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TEORIA

Um pouco sobre nossos antepassados: a tradição trotskista no Brasil (parte III)

Felipe Demier

O Partido Operário Revolucionário: uma experiência política e teórica para futuros acadêmicos

 

O III congresso da IV Internacional, realizado em 1951, teve como principal consequência uma forte e irreparável cisão no movimento trotskista mundial.

De um lado, ficaram as seções que corroboravam as propostas, vitoriosas no encontro em questão, defendidas pelo grego (que militava na França) Michel Raptis, mais conhecido por seu codinome Pablo. Alegando a inevitabilidade de um enfrentamento cada vez mais radicalizado, com possibilidades bélicas, entre o imperialismo e os “Estados operários” liderados pela União Soviética, Pablo argumentava que tal conjuntura levaria as traidoras burocracias estalinistas a uma radicalização de suas políticas. Provavelmente impressionado com a influência de massas de que gozavam muitos partidos comunistas europeus no pós-guerra, Pablo defendeu que os trotskistas deveriam reingressar nas organizações estalinistas com fito de influenciar suas decisões e conduzi-las ao caminho revolucionário. No caso da inexistência de partidos comunistas com inserção significativa na classe trabalhadora, como em muitos países da América Latina, a direção pablista, após um curto período em que indicou a construção de partidos revolucionários independentes, orientou os trotskistas a ingressarem nas fileiras dos partidos e movimentos “nacionalistas” burgueses ou pequeno-burgueses que tivessem audiência massiva entre o proletariado. Tal “tática” política formulada por Pablo receberia a denominação de “entrismo sui generis”.[1]

Contando com a adesão pós-congresso do economista belga e prestigiado dirigente político Ernest Mandel, a ala da IV Internacional que reunia as seções nacionais (ou partes destas) adeptas da nova “tática” passou a ser conhecida como Secretariado Internacional (SI). Do outro lado, organizou-se o Comitê Internacional (CI), composto pelos partidos e grupos trotskistas que se recusavam a implementar a política “entrista”, considerando-a um retrocesso em relação à própria fundação da IV Internacional. Majoritário entre a militância que reivindicava o trotskismo, o CI tinha como principais expoentes o norte-americano SWP, o Partido Obrero Revolucionario (POR) da Argentina (liderado por Nahuel Moreno, codinome de Hugo Bressano) e a maioria da antiga seção francesa (que, por se negar a cumprir as ordens pablistas de iniciar, em 1952, o “entrismo” no Partido Comunista Francês, acabou expulsa pelo SI), que tinha à frente Pierre Lambert.

Alinhado com as diretrizes do SI, teve origem em 1952 o Bureau Latino-Americano da IV Internacional (BLA), dirigido pelo dirigente argentino J. Posadas (codinome de Homero Cristali).[2] Foi como delegado do BLA que o também argentino Guillermo Almeyra chegou a São Paulo com o objetivo de estabelecer contatos com os trotskistas brasileiros, liderar um grupo e editar um jornal. Hospedado na casa dos pais do então jovem estudante Leôncio Martins Rodrigues, Almeyra arregimentou ex-militantes do PSR (como Milton Camargo, Antônio Pinto de Freitas e o próprio Leôncio Martins Rodrigues) e alguns jovens membros do PSB (como Sebastião Simões de Lima), constituindo assim um pequeno núcleo trotskista, alinhado ao BLA. Desse modo, dando seqüência à saga do movimento trotskista no Brasil, foi criado, ainda em 1952, o Partido Operário Revolucionário, que passou a expor suas posições por intermédio do periódico Frente Operária.[3]

Durante dois anos, o POR atuou com a perspectiva de, a partir da animação de uma “frente única operária”, dotada de um programa antiimperialista e anticapitalista, construir um partido marxista e revolucionário no país. Entretanto, em fins de 1954, após a volta de Leôncio e Almeyra do IV Congresso da IV Internacional realizado na França, o POR, seguindo as novas diretrizes deste último para o Brasil, enveredou pelo caminho do “entrismo” no PCB. Para essa difícil e clandestina tarefa,[4] foram destacados, entre outros militantes, o próprio Leôncio e o então estudante de Direito e Filosofia Ruy Fausto.[5] Ruy, assim como seu irmão, o futuro historiador Boris Fausto, haviam adentrado as fileiras do POR pouco tempo após o surgimento do partido. Murilo Leal destaca que, à época, o partido agitava nos meios universitários o Círculo Karl Marx, um centro de estudos e discussões sobre o marxismo por meio do qual os trotskistas estabeleciam contatos com estudantes e intelectuais de esquerda. Do Círculo participavam, além de Ruy Fausto e demais ativistas de perfil intelectual do POR, nomes como Paul Singer e Emir Sader.

