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EDITORIAL

Machismo na Globo: José Mayer perdeu

Editorial 05 de abril

Foi o assunto de ontem nas redes sociais. Parece que o “machismo invisível” começa a sair das “quatro paredes” e tornar-se público. Ganhamos visibilidade. É o que mostra a denúncia feita pela corajosa figurinista Susllem Meneguzzi Tonani contra José Mayer. Ele, ator famoso, rico, branco, o típico garanhão da principal emissora de TV do país. Ela uma mulher jovem, figurinista, pessoa dos bastidores, como tantas vezes as mulheres são na própria vida. Este caso mostra que alguma coisa mudou. A denúncia veio à tona e venceu a versão da vítima.

O ator José Mayer assumiu que a acusação de ter assediado sexualmente uma funcionária da Rede Globo é verdadeira. Em uma carta, ele pediu desculpas e disse que é de uma geração que aprendeu a ser machista. O assunto é banal? Se trata apenas de fofoca de celebridade? Com certeza não.

E é necessário responder as desculpas que o ator global deu. Dizer que é de uma geração que aprendeu a ser machista é uma justificativa tosca. Agredir mulheres é e sempre foi errado. Para saber disso, basta ter empatia por outro ser humano. Isso ele deveria ter aprendido independente da geração a que pertence.

Um caso desses, que envolve uma celebridade, encoraja mais mulheres a denunciar abusos. Por isso é importante dar apoio e ajudar a expor alguém como José Mayer. Se trata de uma questão política sim. O assunto é grave. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, 52% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio sexual no ambiente de trabalho.

A solidariedade de atrizes famosas e a visibilidade dada pelo Blog da Folha “Agora é que são elas” foi importante. Mas não explica o ocorrido. É impossível entender este episódio fora do contexto da luta de milhares de mulheres, do surgimento de um movimento internacional expressivo, da grande adesão ao 8 de março de 2017. Tudo isso criou uma reação progressiva que ganhou milhares de pessoas para a ideia de que não se pode tolerar o machismo.

Estamos longe de dizer: “viramos o jogo”. Com a flexibilização dos direitos trabalhistas proposta pelo governo Temer, o poder de chantagem dos patrões aumenta e a situação tende a piorar. Com a lei de terceirização ilimitada sancionada recentemente pelo presidente, a punição dos assediadores vai ficar mais difícil. Uma ação trabalhista de um trabalhador terceirizado pode durar até quatro anos a mais e tem menos chance de vitória. O pacote de maldades do governo contra os trabalhadores é especialmente machista. São as mulheres que ganham os piores salários, estão nos postos mais precários e correm o maior risco de demissão. Serão elas as primeiras a sofrer. E o assédio sexual no trabalho é uma face dessa brutalidade.

Neste caso, será preciso acompanhar qual será a postura da Globo com a figurinista Susllem Meneguzzi Tonani, ela deveria ter no mínimo estabilidade no emprego. Esta seria uma medida mínima, de segurança econômica, para que depois do escândalo a mulher não se torne vítima pela segunda vez.

Esta história deve servir para que centenas de outras mulheres assediadas no seu local de trabalho sintam-se mais fortes. É tempo de romper o silêncio.

Foto: Globo/Divulgação