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OPRESSÕES

Não à chacina dos povos indígenas no Ceará

Por: Wagner Pires da Silva, de Fortaleza, CE
*militante da NOS Fortaleza

A mídia cearense e a nacional noticiou há poucos dias mais um caso de violência ocorrido na periferia da Região Metropolitana de Fortaleza. Um homem foi espancado e queimado. Mais um nome na estatística da violência de uma das capitais mais violentas do mundo, onde o massacre contra mulheres, negros, lgbts, e outros oprimidos é uma constante, seja pelas mãos do tráfico, seja pelas mãos da polícia, seja pelas mãos preconceituosas de uma tal “gente de bem”, que não é tão do bem quando se depara com aqueles que a seus olhos lhes parecem diferentes.

Seria mais um nessa estatística sim, se não fosse por um porém: a vítima era um índio. Um dos poucos membros dos povos indígenas remanescentes no Ceará. Atacado covardemente enquanto dormia, por homens que desejam tomar da tribo dele, os Pitaguarys, as parcas terras que ocupam.

O Ceará tem um passado sangrento. Os conquistadores do estado realizaram banhos de sangue terríveis para apossarem-se das terras de seus habitantes originais. Orgulhavam-se disso!

Durante as chamadas Guerras dos Bárbaros, foram massacrados milhares de índios para que o estado se tornasse um palco pacífico para as atividades agrícolas e comerciais. Massacre tão exaltado que até 1938, a cidade de Jaguaretama era oficialmente Riacho do Sangue, em alusão ao episódio em que o Rio das Pedras, teve suas águas tintas de sangue do índios da região, massacrados no local.

Hoje, poucas tribos resistem, cerca de 14 povos. Apenas os Tremembés, no litoral norte tem suas terras regularizadas. Os demais, de norte a sul do estado, ainda lutam para terem direito a sua terra e a preservação dos seus costumes. São tapebas, tabajaras, tapuias, kariris e muitos outros povos que convivem diariamente com condições de vida aviltantes e com as constantes tentativas de expulsão de suas terras, na busca desenfreada de incorporá-las a sanha da exploração imobiliária (nas áreas próximas às cidades) e da expansão do agronegócio.

Os pitaguarys resistem. Suas terras próximas à sede do município de Maracanaú e a situação de pobreza e indigência a que são submetidos os povos indígenas, deram à comunidade um aspecto de favela. Suas terras são alvo da ação de posseiros e de investidores que desejam criar balneários para atividades turísticas. Ameaças são uma constante na vida desses índios. Suas terras foram demarcadas, mas não estão homologadas pela União, por isso a sanha dos invasores em querer utilizar os mesmos métodos que são aplicados a 500 anos para lidar com as questões indígenas: expulsá-los a ferro e fogo.

O índio queimado era irmão de uma das lideranças indígenas. Fica claro a tentativa de intimidação. Ele sobreviveu. Mas muitos outros têm sucumbido, não só em terras cearenses mas em todo o Brasil. É preciso dar um basta. Os índios cearenses, que resistiram bravamente aos invasores de suas terras, os quilombolas que lutaram por sua liberdade, devem receber a solidariedade de todos os trabalhadores e oprimidos e juntos seguirmos todos contra a retirada de direitos.

Todo apoio aos povos originários. Somos todos Pitaguary!