Por: Henrique Iglecio, da comissão política do MAIS São Paulo
No terreno eleitoral, o PSOL é com certeza o maior e mais importante partido da esquerda radical brasileira. Em várias cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, o partido apresenta candidaturas importantes. Atraem eleitores hoje não confiantes no PT, que sabem que a direita tradicional não é a saída para o país.
Essa localização do PSOL o carrega de uma importante responsabilidade. Nas eleições é esse partido o principal responsável pela construção da necessária frente de esquerda socialista.
Nem PSOL, nem PCB e nem o PSTU sozinhos são uma alternativa concreta para os trabalhadores e a juventude. Hoje as pessoas enxergam a esquerda como um quebra cabeças. O PSTU tem uma importante inserção sindical e uma expressão eleitoral muito pequena. O PSOL, que tem uma importante expressão eleitoral, tem uma inserção sindical muito pequena, fragmentada e pouco dinâmica. O MTST é capaz de mobilizar um número importante de pessoas para grandes atos, mas por vezes titubeou em criticar o PT. A lista continua.
No entanto, a esquerda continua cometendo os mesmos erros. O PSTU errou ao lançar candidaturas próprias em todas as capitais do país. Isso enfraquece a esquerda radical e provavelmente os colocará paralelos à disputa eleitoral nessas cidades. Em vários outros municípios o erro é do PSOL. Quem pode condenar o PSTU no caso de Belém? Edmílson Rodrigues montou uma chapa que contém PSOL, PPL, PDT e o PV.
As discussões sobre coligações vêm de longa data na esquerda brasileira. O próprio PT foi palco delas por anos. Zé Dirceu e Lula defendiam um leque amplo de alianças para possibilitar maior possibilidade de vitória nas eleições e foram combatidos por outros setores. O PSOL vive uma situação parecida hoje.
Há algumas semanas, o Diretório Nacional do PSOL aprovou uma resolução sobre a política de alianças para essas eleições municipais, que ampliava as coligações do PSOL para partidos como Rede e PPL. Aqui a ideia é, a partir de uma análise simples e prática, ver que tipo de consequências a resolução trouxe.
Segundo os dados provisórios do TSE do dia 24 de agosto deste ano, o PSOL registrou 589 candidaturas. Dessas, 375 (63,66%) são sem coligações e 214 são com coligações (36,33%). Das 214 candidaturas com coligações, 61 são com o PT, ou seja, mais de 10% das candidaturas do PSOL no país. Além das 43 coligações com o PSB, o segundo partido com o qual o PSOL mais se coligou e as 39 coligações com o PCdoB.
É necessário olhar com preocupação para outras alianças realizadas pelo PSOL com partidos burgueses tradicionais. Até o mesmo dia 24 o PSOL estava coligado com o DEM e com o PP de Maluf em 28 municípios. Com o PMDB de Temer e Eduardo Cunha em 27 e com o PSDB de Alckmin em 21.
Esse artigo não tem a intenção de denunciar o PSOL, dizendo que este é o novo PT e pronto. Essa seria uma posição fácil, precipitada e que fecha diálogo entre a esquerda. A ideia é exatamente o contrário, esse debate deve ser feito de maneira fraterna e séria. A esquerda radical brasileira é capaz de usar as diferenças para se fortalecer.
O erro do Diretório Nacional do PSOL em aprovar essa ampliação do leque de alianças deve ser motivo de atenção de todos os ativistas que buscam construir uma nova alternativa de esquerda nesse país. Coligações com o PT, PCdoB e com a direita caminham no sentido oposto disso e impactam negativamente o conjunto da esquerda.
É necessário fazer justiça, existem muitas pessoas e correntes, como Insurgência, CST, LSR, que foram contra esse leque de alianças e propuseram no lugar a frente de esquerda socialista entre PSOL, PCB e PSTU.
O Diretório Nacional do PSOL ainda pode retirar essas candidaturas, dessa forma daria uma demonstração para a esquerda brasileira de que acreditam ser possível construir uma alternativa independe do PT e da direita em nosso país. Eu espero, e tenho certeza que mais um monte de gente de fora e de dentro do PSOL, que seja isso que aconteça.
As alianças nas eleições dos partidos de esquerda devem aumentar sim, mas não com os partidos da ordem. É necessário ampliar essa frente com as organizações políticas que não têm legenda eleitoral, com os movimentos sociais, sindical e de juventude. Esse é o nosso campo, é assim que podemos nos fortalecer, só assim caminharemos para frente.
Comentários