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MOVIMENTO

Cultura, desemprego e luta da juventude em Niterói, RJ

Por Gustavo Fagundes, Niterói, RJ

O cotidiano dos jovens de Niterói não difere muito do que ocorre no restante do país. O caos na educação, desemprego e crescente insegurança causam perda na expectativa de um futuro melhor para si e suas famílias. Além disso, é limitado o direito de acesso à cultura, esportes e demais opções de lazer.

Uma juventude que luta
A juventude de Niterói foi parte ativa das manifestações de junho de 2013. Os gritos que exigiam mais dinheiro pra saúde e educação e as mãos que escreveram cartazes contra o aumento da tarifa dos ônibus continuam firmes nas lutas por mais direitos.

A greve da rede estadual de educação em paralelo às ocupações nas escolas escancarou de vez a crise do setor. Todo sentimento de indignação e rebeldia característica dos jovens esteve presente nesse processo, assim como mostraram novas formas de organização.

As escolas estaduais de Niterói foram parte da onda de ocupações e, assim como em outras localidades, suas reivindicações e discussões não ficaram restritas ao âmbito escolar. Debateram sobre o machismo sofrido pelas mulheres, a questão racial e todo racismo presente dentro e fora das escolas, a invisibilidade e opressão sofrida pelos LGBTs. Foram em busca do paradeiro de merendas, materiais de informática e uniformes que antes tinham acesso restrito. Além de exigências democráticas básicas, como a votação direta para diretores.

Cultura e lazer
A utilização de espaços públicos para eventos privados é uma das marcas da política cultural e de lazer em Niterói.

O Teatro Popular Oscar Niemeyer, apesar de conhecido espaço de convivência dos jovens da cidade, é palco também de grandes eventos e shows com preços inacessíveis para a maior parte da população. O bairro de Camboinhas e sua praia continuam sem ter acesso de linhas de ônibus. A ida à praia, um dos poucos espaços gratuitos de diversão, se torna cada vez mais difícil, pois o município possui a tarifa de ônibus mais cara do Brasil, considerando o preço por quilômetro percorrido.

A praça da Cantareira é um tradicional local de diversão para os jovens da região. Concentra, ao ar livre, atividades que envolvem jongo, samba, funk e rap. E é também um dos poucos locais da cidade onde a juventude LGBT se sente confortável para se expressar. No entanto, desde o início da gestão do prefeito Rodrigo Neves, antes PT e agora PV, o local sofre com a repressão da guarda municipal e da polícia militar. A prática é a mesma defendida pelos setores mais conservadores da cidade e que enxergam em Felipe Peixoto (PSB) uma alternativa, o uso da força policial para coibir qualquer tipo de manifestação cultural da juventude, principalmente a que parte dos jovens pobres e negros.

A construção do skatepark em São Francisco e a reforma no Horto do Fonseca funcionam como a grande propaganda da prefeitura na política para juventude. Entretanto, são duas ilhas de excelência na cidade, onde o comum são as praças, quadras e campos de futebol dos bairros sem manutenção e acesso proibido no horário noturno. A Concha Acústica representa bem essa situação.

O Complexo Esportivo Caio Martins é um importante espaço que poderia propiciar a prática esportiva na cidade. Possui um campo de futebol, piscina, ginásio poliesportivo e inúmeras quadras. Infelizmente, a gestão estadual não abre as portas para o amplo acesso da população. É observada postura semelhante nas dependências da Universidade Federal Fluminense. Não existe nenhuma política que busque fomentar o uso da estrutura e do espaço universitário pela população das regiões próximas.

Desemprego e violência
O número de demitidos no primeiro trimestre é o maior desde 2007. E novembro de 2015 registrou o maior índice de desempregados desde 2003. As demissões não param e o cenário é caótico para os jovens quando vão em busca do primeiro emprego, seja ele formal ou não. Hoje, não é possível vislumbrar nem a possibilidade dos empregos mais precarizados, com rotinas desgastantes e baixa remuneração, como os que muitos jovens antes encontravam nos shoppings, lojas do comércio local e nas empresas de telemarketing

A cidade que era reconhecida pela qualidade de vida, hoje convive com mais insegurança. Os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), em junho deste ano, mostram o aumento de todos os índices de criminalidade. 86% em homicídios, 47% em furtos de veículos e 59% de roubo a coletivos são apenas alguns dos exemplos. Ocorreu também um alarmante crescimento de 108,7% nos autos de resistência, quando o homicídio ocorre em confronto com agentes públicos, nos oito primeiros meses de 2015 em comparação aos números de 2014.

Segundo o dossiê Mulher, divulgado no ano passado pelo ISP, Niterói ocupa a sexta posição no ranking do estado do Rio de Janeiro de violência contra a mulher. Os números mostram que pelo menos duas mulheres são vítimas de algum tipo de violência na cidade.

A juventude e a crise econômica
A crise política, social e econômica atinge com uma imensa brutalidade o dia a dia da juventude. Hoje, temos dificuldade em enxergar as possibilidades do amanhã e ter uma perspectiva de um futuro confortável para nossas famílias.

A história nos mostra que só é possível avançar na conquista por mais direitos e melhores condições de vida quando colocamos nossa rebeldia, de forma organizada, contra aqueles que nos atacam. Por isso é fundamental a unidade de mulheres, negros e LGBTs. Dos que moram nas favelas e choram a morte de seus irmãos pelas mãos da polícia militar. Dos ambulantes que têm sua mercadoria apreendida e dos que são demitidos. A unidade dos trabalhadores para construir uma cidade verdadeiramente a serviço da juventude e dos trabalhadores.

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