mundo, ainda mais nos EUA que, juntamente com a bandeira nacional,  é um dos maiores símbolos do poder e dominação norte-americana.  Não foi a toa que Kaepernick foi acusado de desrespeitar as Forças Armadas Americanas, motivação de tanto orgulho ianque.

Obama, primeiro presidente negro dos EUA, teve uma posição no mínimo vacilante ao comentar o posicionamento de Kaepernick. Através do porta-voz da Casa Branca, a declaração oficial foi de que o ato do quaterback era censurável, mas que ele havia o direito a se manifestar. Demonstrando que apesar de negro, Obama não pode levar a luta racial de forma consequente se não romper com os interesses de seu partido e da burguesia para quem governa.

Vidas negras importam
Kaerpernick se posiciona contra a opressão racial quando o movimento Black Lives Matter ganha projeção internacional. São milhares de negros que saem às ruas dos EUA para lutar contra a violência policial. Uma violência que possuiu um recorte de classe e raça muito forte no país, assim como no Brasil.

Os ecos de Fergunson , palco de uma explosão social contra o racismo,  já tinham sido manifestados no esporte quando atletas negros da NBA, liga de basquete norte-americano, usaram camisetas com a frase I can’t breathe (Eu não consigo respirar),  últimas palavras do jovem negro Eric Garner, antes de ser executado por policiais em Staten Island, Nova Iorque.

Também houve ecos com Beyoncé, com sua música Formation no Superbowl, final da NFL, e Kendrick Lamar na sua apresentação da 58ª edição do Grammy.

Kaepernick afirmou que continuará se negando a se levantar durante o hino nacional até que a violência contra os negros seja discutida e resolvida nos EUA. Já pensou se isso se espalha entre os centenas de atletas negros, e mesmo os brancos, das NFL, NBA e MBL contra a violência racial norte-americana?

MATÉRIAS RELACIONADAS: 
´To Pimp a Butterfly’, uma obra-prima musical do movimento Black Lives Matter