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EDITORIAL

Temer compra deputados para afastar denúncia

01/08/2017- Brasília- DF, Brasil- Reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA. Foto: Marcos Corrêa/PR

Os deputados estão voltando do recesso parlamentar e vão apreciar em plenário o pedido de investigação do presidente Temer feito por Janot (PGR), em razão dos áudios denunciados pelos irmãos Joesley, donos da mega corporação JBS – Friboi.

O relatório do deputado Paulo Abiackel, do PSDB, que foi aprovado na CCJ e que não autoriza o STF analisar a denuncia contra o presidente Michel Temer, deve ser lido nessa terça e a sessão de votação está marcada para essa quarta-feira, dia 2. A votação só pode começar quando o painel registrar a presença de 342 deputados, que é o mesmo número de votos necessários para autorizar que o Supremo analise a denuncia de corrupção passiva.

Os deputados serão chamados por ordem alfabética, e por estado. Vão ter que dizer no microfone se são a favor ou contra a investigação de Temer. Caso a Câmara dos Deputados aprove a abertura da investigação, caberá aos 11 ministros do STF decidir se a corte acolherá a denuncia. Em caso positivo, Temer seria afastado por 180 dias e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM – RJ), assumiria interinamente o comando do país.

A ultima pesquisa IBOPE, publicada alguns dias atrás, demonstrou que mais de 80% da população quer que o presidente seja investigado pelo STF. Por muito menos, a Câmara de Deputados aprovou o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef em abril do ano passado. Se os deputados tivessem alguma coerência e se ouvissem a vontade do povo, votariam não só o pedido de investigação de Temer mas também a favor dos vários pedidos de impeachment que já existem contra o atual presidente.

Acontece que centenas de deputados estão envolvidos nos mesmos esquemas de corrupção que o presidente Temer, muitos deles tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras e pela Friboi em doações legais e ilegais. Além disso, a ” campanha” do presidente Temer para se salvar inclui promessa de bilhões de reais para emendas parlamentares e projetos em municípios e estados, criação de cargos comissionados e o atendimento de demandas especificas das bancadas da bala, do boi e da bíblia.

Os ministros que são deputados estão sendo convocados a voltarem à Câmara para votar a favor do presidente e para ajudar nas articulações com outros deputados. Muitos deputados, ao perceberem a fraqueza do governo, se dizem indecisos até o ultimo momento para poder chantagear e barganhar um pedacinho do esquema.

Entre o inicio de junho e o final de julho, o governo destinou R$ 4,1 bilhões para esse fim. No acumulado do ano até maio – antes do caso da JBS -, o governo havia empenhado apenas pouco mais de 100 milhões de reais. De acordo com a ONG contas abertas, trinta e seis dos quarenta deputados que votaram a favor do presidente na CCJ foram contemplados com R$ 134 milhões. O campeão foi justamente o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que apresentou o novo relatório favorável ao presidente. No total ele deve receber R$ 5,1 milhões.

O cinismo do governo e dos deputados é escandaloso: fazem amplo discurso a favor de um ajuste fiscal que impõem grandes sacrifícios ao povo, mas gastam bilhões para comprar deputados. É realmente revoltante! Enquanto está em curso essa compra milionária de deputado no congresso nacional, o país conta com mais de 14 milhões de desempregados, os serviços públicos estão destruídos e a violência urbana só aumenta em todo país.

Os deputados governistas sabem que o esquema montado está dando certo e avaliam já ter o numero suficiente para impedir a investigação. Por isso, querem uma votação rápida. A oposição está em dúvida sobre o que fazer, pois avalia que não tem o numero suficiente para derrotar Temer. Então, restaria a possibilidade de adiar a votação para aprofundar o desgaste do governo. Seja lá qual for a tática da oposição, sem grandes mobilizações de rua pedindo a cabeça de Temer, muito provavelmente o governo conseguirá, pelo menos nessa primeira denúncia, salvar Temer para que o congresso siga aprovando a agenda do capital.