Francisco da Silva, de Porto Alegre, RS
Nesta segunda (29), quando se consumou o golpe parlamentar, as operárias e os operários de uma grande metalúrgica da região metropolitana de porto alegre ficaram mudos. Nem um só grito de alegria. Nem um só grito de lamento. Durante todo o dia, os trabalhadores não comentaram o fato. Não falaram sobre o assunto no café da manhã no refeitório. Não falaram no almoço. Não falaram no facebook e tampouco no whats.
Pesou certamente uma infeliz dose de alienação fruto desse trabalho maçante e desproporcional, mas também um copo cheio de rancor e mágoa com o partido que um dia disse ser dos trabalhadores. Quantos nesses últimos meses, aqui na fábrica, não disseram que votavam de olhos fechados no PT de vereador à presidente todas as eleições? Quantos não contaram histórias de galetos pra juntar dinheiro pro PT? Quantos não choraram quando Lula ganhou em 2002?
Também pesou, sem dúvida alguma, a omissão do sindicato cutista. Desde que o processo de impeachmeant foi desencadeado, no ano passado, o sindicato dos metalúrgicos de São Leopoldo e Região não fez nenhuma campanha pra mobilizar a categoria contra o impeachmeant e poucas foram as vezes que o Marreta, conhecido jornal do sindicato, estampou alguma crítica a este processo.
E, na verdade, não conseguiriam ter mobilizado a categoria para tal. Os operários, principalmente a partir do início dos ataques aos direitos do PIS, seguro desemprego e pensão por morte, lá no início de 2015, foram para a oposição ao governo petista e nutrem um saudável ódio à ele. Quiseram ver a Dilma pelas costas e com razão.
A única forma de mobilizar a categoria teria sido lutar contra o golpe e contra os ataques. E isso o sindicato não estava disposto a fazer. Apostar na mobilização seria um risco enorme. Poderia surgir uma vanguarda que nessa luta questionasse os próprios limites da direção sindical.
Os trabalhadores também não estão comemorando. Não enxergam o impeachmeant como uma vitória sua. Não enxergam que as mudanças virão daí.
Na semana passada, após o sindicato estampar no jornal os ataques que Temer e sua quadrilha planejam contra os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, uma marola de indignação correu na fábrica: ódio à Temer. Ódio a mais ataques pra uma vida que já está péssima. Um dos trabalhadores mais antigos da fábrica ainda disse “Eles tem que parar tudo e nós marchar até a BR 116 como fazíamos lá anos atrás”, disse um dos trabalhadores da fábrica. “Temer é muito ruim. Um crápula, bandido, sanguinário. Tá junto com os grandão para tirar o pouco que a gente tem. Até que perto desse cara a Dilma não era tão ruim. Sim é verdade, ela queria defender o povo, mas o congresso é aquilo lá”, concluiu.
Para este trabalhador, não tendo completado a experiência com o PT e seu governo, o governo Dilma segue ainda um “mal menor”. Teria sido possível a burguesia desatar e concluir esta manobra em 2002 e a peãozada permanecer indiferente?
Esse grito surdo quer dizer indiferença. Aqui, numa grande fábrica na Região Metropolitana de Porto Alegre. foi assim.
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