A tática “entrista” no PCB, que se mostraria, em termos gerais, um enorme fracasso, rendeu ao POR, contudo, a captação de alguns quadros pecebistas, entre eles o importante dirigente operário e ex-deputado federal constituinte José Maria Crispim que, expulso em fevereiro de 1952 do partido de Prestes, aderiu, em carta aberta de setembro de 1955, à IV Internacional. Em 1957, sem muito sucesso, o POR buscou atrair Agildo Barata e seu grupo, que haviam rompido com o PCB – mas que acabou aderindo, entretanto, a posições de cunho nacionalista.[6] Em 1962, o POR deslocou dois de seus militantes, Doroty Massola e Fábio Munhoz, para realizar o “entrismo” no recém-fundado Partido Comunista do Brasil (PC do B), de linha maoísta. Com os dois trotskistas rapidamente descobertos e expulsos, a nova investida fracassou fragorosamente. Em 1963, o POR abandonaria por completo a militância entre os pecebistas, e a prática “entrista” passaria a ter lugar, especialmente após o Golpe de 1964, nas fileiras nacionalistas sob comando de Leonel Brizola, um dos principais inimigos da ditadura militar. Segundo o excêntrico Posadas, tratava-se, então, de um “entrismo” modificado, que ele, de um modo altamente pleonástico, denominou como um “entrismo interior”.[7] Naquele momento, o POR já não se encontrava mais vinculado ao SI, pois em 1962 o BLA havia acompanhado sua liderança maior no intento de formar uma “IV Internacional Posadista”.[8]

Em 1953, o POR envolveu-se na campanha de Jânio Quadros à Prefeitura de São Paulo. Segundo depoimentos de ex-militantes do partido,[9] Jânio, no final do ano anterior, havia participado de uma reunião com cinco militantes do POR (entre eles, Leôncio Martins Rodrigues e os irmãos Fausto), quando assinara um documento em que se comprometia, caso vencesse o pleito, a efetivar determinadas propostas políticas que lhe foram apresentadas pelos trotskistas. Após seu sucesso nas urnas, Jânio (como era de se esperar) não só nada implementaria das tais propostas, como ainda diria aos trotskistas que não se lembrara de ter assinado documento algum.[10]

Nas eleições para a Presidência da República de 1955, em um manifesto intitulado “Os trotskistas rejeitam as quatro candidaturas”, o POR afirmou que poucas diferenças existiam entre os candidatos Juscelino Kubitschek, Juarez Távora, Adhemar de Barros e Plínio Salgado, defendendo assim o “voto em branco” como um forma de protesto contra a legislação eleitoral que não permitia candidaturas independentes. Ferozmente, os trotskistas condenaram o apoio do PCB a JK, considerando tal postura uma “capitulação vergonhosa diante do inimigo de classe”.[11] Igualmente, no pleito de 1960, o partido atacou os três concorrentes à cadeira presidencial (Henrique Teixeira Lott, Adhemar de Barros e Jânio Quadros) e defendeu o lançamento de uma candidatura “operária” que nascesse do movimento e das lutas dos trabalhadores; esta candidatura, segundo o POR, deveria basear-se em um programa político no qual constasse, entre outras consignas, a escala móvel de salários, a jornada móvel de horas de trabalho, a estabilidade no emprego, a estatização das fábricas paradas, nacionalização dos bancos, o monopólio estatal do comércio exterior, o controle operário sobre a Previdência Social, a reforma agrária, a ampliação das relações diplomáticas do país, o direito de greve e a organização independente dos trabalhadores em face do Estado.

Quando da renúncia de Jânio, a 25 de agosto de 1961, o POR acreditou que se abria no país uma “situação pré-revolucionária” e passou a defender, entre outras bandeiras, a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. No contexto da “crise da legalidade”, o jovem militante do partido Tullo Vigevani, estudante de engenharia na Escola Politécnica da USP, foi preso pichando nos muros palavras de ordem contra o golpe (iniciado pelos três ministros militares do governo renunciante, o general Odílio Denys, o brigadeiro Grün Moss e o almirante Sílvio Heck) que buscava impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Já no final de 1963, o POR começou a identificar a situação nacional como “revolucionária”[12] – Entretanto, tal concepção não impediria os trotskistas de subestimar a contra-revolução (que, segundo Trotsky, sempre se faz presente em qualquer situação na qual a questão do poder está colocada para a classe operária) e avaliar que o golpe perpetrado em 1964 pela burguesia e o imperialismo não havia provocado senão um revés circunstancial no processo revolucionário.[13]

Impressionados com a audiência do movimento nacionalista entre as massas, no qual depositavam uma esperança de “radicalização”, os trotskistas propuseram que os brizolistas se diferenciassem, no interior da Frente de Mobilização Popular (FMP) – uma entidade de frente única que aglomerava os setores mais expressivos da esquerda –, das linhas políticas consideradas (não sem razão) moderadas, representadas por lideranças como Arraes, Almino Alfonso e Prestes (PCB). Após a derrubada de Jango, o partido participou da Frente Popular de Libertação, criada no Uruguai, e assumiu, no Brasil, a divulgação do jornal nacionalista O panfleto.[14]

