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Especiais

Eleições 2020: precisamos falar sobre a chapa DEM-PDT em Salvador e em outras cidades

Os critérios de composição de alianças eleitorais segue sendo uma discussão fundamental no conjunto dos partidos de esquerda brasileiros

André Freire, do Rio de Janeiro, RJ

No início desta semana, o PDT confirmou a aliança com o DEM para a disputa da prefeitura da capital baiana. Lembrando: o DEM dirige esta importante prefeitura já há dois mandatos, tendo ACM Neto como atual prefeito.

Para as eleições de 2020, como a legislação brasileira impede um terceiro mandato consecutivo, a chapa da situação vai ser encabeçada pelo atual vice-prefeito, Bruno Reis (DEM), tendo a ex-secretária municipal de Promoção Social, Ana Paula Matos (PDT), como candidata a vice-prefeita.

Este fato tem uma dimensão política nacional. Seja pela importância de Salvador, a terceira cidade com maior número de habitantes do país; seja porque o atual prefeito, ACM Neto, é o presidente nacional do DEM; e, principalmente, porque este acordo não é uma tática apenas local, mas expressa nitidamente a política nacional do PDT para a construção de uma alternativa ao governo Bolsonaro.

A presença e o discurso de Ciro Gomes, pré-candidato do PDT a presidência da república, na convenção deste partido em Salvador, esta semana, não deixam dúvidas deste fato. Ciro não só apoiou a aliança soteropolitana, como convidou o DEM e o seu presidente nacional e atual prefeito, ACM Neto, para construção de uma alternativa comum para as eleições presidenciais de 2022.

Este não foi mais um discurso improvisado e descuidado de Ciro Gomes. Ao contrário, o caso aí é bem pensado. Tem uma relação direta com a tal estratégia da chamada frente ampla, que defende que a esquerda deve entregar a direção política da oposição a Bolsonaro a velha direta, inclusive a seus partidos mais tradicionais, se disciplinando ao programa e a agenda liberal.

O PDT de hoje, na maioria dos Estados, está mais para uma “legenda de aluguel” do que para um partido que pode ser identificado como de esquerda. Mas, chama ainda mais atenção que partidos de esquerda, como o PCdoB, e até setores da direção do PT, defendam a repetição da mesma política de conciliação de classes para as eleições de 2020 e 2022. Não podemos esquecer que o golpista e reacionário Michel Temer (MDB) era o vice da ex-presidente Dilma (PT), desde o seu primeiro mandato.

Segundo a estratégia da frente ampla, a esquerda deve buscar alianças eleitorais até com partidos (e lideranças políticas) que apoiaram o golpe parlamentar do impeachment sem crime de responsabilidade comprovado da ex-presidente Dilma (PT); o governo ilegítimo e destruidor de direitos de Michel Temer (MDB); e que mantém atualmente uma relação – na prática – de colaboração no Congresso Nacional com a aplicação da agenda ultra liberal de retirada de direitos sociais de Guedes e Bolsonaro.

Não custa recordar que o atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, é um dos chefes políticos mais importantes do DEM. Sua gestão é marcada pelo apoio e implementação das contrarreformas neoliberais, principalmente como a Trabalhista (no governo Temer) e a Previdenciária (no atual governo), e pelo fato de ter se negado a dar prosseguimento a mais de 40 pedidos de Impeachment contra Bolsonaro, que está envolvido em vários crimes de responsabilidade.

De fato, o PDT virou uma mera peça no tabuleiro no jogo de disputa de poder de Ciro Gomes. Por isso, o PDT se nega qualquer aliança eleitoral com o PT, visto como um concorrente direto de Ciro em 2022, e prioriza alianças políticas com partidos que buscam se apresentar como de centro ou mesmo com partidos da direita tradicional.

Para que não reste dúvida, vale observar com atenção a declaração do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, à imprensa baiana: “Apoiamos o PT em quatro eleições estaduais sucessivas. Nós achamos agora que é hora de mudança, de avançar. Vejo que Neto hoje, na Bahia e em Salvador, representa esses novos ares pra sociedade brasileira”.

Não há dificuldades para Ciro Gomes (e o PDT) implementar está política, até porque, em última instância, não há nenhuma contradição fundamental entre seu programa e o da direita liberal e reacionária. Não é atoa que a mesma composição de alianças se repete em outras cidades importantes, como Fortaleza (CE) e São Luiz (MA).

Mais uma vez, não se trata de defender a direção do PT e os graves erros políticos e programáticos deste partido nos seus 13 anos de governo federal ou em governos estaduais, como no da Bahia. Se trata sim, de lutar conscientemente por uma superação pela esquerda do projeto de conciliação de classes, e não cair numa aliança com um projeto ainda mais atrasado para a esquerda brasileira.

Os debates no PSOL sobre as alianças eleitorais

É inegável o fortalecimento do PSOL com uma nova alternativa de esquerda, nos últimos anos, em nosso país.

Com apenas 15 anos de vida legal, o partido soube se colocar como oposição de esquerda aos 13 anos de governos petistas de conciliação de classes, mas também não vacilou na luta contra o golpe parlamentar que tirou a petista Dilma da presidência da república, e na oposição radical a tudo que veio depois, seja o governo ilegítimo de Temer seja o governo chefiado por um neofascista como Bolsonaro.

Portanto, nas eleições deste ano, as candidaturas do PSOL para as Prefeituras de centenas de cidades brasileiras cumprirão um papel muito importante, tanto no combate frontal ao projeto de extrema direita do bolsonarismo, como na afirmação de uma alternativa de esquerda e socialista, que una o partido a parcelas importantes dos movimentos sociais brasileiros. Como estamos construindo coletivamente na campanha da chapa Boulos-Erundina para a prefeitura de São Paulo.

Entretanto, nem o PSOL está livre de estar cruzado por debates em relação aos critérios de composição das alianças eleitorais, que acompanham o partido desde os primeiros anos de sua fundação.

Por exemplo, quando um setor do partido, principalmente vinculados a corrente MES, defendeu que o PSOL apoiasse a candidatura de Marina Silva (naquela altura, filiada ao PV) para a Presidência da República, nas eleições de 2010. Proposta esta que felizmente acabou sendo derrotada. E, hoje, este mesmo setor interno no partido segue estimulando a ideia sobre a possibilidade de um acordo entre o PSOL e o Ciro Gomes.

Portanto, longe de ser um debate pertencente ao passado no partido, ele permanece atual. Principalmente diante da discussão sobre as alianças eleitorais deste ano.

Também nesta semana, a direção do PSOL formalizou uma aliança para prefeitura de Belém (PA), encabeçada pelo deputado federal do partido, Edmilson Rodrigues, onde está presente o mesmo PDT.

No Estado do Pará, este partido é dirigido majoritariamente por um setor do agronegócio. Não é um acaso que a convenção do PDT de Belém, que formalizou a aliança com o PSOL, foi realizada na sede da FAEPA, entidade patronal de grandes pecuaristas e produtores rurais, com a presença de Edmilson.

Seguimos acreditando firmemente que a defesa de alianças políticas e eleitorais com partidos que representam interesses de setores das grandes empresas é repetir o erro do caminho trilhado pelo PT, já nos anos que antecederam a chegada de Lula a presidência da republica, nas eleições de 2002.

Nossa saída é pela esquerda. Neste sentido, nossa campanha em SP é um exemplo muito importante. Defendemos uma aliança do PSOL com outros partidos e organizações com origem nos movimentos da classe trabalhadora e da juventude e, em primeiro lugar, com os movimentos sociais combativos, como o MTST e a APIB.