“Os tempos já estão mudando”? («The times they are a-changin’»?) | Editorial (uma análise de conjuntura depois do referendo pela saída da Grã-Bretanha)
Publicado em: 30 de junho de 2016
Editorial do Socialist Worker | Trad. Betto della Santa
If your time to you/
Is worth savin’/
Then you better start swimmin’/[Se seu tempo para você/
Vale a pena ser salvo/
Então é melhor você começar a nadar/]
Os donos da Grã-Bretanha enfrentam abalos sísmicos após o voto pela saída da União Europeia e nenhum deles parece ter qualquer resposta política para o que aconteceu.
David Cameron anunciou a saída de cena apenas algumas horas após o resultado do referendo.
O homem que dirigiu a austeridade mais brutal contra os trabalhadores desde 1930, atacou os migrantes e presidiu a campanha islamofóbica contra o prefeito de Londres, Sadiq Khan, está desaparecido.
O chanceler, George Osborne, saiu do esconderijo, Segunda-feira, para reassegurar os mercados de ações de que “a economia está tão forte quanto nunca”. O resultado foi que o preço das ações despencou abruptamente.
Os Tories do ‘Brexit’ estão descobrindo que os Estados europeus não vão lhes dar qualquer trégua.
Suas promessas, como mais dinheiro para o Sistema de Saúde Nacional, desapareceram sem deixar quaisquer rastros.
A disputa pela liderança Tory vai dividi-los ainda mais agudamente. Outro referendo, pela independência escocesa, está na ordem do dia. A eleição geral poderá ocorrer para este ano, ou para o início de 2017.
O lançamento do Informe Chilcot, na próxima semana, irá desmascarar pelo menos algumas das mentiras sangrentas por detrás da Guerra do Iraque. Se isso não acontecer a ira irá tomar conta da sociedade após qualquer tentativa de varrer a sujeira para debaixo do tapete.
Estes verdadeiros golpes de martelo reforçam-se mutuamente. O governo está marcado pela inércia, paralisia e derrapagem. Trata-se de uma genuína crise.
E isso pode ser resolvido na direção das pessoas que vivem do próprio trabalho. E pode, portanto, não favorecer às elites que sofreram com o martelar do referendo.
Quebra
Muitos na esquerda parecem mergulhados em tristeza. Nós não compartilhamos deste ponto de vista. Há perigos e armadilhas potenciais, mas também uma chance real de romper com o consenso da austeridade e fazer recuar os racistas de volta ao armário.
O voto de saída enfraqueceu nossos inimigos. É hora de acelerar o assalto ao establishment.
Os racistas irão buscar fazerem-se prevalecer nesta atmosfera de turbulência.
O bode expiatório racista dos meios de comunicação e dos políticos da ordem, muito antes e também durante o referendo, encorajou-os a valer — e alguns vão recrudescer em violência e assédio.
Mas eles podem ser derrotados.
Temos que dimensionar como a crise se desenrola. Temos que ser participantes ativos do resultado. E não meros espectadores passivos de manobras políticas advindas de cima para baixo da sociedade.
Este é o contexto da tentativa de defenestrar Jeremy Corbyn enquanto líder trabalhista. À primeira vista é desconcertante que, assim como os Tories desintegraram o Labour, os parlamentares da Câmara dos Comuns deram cabo de sua própria liderança.
Mas eles deparam-se com uma batalha muito mais ampla. Corbyn e os seus apoiadores querem o Labour como um partido antiausteridade e antirracista enquanto a maioria dos deputados trabalhistas acham que o partido não deve representar qualquer ameaça efetiva aos patrões.
Eles concordam com Tony Blair quando este diz que “não gostaria de vencer em uma plataforma de esquerda à moda antiga.” (E “mesmo que pensasse ser esta a trilha a pavimentar o caminho para a vitória, eu não a seguiria.”)
Os oponentes de Corbyn querem um Labour totalmente endireitado. A maioria parlamentar trabalhista nunca aceitou Corbyn como líder. A única divergência era quanto ao momento certo para derrubá-lo de uma vez por todas.
Incentivados pelo jornal Financial Times, o qual afirma que “após desembainhar a adaga os parlamentares trabalhistas não podem colocá-la de volta”, vão lutar até o fim.
Todos à esquerda precisam apoiar Corbyn contra a direita.
Mobilizar
Mas ele não vai sobreviver a menos que se mobilize às pessoas, por fora do parlamento ou do Labour. É hora de uma luta aberta, e não de mais conciliação de classes.
Outra eleição para a liderança parece provável. Corbyn deve estar na cédula. E deve ganhar. Os dirigentes sindicais que apoiaram Corbyn não devem, agora, traí-lo. Os parlamentares que o apunhalam pelas costas devem ser preteridos e cortados dos laços de todo apoio sindical.
Mas uma batalha mais ampla tem agora lugar. Precisamos lutar por soluções para a crise que unifiquem e mobilizem a classe trabalhadora.
Temos que garantir que as forças antiausteridade e antirracistas possam emergir mais fortes que antes. E que a direita seja derrotada.
É boa a notícia de que as pessoas de Newcastle a Tower Hamlets já tenham tomado às ruas contra o racismo e o fascismo.
Quanto mais greves, atos e ocupações do nosso lado, melhor será o resultado da votação. Tal ação coletiva deve envolver a todas as pessoas, não importa como tenham votado no referendo.
A greve dos professores em toda a Inglaterra é um bastião importante. A Marcha contra a Austeridade e o Racismo, chamada pelas coalizão Levante-se contra o Racismo/Stand Up to Racism e a Assembléia do Povo/People’s Assembly — para 16 de julho em Londres —, é outra data crucial.
Por que os Tories deveriam se ver livres de toda uma ofensiva de nosso lado?
Os professores podem vencer. Empregos na metalurgia merecem ser salvos. O Projeto de Lei Sindical/Trade Union Act deve ser desafiado.
Os dirigentes sindicais podem ser parte da derrubada dos Tories ou responsáveis por abrir-lhes caminho para uma sobrevida. Um rubicão foi cruzado.
A transformação social nunca vem sem turbulência no Mar da História —
e agora é a hora “H” para nós nos aproveitarmos deste momento histórico.
Fonte: Jornal Socialist Worker, London, 28/Jul./2016.
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