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EDITORIAL

Massacre em Barcelona: Solidariedade com as vítimas!

Comissão Executiva de Izquierda Revolucionaria

19 de agosto de 2017

Publicado originalmente no site de Izquierda Revolucionaria

¡Abaixo o terrorismo jihadista e as intervenções imperialistas! ¡Vossas guerras, nossos mortos!

Na quinta-feira, 17 de agosto, as Ramblas de Barcelona se converteram no centro de um brutal ataque terrorista: uma van percorreu mais de meio quilômetro atropelando a centenas de pessoas em sua passagem. O saldo macabro de este ataque foi a morte de 13 pessoas, mais de 100 feridos, alguns em estado muito grave, e comoção na população da capital catalã que via impotente como uma jornada de férias podia se transformar em um pesadelo. O ataque, reivindicado imediatamente pelo [autodenominado] Estado Islâmico através de sua agência de notícias,  Amaq, teria uma réplica horas mais tarde nas ruas de Cambrils, Tarragona, onde cinco terroristas que preparavam um novo ataque foram mortos e uma mulher apunhalada por um deles morreria um dia depois. Em nome de Izquierda Revolucionaria e do Sindicato de Estudantes queremos manifestar toda nossa dor, apoio e solidariedade às vítimas, a seus familiares e amigos e a todos aqueles que viveram momentos de verdadeiro terror y temeram por suas vidas.

Hoje somos milhões de pessoas em todo o mundo, jovens e trabalhadores, que nos sentimos unidos àqueles que nessa ocasião viveram em carne própria o horror do terrorismo jihadista e também àquelas milhares de pessoas que protagonizaram a grande onda de solidariedade com eles: aqueles que aturaram longas filas para doar sangue, os que ofereceram suas lojas, carros, táxis e roupas para ajudar as vítimas. Uma amostra de verdadeira solidariedade com aqueles que nessa ocasião em Barcelona vivenciaram de perto a barbárie que nos últimos meses e anos sacudiram as ruas de Paris, Nice, Bruxelas, Manchester, Orlando… mas cujo horror é de sobra conhecido por milhões de pessoas inocentes em outras partes do mundo, no Oriente Médio, na África.

Claro que nesta ocasião tampouco faltaram os atos de Estado, as lamentações e chamados hipócritas podres por parte daqueles que instigaram e apoiaram guerras e intervenções imperialistas que arrasaram países inteiros para encher os bolsos de um punhado de multinacionais e garantir os interesses estratégicos das grandes potências. Sua aparente consternação pelo massacre em Barcelona parece não parece ser merecida pelas milhares de pessoas que morrem cada dia nas guerras de rapina, como a da Síria, Iraque, ou Afeganistão, guerras que o Partido Popular e os dirigentes da direita no Estado espanhol apoiaram junto com os “defensores da paz e a democracia” na Europa e nos EUA. Merkel, Hollande, Macron, Theresa May, Trump ou Rajoy… todos têm o mesmo objetivo que em seu tempo tinham Aznar, Blair e Bush, quando há já 14 anos lançavam a intervenção militar sobre o Iraque. Desde aquele tempo até agora o resultado é claro. Todas essas guerras patrocinadas potências ocidentais não trouxeram nem paz nem liberdade para esses países, mas a barbárie, morte e destruição, além dos milhões de morte e destruição, além de milhões de refugiados que, fugindo de uma realidade insuportável, são tratados de maneira inumana às portas da Europa.

Utilizar o terrorismo para semear o veneno do racismo e da  islamofobia

Já vimos em muitas outras ocasiões como os defensores de este sistema tentavam tirar proveito dos terríveis episódios que provocaram os ataques terroristas em distintas cidades. Sempre com as palavras “Liberdade”, “Democracia” ou “Estado de direito”, utilizaram esses ataques como desculpa para justificar medidas contra os jovens e os trabalhadores: cerceando nossos direitos democráticos ou semeando o terror e o veneno do racismo e a islamofobia.

Nesta ocasião, os porta-vozes da direita nos meios de comunicação não estiveram atrás, estimulando o racismo e o ódio contra os muçulmanos. Personagens como Alfonso Rojo afirmaram que “talvez haveria que cobrar agora dos políticos que potencializaram a emigração de hispano falantes para a Catalunha”, e Isabel San Sebastián relacionava diretamente terroristas com muçulmanos e dizia “Já os expulsamos daqui uma vez e voltaremos a fazer o mesmo”. Sem dúvida, essas declarações tão lamentáveis não são somente a expressão de pessoas individuais, mas representam o sentimento e a opinião, tanto neste como em outros temas, do Partido Popular e da direita.