Na década de 1950, o POR, muito pequeno e concentrado no Estado de São Paulo, desenvolveu atividades no Sindicato dos Trabalhadores em Carris Urbanos, no Sindicato dos empregados em Hotéis e Similares de São Paulo, no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e Mobiliário de Campinas. Os trotskistas atuaram, também, nesse período, na metalúrgica Sofunge e entre os trabalhadores dos frigoríficos Armour e Wilson.[15]

Nos anos 60, o partido logrou construir um núcleo no Rio Grande do Sul, a partir da militância no meio estudantil exercida por Paulo Pilla Vares que, como “entrista” na JC, atraiu para o POR seus companheiros Vito Letizia e Paulo Pereira. No Rio de Janeiro, onde o a organização consolidava-se nesse período, o dirigente Sidney Fix Marques dos Santos coordenou as atividades dos trotskistas entre os estudantes de Niterói e São Gonçalo, os trabalhadores dos estaleiros e os da região canavieira de Campos, assim como entre os funcionários da Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Por intermédio da FMP e do 2º sargento do Regimento da Escola de Infantaria da Vila Militar da Guanabara, Wilson Mendonça Maia, o POR atuou também entre as praças das Forças Armadas, em uma conjuntura na qual a organização política dos sargentos e marinheiros ameaçava significativamente a solidez do Estado burguês.[16]

Aos militares da “base” das Forças Armadas, aliás, o POR dedicou uma atenção especial. Em Recife, os trotskistas realizaram um trabalho envolvendo aproximadamente 25 sargentos da Base Aérea, por intermédio do 3º sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) Jair Borin, militante do POR e componente da chapa que, em fevereiro de 1963, venceu as eleições para o Clube de Oficiais e Sargentos da Aeronáutica.[17] Em São Paulo, os contatos também foram estabelecidos com militares da Aeronáutica por meio dos sargentos José Barreto de Souza, José Francisco de Almeida e João Ferreira da Silva. No começo de 1963, o POR ganhou a adesão do 3º sargento do Exército Ovídio Ferreira Dias, da Divisão Regional de Moto Mecanizados da 2ª Região Militar (DRMM/2), sediada em Osasco. Como presidente da Caixa Beneficente dos Oficiais e Sargentos da DRMM/2, Ovídio estruturou uma célula partidária com cerca de 30 militares.[18]

Vale destacar, também, o trabalho realizado pelo POR, a partir de 1962, junto ao movimento camponês que se radicalizava no Nordeste. Para o município de També, fronteira de Pernambuco com a Paraíba, foi enviado o jovem gráfico Paulo Roberto Pinto, que lá ficaria conhecido por “Jeremias”. Recebendo pouco tempo depois a companhia de outros dois militantes do POR, Fábio Munhoz e o Pedro Makovsky Clemachuk, “Jeremias” obteve, conjuntamente com o sindicalista Joel Câmara, o controle de fato do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de També (oficialmente dirigido por um “pelego” que atendia por “Capitão”) e desenvolveu intensas lutas a partir das propostas de ocupações de terras, da organização de milícias dos trabalhadores rurais, da formação de “conselhos” de camponeses por engenhos, usinas e municípios, além da defesa da estratégica “aliança operário-camponesa”. “Jeremias”, contudo, acabaria morto quando liderava um grupo de 500 trabalhadores em greve pelo pagamento do 13º salário atrasado no Engenho Oriente.[19] O POR conseguiria ainda a incorporação às suas fileiras de alguns militantes que haviam passado pelo Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), vinculado às Ligas Camponesas de Francisco Julião.[20]

No que tange ao âmbito mais propriamente teórico da história desta terceira geração do trotskismo no Brasil, faz-se necessário assinalarmos que, desde sua fundação até meados da década de 1960, o POR realizou sugestivas análises sobre o fenômeno do “nacionalismo-burguês” latino-americano, apontando várias características de sua manifestação brasileira que reapareceriam posteriormente nos trabalhos de autores como Ianni, Weffort, Décio Saes e Armando Boito Jr. sobre o período populista da história nacional.[21]

