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EDITORIAL

Por que Temer não cai?

27/06/2017- Brasília- DF, Brasil- Presidente Michel Temer durante pronunciamento com parlamentares que apoiam o governo. Foto: Lula Marques/AGPT

Editorial 3 de julho

Esta pergunta é cada vez mais presente nas rodas de conversa dos ativistas que lutam contra o governo ilegítimo de Temer. E, também, a parcela mais consciente do povo trabalhador e da juventude já começa a fazer o mesmo questionamento.

Como o governo golpista, que exibe nas pesquisas de opinião a menor popularidade de toda a história nacional, com o próprio presidente envolvido “até o pescoço” em escândalos de corrupção, ainda se mantém à frente do Palácio do Planalto?

Sua principal bandeira de gestão, as reformas constitucionais que retiram direitos dos trabalhadores e da maioria do povo, também é amplamente rejeitada pela maioria da população. Porém, mesmo assim, segue tramitando no Congresso. Inclusive, existe a terrível ameaça de que nesta semana o Senado Federal possa aprovar a famigerada Reforma Trabalhista.

Dificilmente a grave crise política que marca a conjuntura brasileira conseguirá ser explicada por um único fator. Com certeza, uma explicação que se aproxime minimamente da realidade vai exigir recorrer a múltiplos aspectos e, principalmente, à combinação entre eles.  Sugerimos alguns aqui, apenas para abrir o debate:

Grandes empresas apoiam as reformas reacionárias de Temer
A esmagadora maioria dos grandes empresários apoiaram o golpe parlamentar do Impeachment e os primeiros momentos do governo ilegítimo de Temer. Isso pode ser explicado facilmente. A grande burguesia via nesse governo mais condições para impor medidas e reformas constitucionais que retiram direitos da maioria da população.

A aprovação de duras medidas no Congresso contra o povo trabalhador, como o congelamento dos gastos sociais, a Reforma do Ensino Médio e a ampliação da terceirização do trabalho para as atividades fins, confirmava essa aposta sinistra dos ricos e poderosos.

Mas, a ampliação das lutas de resistência dos trabalhadores e da juventude por um lado e os absurdos escândalos de corrupção envolvendo diretamente Temer, por outro, principalmente a partir da delação da JBS, fizeram tremer a estabilidade aparente conquistada nos primeiros meses de governo.

Hoje, existe divisão no andar de cima. Alguns setores querem ainda manter Temer para seguir atacando as conquistas e direitos do povo trabalhador. Outros já começam a desembarcar do apoio ao governo por entender que ele não tem mais condições de aplicar as reformas reacionárias na intensidade e ritmos necessários, especialmente a Reforma da Previdência, que exige maioria qualificada no Congresso.

Mesmo com essa divisão, que pode ser verificada até em posturas distintas dos grandes meios de comunicação, não existe uma alternativa conservadora já consolidada. Então, para a maioria da burguesia, vale ainda a máxima “Ruim com Temer, pior sem ele”.

Mas, atenção, esse cenário pode mudar. O fracasso na aplicação das reformas, o crescimento da resistência popular, ou mais fatos incontestes sobre o envolvimento de Temer em escândalos de corrupção podem alterar esta situação de impasse.

E aí, vai crescer a possibilidade de um ‘golpe dentro do golpe’, que seria a saída de Temer para a eleição de um novo presidente pelo Congresso, de forma indireta, para aprofundar a aplicação dos ataques e reformas reacionárias.

Maioria dos partidos quer se salvar dos escândalos de corrupção
Uma parcela do Judiciário, especialmente os procurados e juízes ligados à operação Lava Jato, apostam em outra saída, também conservadora, que quer como conclusão dos processos de apuração dos escândalos um governo chamado de “técnico”, ou seja, ainda mais conservador e comprometido também com a aplicação das reformas reacionárias.

Não podem ir até o fim na luta pela corrupção, porque também estão comprometidos com esse sistema capitalista. Por exemplo, seguem preservando intactos os interesses econômicos das grandes empresas corruptas.

