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EDITORIAL

O que está por trás do Distritão

16/08/2017- Brasília- DF, Brasil- Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o relator da reforma política, Vicente Candido, em sessão plenária que discute o projeto que torna crime hediondo o porte de arma de uso restrito Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Editorial 18 de agosto

Depois de dias de negociações às escondidas, a votação do projeto de Reforma Política foi adiada no plenário da Câmara dos Deputados. A nova data ficou para o próximo dia 22 (terça-feira). Rodrigo Maia (DEM), presidente da casa, justificou o adiamento afirmando que o quórum era muito baixo, o que aumentava o risco da medida não ser aprovada.

A bem da verdade, estão em jogo interesses inconfessáveis de deputados e partidos comprometidos com os grandes empresários e a corrupção. Nenhum deles é de interesse do povo trabalhador.

A mentira da modernização
A ampla maioria da população brasileira, com razão, não confia nos políticos, nos partidos, na presidência e no Congresso. Há um justo questionamento do sistema político e das instituições. Afinal, trata-se de um sistema controlado por grandes empresários, corruptos e reacionários.

Diante dessa crise, uma parcela da classe dominante embarcou em uma campanha hasteando hipocritamente a bandeira do combate à corrupção. O objetivo seria de “modernizar” o sistema político-partidário brasileiro. Essa “modernização”, ao invés de responder os anseios democráticos do povo, busca, na verdade, impor mais controle das cúpulas dos atuais partidos sobre o Congresso.

Se reeleger e salvar a própria pele
Já que a reforma política supostamente prejudicaria os partidos do dito “centrão” (um aglomerado de siglas de aluguel), por que então muitos desses apoiam a contrarreforma política?

Pois, de imediato, esse pode ser o único bote para que muitos parlamentarem se salvem em meio às investigações da Lava Jato e depois da aprovação de medidas tão impopulares, como a Reforma Trabalhista. Se aprovado o Distritão, as chances de reeleição crescem para muitos dos atuais parlamentares.

Junto disso, eles preparam uma grande manobra para enganar o povo. Vários partidos estão preparando uma mudança de nome, boa parte abandonando o “p” de partido para poderem se apresentar enquanto “novidade”. Por exemplo, o PMDB discute retornar ao nome de MDB. O DEM que já foi PFL agora irá mudar para MUDE (Movimento da Unidade Democrática). O PTdoB vai passar a se chamar Avante. O PTN agora é Podemos. O PSL, uma sigla comandada por neoliberais fanáticos, irá se chamar Livres. E o PEN, para receber Jair Bolsonaro, passará a se chamar Patriotas. Ou seja, os lobos, além de matar os cordeiros, estão se vestindo com suas peles.

Impedir uma renovação política à esquerda
Outro interesse em jogo com a Contrarreforma política é dificultar a possibilidade de que apareça uma nova alternativa à esquerda. A experiência com a aplicação de plano de austeridade fiscal na Europa fez com que a elite aprendesse. Lá as lutas contra os ataques fomentaram um processo de reorganização política à esquerda dos velhos partidos da ordem. O Podemos na Espanha é um exemplo desse fenômeno.

Portanto, também está na conta dos poderosos as manobras necessárias para impedir qualquer crescimento de alternativas à esquerda, como um possível fortalecimento do PSOL nas próximas eleições. A candidatura de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, nas eleições municipais de 2016, foi uma demonstração desse potencial.

Com os brutais ataques aos direitos e às condições de vida do povo em curso, a burguesia e os partidos da direita sabem do potencial de uma nova alternativa à esquerda. Nesse sentido, a Reforma Política em discussão no Congresso visa, entre outras coisas, bloquear essa possibilidade no âmbito eleitoral.

Foto: 16/08/2017- Brasília- DF, Brasil- Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o relator da reforma política, Vicente Candido, em sessão plenária que discute o projeto que torna crime hediondo o porte de arma de uso restrito
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil