No último domingo, 17 de julho, o programa Extraordinários do Sportv foi palco de mais uma manifestação de xenofobia contra os nordestinos. Após o Grêmio ter perdido para o Sport, o jornalista Eduardo Bueno disse que não respeitava o clube pernambucano e que não sabia que existia futebol acima da Bahia. Não é a primeira vez que esse jornalista destila seu preconceito contra os nordestinos. Em Junho de 2014, ele chamou o nordeste de “aquela bosta”.
A xenofobia contra os nordestinos segrega milhares de trabalhadores e trabalhadoras e está presente também no futebol. É comum ouvir torcidas gaúchas xingarem times paulistas de “filhos de nordestinos”. Torcidas nordestinas são alvo de todo tipo de xingamento pelo país. O preconceito arraigado na sociedade passa os muros e toma as arquibancadas, fazendo com que o futebol como expressão popular seja catalizador dessas manifestações, assim como em casos de racismo e LGBTfobia.
O futebol nordestino, ao contrário do que disse o jornalista e pensa boa parte da mídia, existe e tem muita tradição. Foi de um nordestino o primeiro título brasileiro em 1959: o Bahia derrotou o Santos de Pelé e se sagrou o primeiro campeão Brasileiro. Foi de um time do Norte, o Paysandu, a proeza de ser o primeiro clube brasileiro a derrotar o Boca Juniors em plena Bombonera. O pernambucano Santa Cruza foi manchete mundial por colocar uma média de público superior a 32 mil pessoas mesmo estando na quarta divisão do campeonato brasileiro.
A seleção Brasileira também deve muito ao futebol nordestino. Mario Jorge Lobo Zagallo, que esteve presente em 4 das 5 conquistas mundiais da seleção canarinho, é nascido no estado de Alagoas. No campeonato sul-americano de 1959, a seleção brasileira foi composta apenas por jogadores que atuavam em Pernambuco e ficou com a quarta posição.
O abismo financeiro no futebol brasileiro só tem aumentado nos últimos anos, o que faz com que muitos times do nordeste percam espaço no cenário nacional. A série A de 2015 contou com apenas um clube do nordeste, o Sport de Recife. Nesse ano são 3 representantes na primeira divisão, 5 na segunda, 8 na série C e 22 clubes na série D. Muitos clubes nordestinos de grande tradição não conseguem alcançar lugares mais altos no patamar nacional, como o Fortaleza, que eliminou o Flamengo pela Copa do Brasil, mas permanece na terceira divisão há 7 anos.
A xenofobia é um reflexo da opressão vivida pela classe trabalhadora e pode se expressar em diversos meios, como no futebol. É necessário romper com essa cultura e punir aqueles que reproduzem esse discurso. O canal Sportv deveria demitir o Jornalista Eduardo Bueno pelo que ele falou. Se este caso ficar impune, é mais uma prova de que o Sportv comunga com este tipo de pensamento. É preciso arrancar alegria ao futuro, um futuro sem xenofobia em que a pátria de todos os trabalhadores seja o mundo todo.
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