O Golpe de 1964 abalaria profundamente o POR, assim como as demais organizações de esquerda que vinham atuando sob o governo de Goulart. Enquanto elementos que levariam à desagregação do partido trotskista, somaram-se à mudança de regime no país as fortes diferenças políticas presentes no seu interior. Em 1966, na V Conferência Nacional do partido, um grupo de militantes apresentou um documento no qual criticava o excesso de centralismo implantado por Posadas na organização brasileira.[22] O plenário da Conferência, entretanto, não só repudiou o documento como determinou a imediata dissolução da “fração” que o havia elaborado, composta por Antonio Carlos Leal de Campos, José Leão de Carvalho, Gilvan Rocha, Fábio Munhoz e Maria Hermínia Tavares de Almeida (que havia ingressado no POR em 1963), além do afastamento desses militantes dos cargos de direção que ocupavam na estrutura partidária. Pouco tempo depois, os autores do polêmico documento abandonariam o POR. Em 1968, alguns militantes do Rio Grande do Sul foram excluídos do partido e deram origem à Fração Bolchevique da Seção Brasileira da IV Internacional. Rapidamente, o novo agrupamento recebeu adeptos do POR provenientes do Ceará, Pernambuco e do próprio Rio Grande do Sul. Embora bastante enfraquecido, o POR continuaria suas atividades sob a ditadura militar (1964-1985), assim como nos anos democráticos posteriores. Atualmente, os trotskistas de linha posadista, com uma insignificante inserção entre a classe trabalhadora brasileira, encontram-se (ainda!) dentro do PT e editam o periódico Revolução Socialista.

Da interessante trajetória do Partido Operário Revolucionário, o mais pertinente a ser destacado neste pequeno artigo é o contato proporcionado pela pequena organização entre futuros acadêmicos “ilustres” e as idéias do revolucionário León Trotsky.

Já pudemos notar, de passagem, como dois destacados estudiosos do movimento sindical brasileiro, Leôncio Martins Rodrigues e Maria Hermínia Tavares de Almeida, compuseram, durante determinado período, as fileiras do POR. Mencionamos também, neste brevíssimo histórico da organização trotskista, o fato de que os irmãos Boris e Ruy Fausto nela militaram praticamente desde sua fundação. Em um depoimento dos anos 90, Boris, que se afastou do POR em fins de 1962, relembraria sua experiência como membro da IV Internacional:

Eu comecei a militar no trotskismo por volta de 52 […] Havia qualquer coisa de errado, para mim, no PC. Havia uma certa dureza – o trotskismo também tinha – mas que eu identificava muito com os comunistas e havia também o culto à personalidade do Prestes, que era uma coisa que eu não vivi a posteriori, porque hoje é um mérito indiscutido, não é? Mas na época era uma coisa que incomodava profundamente. Então eu entrei para o trotskismo muito pela via intelectual. Eu comecei a ler coisas, a me interessar pelas coisas de esquerda em geral e dei, quase que “autodidaticamente”, com os livros de Trotsky em sebos e coisas assim, e comecei a me encantar com as coisas dele e a dizer: “Não, isso aqui eu entendo, isso aqui é uma crítica da União Soviética”. Eu me preocupava muito com a coisa da União Soviética, ao mesmo tempo em que aderia à União Soviética dizia: “Mas aí há coisas erradas, há coisas que não funcionam.” Então, a crítica trotskista, especificamente do Trotsky, da União Soviética me impressionou demais […][23]

Por mais que eu discorde do que a gente pensava naquela época, eu acho que isso foi uma coisa importante, para nós, como grupo, como pessoas. Eu acho que, não sei o que cada um pensa disso, eu acho que ganhei com a elaboração política, no sentido de que a gente discutia muito. A vida das reuniões era muito intensa […] eram longuíssimas discussões. Sobre textos, sobre ideologia, sobre rumos a tomar e isso eu acho que nos deu um treino, um exercício, de falar etc., e como nós éramos um grupo, a não ser quando estavam aqui os argentinos [os delegados do BLA], como nós éramos um grupo cujos caciques eram fracos, isso tinha uma liberdade, vamos dizer assim, que eu nunca vi no PC. Quando a gente conversava com o pessoal do PC eu tinha a sensação de que nós percebíamos as coisas e não só isso, que nós tínhamos liberdade de pensar e que eles eram teleguiados […] eu acho que isso [a experiência no POR] foi um ganho. Não um ganho político geral: um ganho para nós como formação pessoal.[24]

Pensamos que não consiste em empresa muito difícil estabelecer uma relação entre a militância trotskista de Boris Fausto e certos aspectos de parte de sua ulterior produção científica, em especial no que diz respeito a sua ótica da “Revolução” de 1930 (ver a primeira parte de “Um pouco sobre os nosso antepassados: a tradição trotskista no Brasil”). Assim, antecipamos que o contato do futuro historiador, por intermédio do POR, com a “teoria da revolução permanente” e a lei do desenvolvimento desigual e combinado constituiu-se em um importante “ingrediente” para o “preparo” de sua interpretação acerca da “Revolução” de 1930 – o que, consequentemente, nos permite afirmar que sua oposição historiográfica à lógica “dualista” e “etapista” não pode ser vista como um fenômeno eminentemente acadêmico, oriundo de divergências epistemológicas de gabinete.