Diante deste quadro de crise, a maioria dos partidos da velha direita, como o PMDB, PSDB e DEM, entre tantos outros, hoje atuam, no cenário político, muito mais preocupados em salvar seus dirigentes, pois existe um amplo envolvimento das cúpulas partidárias nos escândalos de corrupção.

O grande exemplo do momento é o PSDB, que vive a maior crise de sua história, principalmente com a exibição pública das falcatruas e crimes de Aécio Neves, seu principal dirigente e figura pública nos últimos anos. Seguem como parte do governo de Temer, antes de tudo para tentar salvar Aécio e boa parte de seus dirigentes.

Direções majoritárias do movimento apostam na via eleitoral e da negociação
As direções da maioria das Centrais Sindicais estiveram à frente da greve geral do dia 28 de abril. Mas, desde então, não tiveram uma política de aprofundar a mobilização rumo a uma nova greve geral ainda mais forte do que a realizada em abril passado.

Uma parte delas, como a Força Sindical e a UGT, são dirigidas por integrantes da base política de Temer e operam uma negociação no Congresso Nacional para aceitar um pequeno abrandamento das reformas reacionárias, como se isso fosse possível, em troca da manutenção do imposto sindical.

Outras, como a CUT e a CTB, ligadas respectivamente ao PT e ao PCdoB, apostam na via eleitoral como principal ferramenta, querendo desgastar Temer para preparar a campanha eleitoral de 2018, seja com Lula como candidato presidente, caso ele não seja impedido de concorrer, ou com outro candidato, como Ciro Gomes.

Foi por isso que assistimos, desde o final de abril até hoje, início de julho, à vacilação destas direções majoritárias em marcar outra greve geral. Depois de muita vacilação, se marcou a greve geral do dia 30 de junho, para depois mudarem seu caráter, para dia nacional de lutas e paralisações.

Apostar nas eleições de 2018 como a principal estratégia, ou na via morta das negociações das reformas no Congresso Nacional, é “entregar totalmente o jogo”, preparando, na prática, a derrota da luta contra a retirada de direitos e pelo “Fora Temer, Já”.

Unir as lutas rumo a uma nova greve geral
Nosso objetivo deve ser transformar em ação toda a indignação da maioria da população contra Temer, suas reformas reacionárias e a corrupção.

Apesar de toda a vacilação das direções das centrais sindicais majoritárias, assistimos, no dia 30 de junho, a um forte dia nacional de luta e paralisações, especialmente com a realização de grandes manifestações populares nas grandes cidades e verdadeiras paralisações gerais em várias capitais brasileiras.

O povo trabalhador e a juventude não têm outro caminho. Temos que apostar na intensificação do processo de mobilização, unindo cada vez mais as nossas lutas, rumo a uma nova greve geral, ainda mais forte do que a realizamos em abril passado.

As centrais sindicais mais combativas, como a CSP-Conlutas, e os movimentos sociais como o MTST, e todos os movimentos agrupados na Frente Povo Sem Medo, devem seguir cobrando das centrais sindicais majoritárias a convocação de uma nova greve geral o mais rápido possível. Precisamos da mais ampla unidade do povo trabalhador para derrotar os ataques e esse governo de canalhas, ladrões e reacionários.

Mas, para além da luta necessária pela mais ampla unidade de ação do movimento da classe trabalhadora e da juventude, devemos discutir que ações são possíveis serem realizadas, impulsionadas pelas organizações e movimentos que, de fato, estão apostando na via da luta direta para derrotar Temer e seus ataques.

E, da mesma forma, devemos apostar na construção de uma nova alternativa política de independência de classe, que se construa radicalmente contra a velha direita, mas também contra a política da direção do PT de alianças com as grandes empresas.

Essa construção começa desde já, apostando na construção de mobilizações cada vez maiores e na discussão coletiva de um programa para o país, uma saída anticapitalista e do povo trabalhador para a crise que estamos vivendo.

Foto: Foto: Lula Marques/AGPT