Por Mariana Pércia
Para quem, como eu, tem entre 20 e 30 anos, o assunto crise política e econômica está nas rodas de conversa entre amigos cada vez mais. Estamos falando de uma geração que têm lembranças de infância das crises da década 90, de seus pais endividados, do cheque especial, de Collor e FHC. Talvez a grande lembrança de nossa infância seja que, em 1995, 10 reais era uma fortuna para uma criança se divertir.
Hoje, não é mais assim e nem temos perspectivas de que voltará a ser. O desemprego cresce e já tem a juventude como seu alvo preferencial. A taxa de desemprego entre a população de 18 a 24 anos é de 24,1% e já é mais do que o dobro da média geral de 10,9%. O índice de desemprego já atinge mais de 10 milhões de desempregados, sendo entre esses 50,8% de mulheres.
A pesquisa do IBGE calcula a taxa entre jovens que procuraram emprego nos últimos 30 dias, e divulga ainda a taxa nas demais faixas etárias: de 14 a 17 anos, 37,9%; de 18 a 24 anos, 24,1%; de 25 a 39 anos, 9,9%; de 40 a 59 anos, 5,9%; e de 60 anos ou mais, 3,3% .
Curiosamente, os jovens com escolaridade mais baixa (até a quarta série) não são os que têm a maior taxa de desemprego, apesar de receberem menos. Atualmente, há uma tendência do jovem que possui ensino superior completo ter mais dificuldade de encontrar emprego porque, diante da crise econômica, estão aumentando as atividades mais precarizadas.
A existência plena da juventude depende do estado de desenvolvimento econômico da sociedade e, portanto, de sua possibilidade de dispensar o jovem da atividade produtiva manual para que ele estude, cresça intelectualmente antes de ter um emprego. Isso significaria ter mais medidas de ampliar o tempo de estudo do jovem, além de medidas de proteção, lazer, moradia e saúde. Essa não é e nem nunca foi a realidade em nosso país.
Verdade seja dita: a aposta do sistema é de produzir desigualdade e miséria para alguns poucos lucrarem. Fica pior nas periferias das grandes cidades, onde a polícia militar cumpre um papel de extermínio da população jovem e negra, usando a dita “guerra às drogas” para cometer um verdadeiro genocídio de uma população que nunca conheceu um futuro, muito menos uma juventude.
Futuro incerto
Por outro lado, se esse já era o cenário de nosso país, com o aumento do desemprego e as recentes medidas do ajuste fiscal, podemos, em muito pouco tempo, nos definir como uma geração com um futuro cada vez mais incerto. As recentes medidas do governo ilegítimo de Michel Temer, como o PLC 257 e a PEC 241, conseguem piorar muito mais as coisas. A primeira enforca os estados e impede a abertura de concursos públicos nos próximos 10 anos, além de estimular cortes nas áreas sociais de mais de 20% do orçamento. A segunda, congela o aumento de recursos para os estados em todas as áreas sociais nos próximos 20 anos. Quem sofre mais com isso? Os jovens.
Imaginem suas escolas, universidades e poucos locais de lazer, há 20 anos atrás, em 1996. Agora, imaginem que de lá até agora não tivessem recebido nenhum orçamento que tenha sido superior ao do ano anterior. Como estariam? Pois é, difícil imaginar maior caos. Desde a juventude negra que luta em primeiro lugar para sobreviver até aquela que teve seus direitos sucessivamente cortados e que vê se próximos dos relatos de crise econômica vivido por seus pais, sentimos o desespero de nossa geração.
Contra o desemprego e a precarização: a juventude não vai pagar pela crise
Nos Estados Unidos e na Europa, essa geração gritava “somos os 99%”, em referência à concentração de riqueza na mão de 1% da população mundial. A juventude negra dos Estados Unidos foi às ruas e se rebelou contra a violência policial, que aumentou ainda mais a escalada de extermínio diante da crise econômica. A juventude espanhola e portuguesa virou a “Geração à Rasca”, considerando-se uma geração à margem das estatísticas, à margem de futuro e das condições sociais. Na França, vimos pela primeira vez a juventude ir às ruas pelos direitos previdenciários, já que é seu futuro que está na mira.
Chegou a nossa vez de unificar as lutas, inclusive junto aos demais trabalhadores de outras gerações. Como primeiro passo, teremos um dia Nacional de luta por empregos, chamado pelas centrais sindicais, o dia 16 de agosto. Nesse dia, diremos aos bandidos que governam nosso país que não vamos pagar a conta dessa crise. Uma crise que não produzimos, que só se justifica pelo pagamento de uma dívida pública que não é nossa e que ameaça cada dia mais nosso futuro.
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