Profundo estudioso do POR, Murilo Leal chamou a atenção para a relação entre a pequena organização trotskista e nomes expressivos da intelectualidade acadêmica brasileira:

Algumas das perguntas, das categorias e das problemáticas propostas pelo POR em suas tentativas de interpretação da sociedade brasileira foram reelaboradas, mas estão presentes como matrizes em obras tão relevantes como A revolução de 1930, de Boris Fausto, ou no trabalho Sindicalismo e classe operária (1930-1964), em que Leôncio Martins Rodrigues emprega o conceito de bonapartismo. Certamente o trotskismo entrou como componente dos fundamentos do interesse de Ruy Fausto pelo marxismo. Contribuiu, também, para formar o interesse de Leôncio Martins Rodrigues, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Tullo Vigevani e Cláudio Cavalcanti pelo papel dos sindicatos na sociedade brasileira e suas interrogações sobre os significados da “Era Vargas”. O POR representou nos anos 50, portanto, uma das matrizes de um pensamento de contra-hegemonia face ao nacional-desenvolvimentismo e ao estalinismo.[25]

Corroborando a perspectiva de Leal acerca do vínculo existente entre a organização trotskista e determinada produção acadêmica brasileira dos anos 60 e 70, consideramos ainda que a lista de consagrados intelectuais universitários que, no pré-1964, tiveram no POR um interlocutor político pode ser um pouco ampliada.

O próprio Leal aponta, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort, que nos anos 50 integraram a Juventude Comunista (JC), como nomes que estabeleceram contatos com o partido trotskista.[26] Em depoimento a Leal, Ruy Fausto – que, como vimos, foi militante “orgânico” do POR e praticou o “entrismo” na JC –, afirmou que, durante sua experiência, entre 1954 e 1956, junto à juventude pecebista, Weffort fora um dos ativistas que desenvolveram afinidade com a linha trotskista: “Weffort nunca foi da IV Internacional, ele estava próximo”, disse Fausto.[27] O depoente lembrou que, nesse período, Weffort era muito ligado ao filho do histórico militante comunista Leôncio Basbaum, Hersch Basbaum, então integrante da JC e que alguns anos mais tarde aderiria ao trotskismo: “[Weffort] morava perto da minha casa, numa pensão. Eu ia lá buscar ele, conversar com ele. Deixava recados: ‘Weffort, telefone para o Hersch’. O Hersch tinha telefone, ele não tinha. Imaginar esse sujeito ministro da Cultura é engraçado.[28] [Weffort] era secundarista nesse tempo, eu era universitário.”[29]

Ruy Fausto se recordou, ainda, de que, entre 1963 e 1964 (quando já se encontrava, na prática, afastado de uma militância mais “orgânica” entre os trotskistas), chegara a assistir, acompanhado de Weffort, a algumas reuniões do POR. Em uma dessas reuniões, realizadas às vésperas do Golpe de 1964, Fausto apresentou um manifesto acerca da situação nacional, redigido conjuntamente com Weffort, no qual atacava tanto os golpistas quanto o governo Goulart, o que fez com que os presentes considerassem que o manifesto supunha que o golpe viesse a ser desferido por Jango.[30] Em entrevista concedida a nós em 2007, o filósofo uspiano afirmou que alguns militantes do POR tinham relações pessoais, mas não partidárias, com figuras como Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni nos anos 50 e início dos 60. Quando perguntado, entretanto, se estes últimos, assim como Weffort, haviam tido contatos com as idéias de Trotsky por intermédio da organização posadista, Fausto foi peremptório: “Sim, tiveram contato via-POR”.[31]

Ottaviano De Fiori, que passou pelas fileiras do POR também em meados da década de 1950, relatou que Weffort era, naquele período, uma das eternas esperanças de captação por parte da organização. Talvez tenha sido imbuído dessa esperança que De Fiori, segundo o próprio, lhe emprestou a obra Revolução e contra-revolução na Alemanha, de Trotsky, cobrando-lhe insistentemente a leitura. Weffort, não obstante ter atendido ao pedido do militante do POR, jamais aderiria ao agrupamento trotskista.[32]

Recordando-se da militância de Weffort ao seu lado na JC, o já mencionado Hersch Basbaum, em depoimento a Murilo Leal, posicionou-se acerca da possibilidade de ter havido alguma influência do trotskismo do POR na formação intelectual do futuro “teórico do populismo”:

