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EDITORIAL

O verdadeiro julgamento do PT

Sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade. À mesa: senador Aécio Neves (PSDB-MG); presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Em entrevista, o senador Álvaro Dias (PSDB) foi bastante direto sobre o processo do impeachment: “olha, pra ser sincero, isso aqui é uma encenação… É um tribunal político.” As máscaras caem e a verdade aparece. Ontem o Senado ouviu as duas últimas defesas da presidente afastada: o ex-ministro da fazenda Nelson Barbosa e o professor de direito da UERJ Ricardo Lodi Ribeiro. Amanhã será a vez do depoimento de Dilma. Agora, porém, os argumentos pouco importam e o rito é mera formalidade; a decisão já está tomada.

O impeachment é um julgamento político, uma manobra parlamentar que demonstra a podridão do Congresso brasileiro. E mais do que isso, que sinaliza a busca por resultados: se o governo do PT perdeu a capacidade de aplicar a agenda de ajustes, pouco importa sua lealdade passada. É preciso um governo mais forte, que não precise de popularidade pra se sustentar, mas de unidade entre os de cima e disposição de atingir seus objetivos.

O caráter político e reacionário do impeachment abre caminho para compreender qual é, então, o verdadeiro crime de responsabilidade do PT. Os governos petistas cometeram um crime de outro tipo, que passa longe dos empréstimos dos bancos públicos e das “pedaladas fiscais”. Foi o crime da conciliação de classes. Vendido pelo slogan “a esperança vai vencer o medo”, iludiram a consciência de milhões de trabalhadores que um aperto de mão entre um operário e um banqueiro era a condição para uma vida melhor. Este crime só pode ser julgado pelo povo em luta, com dimensão de suas próprias forças, e vendo que dar a mão ao inimigo de classe merece, sim, punição. Mas não por aqueles políticos corruptos – homens, brancos, héteros – que não tem nenhuma legitimidade para decidir os rumos do país.

Impeachment: uma certeza coberta de incertezas

A semana termina com apenas uma certeza para os brasileiros: Dilma será afastada na terça-feira pelo Senado Federal. Michel Temer é quem irá assumir a maior responsabilidade de todas para a elite econômica e política: aplicar, enfim, o plano de ajuste fiscal e as políticas de austeridade no país. Ficam as perguntas: ele irá conseguir? Essa aposta da burguesia se mostrará correta? A aprovação das medidas que estão na agenda do Congresso será suficiente para retomar o crescimento econômico? Os trabalhadores conseguirão resistir? Qual será o resultado político das atuais eleições municipais? O PT conseguirá ressurgir como força política nas eleições de 2018? A esquerda socialista conseguirá construir uma alternativa unitária e à altura da atual conjuntura de enfrentamentos? Questões sem resposta de um futuro incerto.

A crise de representatividade, que se aprofunda com o processo do impeachment, irá se expressar com força nessas eleições municipais. Uma pesquisa do Datafolha demonstra que a vinculação de candidatos às figuras de sempre da política brasileira gera mais rejeição. Em São Paulo, 73% dos entrevistados disseram que não votam no candidato apoiado por Lula, ao mesmo tempo em que o apoio de Alckmin e Temer também afastam eleitores. No Rio, é Temer o cabo eleitoral que mais afasta votos (68%). O resultado desse processo dará indícios sobre os rumos da política brasileira. A aposta em candidaturas unitárias da esquerda, vinculadas às lutas e não aos políticos tradicionais, é fundamental, mas ainda insuficiente.

A necessidade de aprovar a PEC 241, aplicar a Reforma da Previdência e Trabalhista, economizando gastos para destinar mais dinheiro ao pagamento da bolsa-banqueiro, quer dizer, da dívida pública, será a prioridade número um do novo governo ilegítimo. A mão de Temer pode não tremer, mas pode ser imobilizada por nossa resistência. A consciência de que a austeridade é uma escolha política dos governantes, e não uma necessidade econômica, é urgente para que os trabalhadores compreendam o significado do impeachment, concluam o verdadeiro crime do PT e resolvam as incertezas do futuro dando a palavra final nas ruas.

Foto: Edilson Rodrigues/ Agência Senado