No Senado Federal, Dilma Rousseff enfrentou o dia de sabatina e respondeu, uma a uma, as perguntas e questões dos Senadores. O caráter político do julgamento ficou evidente. Não é ilegítimo que um presidente caia por questões políticas. O que é ilegítimo é que o agente de sua derrubada seja o Congresso reacionário e os setores mais conservadores da sociedade. As mobilizações de março e de agosto de 2015, capitaneadas pela FIESP e pelo capital financeiro, foram a força social que derrubou o PT.
É inegável, no entanto, que nas ruas milhares de trabalhadores viram com desdém o dia de ontem. Não houve resistência suficiente por dois motivos. O primeiro deles é a própria atitude do PT. Não foi aplicado um plano de luta e resistência. A CUT e os sindicatos controlados por este partido não organizaram um dia nacional de paralisações contra o ajuste de Temer e a manobra reacionária do impeachment. O ato da paulista na noite desta segunda-feira, reprimido de forma vergonhosa pela PM de Alckmin, contou com uma vanguarda pouco numerosa, perto do real poder de fogo do PT. No ABC paulista, o dia da semana do impeachment é uma semana de trabalho, assim como as outras.
O segundo é a indiferença que a decepção com a experiência petista provocou em milhares de trabalhadores. Em 2014, o voto em Dilma já não tinha a esperança e o entusiasmo do voto em Lula de 2002. Todos sabiam, depois de 3 mandatos, que o PT não iria mudar o Brasil. Diante da disjuntiva Dilma e Aécio, ganhou o considerado ‘menos pior’. Mas, ainda na campanha de 2014, no segundo turno, houve por traz da polarização entre PT e PSDB uma escolha por aquela que disse que não iria mexer nos direitos, que era preciso enfrentar a crise sem tirar do bolso do trabalhador, que a comida não iria faltar na mesa dos mais pobres. Depois de 12 milhões de desempregados, do corte no seguro desemprego e no PIS, do PLP 257, da PEC 97/2015, a grande maioria dos trabalhadores brasileiros, organizados ou não em sindicatos, no trabalho formal ou informal, conclui que foram enganados. A desmoralização da traição levou a que o dia de ontem fosse um dia de indiferença para milhões de brasileiros.
Será preciso coragem e unidade para enfrentar o novo momento que é gestado no país. Por um lado, unidade para enfrentar nas ruas o ajuste de Temer. As evidentes diferenças de balanço com a experiencia petista não podem impedir a ação comum para enfrentar os ataques do governo. Por outro lado, é preciso construir uma nova alternativa política que supere pela esquerda a experiência petista.
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Foto: Wisom Dias/Agência Brasil
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