Weffort foi membro da Juventude Comunista […]. Weffort sempre teve um perfil acadêmico. Temos a mesma idade, e eu digo isso, Murilo, não para abonar as minhas falhas, mas eu trabalhava para ganhar a vida nessa época, porra. E eles [Weffort e outros ativistas de perfil intelectual, provavelmente] não, ele estudavam, só. Eles tinham essa vantagem. Ficavam lendo o dia inteiro. E o Weffort sempre foi inteligente, um bom sujeito, inclusive, eu gosto muito dele. E ele era comunista sim. E era muito preparado para absorver as idéias da esquerda trotskista naquele momento. Até porque o perfil acadêmico que ele manifestava naquele momento facilitava ainda mais a curiosidade intelectual de chegar a ler os textos proibidos. E ele fez isso numa boa. E ele provavelmente foi influenciado. Ele ficou muito amigo do Leôncio [Martins Rodrigues] por um certo tempo também. Não sei em que momento eles tiveram a aproximação e a ruptura. Mas foi por aí, na década de 1950. Então eu diria que, provavelmente, Weffort foi influenciado pelo trotskismo. A adesão dele ao PT mais tarde pode ser que seja uma decorrência. Não que o PT fosse uma coisa de extrema esquerda, mas […] ele surgiu como uma crítica ao Partido Comunista [PCB] na prática. Podia ser, mas não posso te dizer com segurança. Mas provavelmente teve apoio trotskista sim,[33] porque ele tinha essa posição crítica muito forte. Ele saiu do Partido [PCB] muito antes que eu. Muito antes. Eu, em 1958, ainda estava batalhando, e ele já tinha saído e já era professor, eu acho […]. Então o Weffort, eu diria, mantinha relações, sim, com os trotskistas, mas convém ir falar com ele lá em Brasília para ver se ele confirma isso (risos).[34]

O revelador depoimento de H. Basbaum faz menção também a Fernando Henrique Cardoso. Agrupando-o a Weffort, comentou Basbaum:

Eram pessoas muito cultas, nós admirávamos os dois […] babávamos de deslumbramento porque já eram figuras que apareciam no meio intelectual, ainda que muito jovens, então fatalmente tiveram contatos [com os trotskistas] […] Então, o Fernando Henrique teve, com certeza, influência trotskista, com muito mais evidência até porque ele ficou amigo do Leôncio [Martins Rodrigues] muito tempo. E foi quem deu o primeiro empurrão para o Leôncio fazer carreira acadêmica. Eu lembro. Trabalhávamos ambos, Leôncio e eu, numa empresa chamada Marplan [de] pesquisa de mercado e eu lembro do Fernando Henrique cantando o Leo para fazer carreira universitária.[35]

Aliás, o próprio Leôncio Martins Rodrigues, fundador e ex-dirigente do POR, nos forneceu recentemente um interessante relato acerca das relações entre o trotskismo dos anos 50 e renomados acadêmicos das décadas de 1960 e 1970. Se, nas lembranças de Leôncio sobre o período, a figura de Weffort não aparece de forma muito nítida, o nome de nosso ex-presidente, por sua vez, lá se encontra vivamente:

Por razões de amizade, ainda quando membro do POR, tinha relações com
F. H. e Ruth. Essas relações eram vistas com maus olhos pelos membros do Partidão [PCB], cujo artigo 13 dos seus estatutos proibia a relação com trotskistas. Ocorre que Fernando e Ruth tinham sido – antes de se casarem e ainda cursando a antiga FFCL [Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, um dos alicerces da construção da USP] – professores no curso colegial do Colégio Fernão Dias Paes, onde eu estudava. Alguns anos depois, quando eu era funcionário da Secretaria do Trabalho de SP, voltei a encontrar a Ruth que fora contratada como técnica de um Serviço Estadual de Mão de Obra que fazia parte dessa Secretaria.

Com Ianni, quando militante do POR não tive contactos. Com Florestan, sim, porque ele fora simpa do trotskismo. Eu o procurava para vender o jornal Frente Operária. Idem com relação a Lívio Xavier. Com Weffort, que fazia parte da JC, creio que me encontrei uma ou duas vezes, mas não estou certo.

Relato um fato curioso: um encontro de F. H. com Posadas, promovido por mim. O encontro ocorreu na casa do Fernando Henrique, com a presença do [ex-militante comunista] Fernando Pedreira, que era muito amigo do F. H. Foi em 1956. F. H. C. e Pedreira tinham rompido com o Partidão quando do relatório Kruschev e da invasão da Hungria e da Polônia pela URSS. Na ocasião, houve a cisão no PCB de um grupo liderado pelo Agildo Barata, do qual F. H. C. e Pedreira fizeram parte. Posadas tinha a esperança de trazer algumas pessoas desse grupo para o trotskismo. Ficara impressionado por um trabalho sobre o estalinismo escrito por Pedreira que chegara a circular em Montevidéu. Não é preciso dizer que houve apenas uma reunião entre eles.[36]

Leôncio Martins Rodrigues nos contou, também, que, quando já se encontrava afastado do POR,[37] realizou uma exposição sobre a “teoria da revolução permanente” nos seminários do chamado “Grupo d’O Capital”. Segundo o expositor, tal atividade teve apenas a finalidade de “satisfazer a curiosidade intelectual dos participantes”.[38] Não custa registrar aqui o já sabido fato de que Ruy Fausto, Weffort, F. H. Cardoso e Octavio Ianni, como também José Arthur Gianotti, Emir Sader e Michael Löwy, foram alguns dos participantes do mencionado “Grupo”, que possuiu duas “gerações”.[39] Nesse sentido, é possível que a “despretensiosa” exposição de Leôncio Martins Rodrigues para seus colegas acerca de um dos pilares do pensamento trotskista tenha tido maiores conseqüências do que as imaginadas pelo seu autor.

