Por: Gabriel Casoni,
Fidel Castro completa noventa anos neste sábado (13). O líder cubano entrou para a história como um dos grandes personagens do último século. Poucos líderes políticos inspiraram tanta paixão e ódio, tanta veneração e repulsa.
Em realidade, as grandes transformações sociais são as parteiras desses fenômenos que comovem o mundo. Fidel apareceu na cena histórica como o maestro da revolução cubana de 1959, isto é, como seu principal estrategista militar e dirigente político. Herdeiro do populismo nacionalista plebeu, dono duma oratória arrebatadora e poderosa, foi o comandante-em-chefe duma revolução nacional-democrática que foi para além dos limites do capital. Sob a força de circunstâncias inesperadas e indesejadas, Castro dirigiu a tormenta revolucionária à expropriação da propriedade capitalista nacional e estrangeira em Cuba.
A poucas milhas de distância da Flórida, a pequena Ilha ousou e venceu. O povo cubano rompeu com as amarras da dominação imperialista que condenara por séculos o país à miséria, à opressão, à fome e ao analfabetismo. Deixando para trás os tempos de prostíbulos e cassinos ianques, a Cuba rebelde atingiu conquistas sociais, até hoje, sem precedentes na América Latina. A Ilha enfrentou agressões militares, atentados terroristas, sabotagem internacional, embargo econômico, enfim, a fúria dos poderosos que não queriam que o exemplo cubano florescesse pelas Américas.
A força do personagem Fidel Castro, contudo, não nos pode deixar esconder a crítica marxista. Em Cuba, nunca houve democracia operária e popular. As instituições do Estado foram sempre controladas pelas mãos de ferro de um regime político burocrático e ditatorial. O sistema estalinista na Ilha, rigidamente controlado pelos irmãos Castros, nunca tolerou diferenças: encarceraram revolucionários divergentes, condenaram trabalhadores críticos, perseguiram homossexuais e artistas. O regime político autocrático estava orientado à preservação dos privilégios de uma burocracia estatal.
O projeto de emancipação socialista dos trabalhadores não poderia ter êxito confinado às fronteiras de um só país, muito menos restringido aos limites de uma pequena Ilha carente de recursos naturais e subdesenvolvida. Fidel Castro, ademais da consolidação de um regime burocrático em Cuba, foi o principal responsável pela estratégia de convivência pacífica com o cerco capitalista a Ilha. Dos primeiros intentos guerrilheiros de Che Guevara em África e Bolívia, Castro passou à defesa do estatus quo na América Latina. É conhecida sua recomendação aos guerrilheiros sandinistas nos anos oitenta: “Não façam da Nicarágua outra Cuba”.
A história nunca para. Há hoje em Cuba um acelerado processo de restauração. Os negócios capitalistas fluem por meio do turismo internacional, dos investimentos externos, do comércio global, de empresas estrangeiras etc. A cúpula da burocracia estatal se enriquece enquanto as conquistas sociais da revolução vão se perdendo. A recente visita de Obama a Ilha foi o símbolo desse processo avassalador. Raul Castro e a elite do partido comunista cubano são os condutores da restauração capitalista.
Fidel Castro foi o principal líder da revolução que estremeceu as Américas. Seu nome sempre será lembrado por isso. Mas Fidel será lembrado também por ser o artífice de um regime político ditatorial que pôs em marcha a restauração capitalista em Cuba.
Foto: Ernesto Che Guevara – Fidel Castro – Camilo Cienfuegos – Cuba
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