Ao mesmo tempo, para os dirigentes do PP e de Ciudadanos, aa Casa Real e para todos aqueles que fazem grandes negócios por meio da guerra e a morte de milhões de pessoas, seu clamor contra o terrorismo é uma fachada que esconde interesses de classe muito concretos. Nenhum deles têm nenhum problema com os grandes negócios de armas concluídos entre o governo espanhol e a Arábia Saudita, mesmo quando é público e notório que o governo da Arábia Saudita financia para o [autodenominado] Estado Islâmico, autor desses atentados, e que uma grande parte das armas vendidas pelo governo espanhol são utilizadas na guerra do Iêmen. Tampouco têm nenhum problema coo regime turco de Erdogan, protetor do [autodenominado] Estado Islâmico durante muitos anos e com quem fecharam um acordo da vergonha a propósito dos refugiados.

Seus argumentos e sua hipocrisia para justificar guerras criminosas, assassinatos de inocentes e o ódio racista, ainda o encubram de indignação “antiterrorista”, não nos enganam. Sabemos de sobra os motivos de suas políticas, de seus cortes orçamentários, de sua austeridade, de seus ataques às liberdades democráticas, e assim o denunciamos. E os trabalhadores e jovens de Barcelona também o sabem, e por isso expulsaram os grupos fascistas dos atos de repúdio frente aos atentados. São vossas guerras, são nossos mortos!

O ataque terrorista e o Procés[1]

Os porta-vozes da burguesia não somente se pronunciaram desta forma tão hipócrita, racista e repugnante em nível individual. No dia seguinte ao ataque, o editorial do El País utilizava ambas as mãos nessa ocasião para atacar contra o Procés!, fazendo “um chamado ao Governo autônomo catalão e às forças políticas catalãs a que se coloquem ao serviço dos problemas reais da Catalunha” e que desta forma se acabe com a “quimera separatista”. Por incrível que pareça isso foi assim. Esses terríveis acontecimentos podem servir como desculpa para justificar que se cerceie o direito legítimo e democrático de um povo a decidir sobre o seu futuro.

Os argumentos mais grotescos entraram em cena contra o direito de autodeterminação e pela criminalização de todos aqueles que o defendem. Não lemos nenhum editorial do El País para falar sobre os “problemas reais da Catalunha”, como eles dizem. Os que afetam à maioria como cortes na saúde e na educação, a demissão de professores, a repressão às mobilizações sociais, os despejos. Sua hipocrisia não tem limites. Se não fosse suficientemente lamentável o veneno racista estimulado pela direita frente a esses atentados, também querem instigar as divisões e os enfrentamentos entre os jovens e os trabalhadores catalães e os do restante do Estado espanhol. Para os capitalistas qualquer desculpa é boa para dividir os oprimidos. Seja por meio da tática do medo, da xenofobia ou de qualquer outra desculpa. Mas sempre com o mesmo objetivo de que nos enfrentemos, os que somos iguais, os que saímos às ruas contra os ataques tanto da direita franquista do PP como da burguesia catalã que também procura unicamente defender seus privilégios. Aos que demonstramos a forca que temos quando lutamos juntos, querem que nos dividamos e nos enfrentemos.

O capitalismo é barbárie

Os terríveis assassinatos nas ruas de Barcelona e a repugnante reação dos capitalistas e de seus meios de comunicação voltam a demonstrar de forma clara a hipocrisia e a moral podre em que se baseiam este sistema e seus apoiadores. A partir da mão direita, da burguesia espanhola, catalã ou de qualquer outra parte do mundo, os trabalhadores e a juventude jamais conseguimos melhoras ou avanços. Os interesses de classe dos capitalistas não comportam direitos, liberdade, nem de dignidade. Por isso, os que realmente pagamos a conta pelas suas políticas, os que sofremos o terrorismo, a guerra, o desemprego e a pobreza temos que nos unir contra aqueles que nos condenam a um sistema de barbárie. Somente unindo as forças de todos os oprimidos sob a bandeira do socialismo internacionalista, por cima das fronteiras nacionais, religiões, cor da pele ou língua, poderemos acabar coo o horror e o desastre que o capitalismo significa para a imensa maioria da humanidade.

[1] Refere-se ao Processo Independentista da Catalunha