Nas poucas informações aqui contidas, acreditamos ser permitido entrever a existência de vínculos – para além dos que já são, relativamente, bastante conhecidos do público interessado – entre a terceira geração do movimento trotskista brasileiro e membros de nossa intelectualidade acadêmica “antidualista”. Todavia, ressalvamos que tais contatos com o trotskismo por parte de autores como Fernando Henrique Cardoso e Francisco Weffort, por exemplo, foram investigados por nós apenas de modo introdutório, o que torna necessária a realização de pesquisas de maior profundidade para que conclusões mais precisas sejam alcançadas. Por ora, nos limitamos a dizer que, em função das relações mantidas entre o POR e estes dois futuros notórios acadêmicos, as concepções teórico-políticas de matriz trotskista não se constituíram em elementos totalmente estranhos às suas formações intelectuais.

Encerramos, assim, este artigo sobre o POR afirmando de forma breve que, em que pese seu pouco peso político conseguido junto ao movimento operário brasileiro, esse pequeno partido trotskista pode vir a assumir uma importância significativa enquanto fonte de pesquisa para os eventuais interessados em se debruçar sobre as raízes de uma importante geração de intelectuais do país.


[1] A adição da expressão latina “sui generis” ao termo “entrismo” deveu-se ao fato de que, na década de 1930, Trotsky havia defendido a tática “entrista” para os revolucionários em países como França, Espanha e Estados Unidos.

[2] Ligado ao CI, Nahuel Moreno, por sua vez, animou o Secretariado Latino-Americano do Trotskismo Ortodoxo (SLATO), que disputou com o BLA de Posadas a representação do legado político de Trotsky em nosso continente.

[3] As informações acerca da trajetória do POR foram extraídas de LEAL, M. À esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasil contemporâneo (1952-1966). São Paulo: Paz e Terra, 2003; e ____. “Idéias políticas e organização partidária do POR (1952-1964)” in Cadernos AEL: trotskismo (v. 12, nº. 22/23). Campinas: Unicamp/IFCH/AEL, 2005, p. 127-159.

[4] Vale destacar que o artigo 13 dos estatutos do PCB proibia seus militantes de “manter relações pessoais, familiares ou políticas com os trotskistas”.

[5] Ruy Fausto foi militar na Juventude Comunista (JC) e tornou-se membro do Comitê de Zona Universitária (CZU) do PCB. Leôncio Martins Rodrigues, por sua vez, dedicou-se ao trabalho entre os jovens comunistas que atuavam na União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES).

[6] Nesse mesmo período, Leôncio Martins Rodrigues, fundador do POR, afastou-se da organização e passou a dedicar-se à carreira acadêmica.

[7] LEAL, M. À esquerda da esquerda…Op. cit., p. 141-148.

[8] Cada vez mais delirante, Posadas, depois de ter pregado a inevitabilidade de uma guerra nuclear mundial que abriria caminho ao socialismo, passou, a partir de fins dos anos 60, a flertar com teorias esotéricas, como a ufologia (o socialismo deveria ser interplanetário!), a comunicação com golfinhos, o parto aquático de seres humanos, “Nova Era” etc.

[9] Recolhidos por Murilo Leal, e contidos em LEAL, M. À esquerda da esquerda…Op. cit.

[10] LEAL, M. À esquerda da esquerda…Op. cit, p. 56-60.

[11] POR. “Os trotskistas rejeitam as quatro candidaturas” in Frente Operária, nº. 17. São Paulo, setembro de 1955, apud LEAL, M. “Idéias políticas…”. Op. cit., p. 134.

[12] LEAL, M. À esquerda da esquerda…Op. cit, p. 159-188.

[13] Idem, p. 189-195.

[14] Idem, p. 194.

[15] Idem, p. 59

[16] Idem, p. 214-228.

[17] Em 22 de novembro de 1964, quando já havia sido expulso das Forças Armadas, Borin, que dava seqüência à sua militância em uma célula universitária (pois também era estudante de sociologia), acabaria finalmente preso. (Idem, p. 256).

[18] Idem, p. 255-264.

[19] Idem, p. 228-254. Segundo o texto apócrifo contido na quarta capa do livro de Leal, o personagem “Levindo”, do romance Quarup, de Antonio Callado (2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1967), teria sido inspirado na vida (e morte) de “Jeremias”.

[20] Idem, p. 235-254.

[21] DEMIER, Felipe. O longo bonapartismo brasileiro (1930-1964): autonomização relativa do Estado, populismo, historiografia e movimento operário. Tese de doutorado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2012.

[22] Desde 1962, quando rompeu com o SI e criou sua própria organização internacional, Posadas passou a defender o “monolitismo” como forma de funcionamento interno das seções de sua internacional (a “IV Internacional Posadista”). Segundo Posadas, sob o “monolitismo”, o “centralismo democrático” deveria operar numa proporção de 90% de centralismo e de 10% de democracia.

[23] Depoimento de Boris Fausto a Murilo Leal, 3 de janeiro de 1996, p.1. Acervo CEMAP, CEDEM/UNESP, São Paulo.

[24] Idem, p. 13-14.

[25] LEAL, Murilo. “Idéias políticas…”. Op. cit., p. 158.

[26] LEAL, M. À esquerda da esquerdaOp. cit., p. 40, 90 e 93-95.

[27] Depoimento de Ruy Fausto a Murilo Leal. Paris, 2 de junho de 1996, p.5. Acervo CEMAP, CEDEM/UNESP, São Paulo.

[28] Quando da vitória eleitoral de Fernando Henrique Cardoso sobre Luís Inácio Lula da Silva no pleito presidencial de 1994, Weffort, que havia sido um dos organizadores do candidato petista, aceitou, surpreendentemente, o convite do vitorioso para estar à frente do Ministério da Cultura, ocupando assim o cargo de ministro durante os dois mandatos de FHC (1995-2002).

[29] Depoimento de Ruy Fausto a Murilo Leal, p. 11.

[30] Idem, p. 21-22.

[31] Entrevista de Ruy Fasto a Felipe Demier. Paris/Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2007. Entrevista realizada por via eletrônica (email).

[32] Depoimento de Ottaviano De Fiori a Murilo Leal. São Paulo, 17 de julho de 1996, p. 17. Acervo CEMAP, CEDEM/UNESP, São Paulo. Talvez não seja escusado lembrar aqui que a obra de Trotsky mencionada acima é justamente uma das que contém análises do revolucionário sobre a questão do bonapartismo (conceito que, segundo acreditamos, é a matriz da ideia de populismo. Ver DEMIER, Felipe. O longo bonapartismo brasileiro. Op. cit.

[33] Acreditamos que se trata da ruptura de Weffort com o PCB.

[34] Depoimento de Hersch Basbaum a Murilo Leal. São Paulo, 17 de julho de 1996, p. 13-14. Acervo CEMAP, CEDEM/UNESP, São Paulo. Grifos nossos. No interessante depoimento, Basbaum lembrou, por exemplo, de seu contato na época com Paul Singer (“que não era trotskista”) e sua então mulher Eveline Singer (que “era trotskista”). O depoente recordou-se ainda de Maurício Tragtenberg, a quem definiu como “um trotskista muito bacana”. (Idem, p. 14.)

[35] Idem, p. 14-15.

[36] Entrevista de Leôncio Martins Rodrigues a Felipe Demier. São Paulo/Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2007. Entrevista realizada por via eletrônica (email). Grifos nossos. A curiosa reunião que teve entre seus participantes Posadas e FHC. foi mencionada também por Murilo Leal (LEAL, M. À esquerda da esquerda. Op. cit., p. 94-95). Dainis Karepovs aponta como, nos anos 90, a grande imprensa produziu matérias de tom anedótico acerca das falhas de espionagem cometidas pelos serviços de informação do Estado brasileiro (KAREPOVS, D. Luta subterrânea. O PCB em 1937-1938. São Paulo: Unesp/Hucitec, 2003., p. 58, nota 7.). Uma destas matérias citadas por Karepovs é a intitulada “Para Deops paulista, [Fernando Henrique] Cardoso era trotskista”, publicada no Jornal do Brasil em 7 de dezembro de 1994. Entretanto, ainda que F. H. C. nunca tenha sido de fato um trotskista, os seus contatos com o POR e com Posadas, maior liderança trotskista latino-americana dos anos 50, não são aspectos totalmente insignificantes a ponto de serem ignorados quando de uma investigação feita por um órgão de espionagem sobre um possível “subversivo”. Nesse sentido, mesmo que a conclusão do Deops paulista sobre o ex-presidente seja, na essência, equivocada, talvez o deboche da imprensa nesse caso não se justifique; possivelmente, os “arapongas” do Estado tenham sido nessa ocasião menos incompetentes do que supõem nossos jornalistas da grande imprensa.

[37] Como já dissemos, Leôncio abandonou a organização por volta de 1957.

[38] Entrevista de Leôncio Martins Rodrigues a Felipe Demier.

[39] LEAL, M. À esquerda da esquerdaOp. cit., p. 110 e SILVA, Luiz Fernando da. Pensamento social brasileiro. Marxismo acadêmico entre 1960 e 1980. São Paulo: Corações & Mentes, 2003. p. 30.

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